Evangelho segundo São Lucas 12,13-21.
Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo».
Jesus respondeu-lhe: «Amigo, quem Me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?».
Depois disse aos presentes: «Vede bem, guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens».
E disse-lhes esta parábola: «O campo dum homem rico tinha produzido excelente colheita.
Ele pensou consigo: "Que hei de fazer, pois não tenho onde guardar a minha colheita?
Vou fazer assim: deitarei abaixo os meus celeiros para construir outros maiores, onde guardarei todo o meu trigo e os meus bens.
Então poderei dizer a mim mesmo: minha alma, tens muitos bens em depósito para longos anos; descansa, come, bebe, regala-te".
Mas Deus respondeu-lhe: "Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para quem será?"
Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus».
Tradução litúrgica da Bíblia
(330-390)
Bispo, doutor da Igreja
Sobre o amor aos pobres, 24-36
Considera a igualdade original da família humana
Quando acumulam ouro, prata, roupas sumptuosas mas inúteis, diamantes e outras coisas parecidas, que dão origem à guerra, à discórdia e à tirania, os homens, tomados por uma arrogância louca, fecham o coração às desgraças dos seus irmãos, não dando sequer do que lhes sobra para aliviar as misérias dos outros. Estúpida aberração!
Não percebem que a pobreza e a riqueza, a liberdade – como lhe chamamos – e a condição servil, bem como outras categorias semelhantes, chegaram tarde ao meio dos homens, irrompendo como epidemias ao mesmo tempo que o pecado de que eram consequência. «Mas no princípio não foi assim» (Mt 19,8); no princípio, o Criador deixou o homem livre e senhor de si mesmo, preso a um único mandamento e rico com as delícias do paraíso. Deus quis isto para todo o género humano, saído do primeiro homem. A liberdade e a riqueza dependiam da observância de um único mandamento; a violação deste mandamento conduziria à verdadeira pobreza e à servidão.
Desde o advento da inveja e da contenda, com a astuta tirania da serpente que nos seduz com o prazer e opõe os mais ousados aos mais fraco, a família humana dividiu-se em nações estranhas entre si; e a avareza suplantou a generosidade natural, utilizando a lei para dominar pela força.
Tu, porém, considera a igualdade primitiva e não as divisões posteriores, a lei do Criador e não a dos poderosos. Ajuda a natureza o melhor que puderes, honra a liberdade original, respeita-te a ti mesmo, protege a tua raça da desonra, ajuda-a na doença, consola-a na pobreza. Distingue-te dos outros apenas pela tua bondade. Torna-te Deus para os infelizes, imitando a misericórdia divina.

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