Santo Agostinho relata em seu livro, “As Confissões”, os últimos diálogos que teve com sua mãe, Santa Mônica. Não era um diálogo filosófico, era a filosofia da vida que cultuavam com simplicidade. Falavam da vida futura, depois de ter conquistado, em vida, a alegria de ver os resultados de suas preces por seu filho sem fé. Agora o tinha na fé e até mais, no ministério. Ela se sentiu mal e, entre outras coisas, disse que não se preocupassem em enterrá-la fora da pátria. Mas pedia que se lembrassem dela no altar de Deus nas celebrações. Ela nasceu em 332 e morreu 387. Viveu 56 anos. Vejamos que estamos no início do Cristianismo. Havia já a liberdade para o culto cristão (a.313). Mas era muito cedo para haver tantas doutrinas estabelecidas. Por que pede que reze por ela no altar de Deus? Já havia uma consciência clara da utilidade da oração pelos mortos, sobretudo durante a Eucaristia. Na verdade, Santa Mônica, conhecia o culto pelos mortos na sociedade romana, chamado refrigerium (descanso). Era uma refeição feita junto ao túmulo do falecido. Não era novidade falar de orações pelos mortos. Dizemos: “Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno”. Que tenham um lugar de descanso (refrigério) e paz. A Ressurreição de Jesus nos dá a segurança que Ele ressuscitará os que morreram. Não foi logo que se começou a fazer uma oração especial. Mas era algo normal rezar pelos mortos. Como a partir do século IV se celebravam todos os santos mártires e, que se estabilizou no dia primeiro de novembro, a partir do ano 1000 e tomou o dois de novembro como dia de fazer memória de todos os falecidos.
Morte que conduz à vida
Meditando a celebração podemos encontrar sustento para nossa vida que parece tão frágil. Por que viver? Para morrer? A morte está presente. A Palavra de Deus nos mostra igualmente que a morte tem seu sentido na vida que ela dá. Lemos que Jesus explica que a vida eterna é uma decisão do Pai para todos: “Esta é a vontade do meu Pai: que toda a pessoa que vê o Filho e Nele crê tenha a vida eterna e, Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,40). A missão de Jesus é conduzir todos à Vida que dura para sempre. Por isso a morte tem a ver com a vida que segue. Rezar pelos mortos é crer na vida de todos. Rezamos pelos mortos porque cremos no Corpo de Cristo que une a todos. Os membros mais fortes fortalecem os mais fracos. A noção de Corpo Místico de Cristo justifica a intercessão dos Santos e nossa intercessão pelos mortos. É uma coisa de família. Queremos a vida plena para todos. Não sabemos detalhes da vida dos que foram. Se necessitam de nossa oração para seu descanso, nós o fazemos, como toda a história da Igreja traduz.
Enquanto esperamos a glória que leva à vida
O salmo 26 nos leva a rezar essa verdade quando coloca em nossos lábios: “Ao Senhor eu peço somente uma coisa e, é só isto que eu desejo: habitar no santuário do Senhor por toda a minha vida”. A leitura de Isaías nos ensina: “Ele removerá, neste monte, a ponta da cadeia que ligava todos os povos, a teia em que tinha envolvido todas as nações” (Is 25,7). Toda oração pelos mortos está nos colocando em caminhada segura para esse encontro com o Senhor: “Escutai com bondade as nossas preces e aumentai a nossa fé no Cristo ressuscitado, para que seja mais viva a nossa esperança na ressurreição dos vossos filhos e filhas” (Oração). Crendo na Ressurreição manifestamos nossa fé na força da oração pelos mortos que vivem essa passagem terrena para a vida celeste. Não deixemos de rezar pelos mortos. Um dia outros rezarão por nós.
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