A Vida de Panfílio, escrita por Eusébio, se perdeu, mas por seu “Mártires da Palestina” aprendemos que Panfílio pertencia a uma nobre família de Beirute (na Fenícia), onde recebeu uma boa educação, e que abandonou sua terra natal após vender todas as suas propriedades e dá-las aos pobres. Ele se uniu aos “homens perfeitos”. De Fótio, que tomou suas informações da “Apologia de Orígenes”, de Panfílio, aprendemos que ele foi pra Alexandria onde seu professor era Piétrio, então o diretor da famosa Escola Catedrática.
Ele finalmente se estabeleceu em Cesaréia onde foi ordenado padre, coligiu sua famosa biblioteca, e estabeleceu a escola para o estudo teológico (Eusébio, “Hist. Eccl.”, VII, xxxii, 25). Devotou-se principalmente a produzir cópias acuradas da Sagrada Escritura. Testemunhos de seu zelo e cuidado em seu trabalho são encontrados nos manuscritos. São Jerônimo (De Vir. Ill., lxxv) diz que Panfílio “transcreveu a maior parte dos trabalhos de Orígenes de seu próprio punho”, e que “essas transcrições ainda estão preservadas ma biblioteca de Cesaréia.” Ele mesmo era proprietário dos “vinte e cinco volumes dos comentários de Orígenes”, copiados por Panfílio, que ele via como a mais preciosa relíquia do mártir. Eusébio (Hist. Eccl., VI, xxxii) fala do catálogo da biblioteca contido em sua Vida de Panfílio. Uma passagem da Vida, mencionada por São Jerônimo (Adv. Rufin, I, ix) descreve como Panfílio sustentou estudantes pobres em suas necessidades, e não apenas emprestou, mas deu a eles cópias da Escritura, das quais mantinha um imenso suprimento. Da mesma forma, ele concedeu cópias a mulheres devotadas ao estudo. O grande tesouro da biblioteca em Cesaréia era a cópia da Hexapla do punho do próprio Orígenes, provavelmente a única cópia completa que ele fez. Foi consultada por São Jerônimo (“In Psalmos Comm.”, ed. Morin, pp. 5, 21; “In Epist. As Tit.”). A biblioteca certamente existia no sexto século, mas provavelmente não sobreviveu à tomada de Cesaréia pelos Sarracenos em 636 (Swete, “Introd. To O.T. in Greek”, 745).
A perseguição de Diocleciano começou em 303. Em 306 um homem chamado Afiano interrompeu o governador no ato de oferecer sacrifício, e pagou por seu atrevimento com um terrível martírio. Seu irmão Edésio, também um discípulo de Panfílio, sofreu o martírio aproximadamente no mesmo período em Alexandria em circunstâncias similares. A hora de Panfílio chegou em Novembro de 307. Ele foi trazido diante do governador e, ao se recusar a sacrificar, foi cruelmente torturado, e então mandado para a prisão. Lá, ele continuou copiando e corrigindo os manuscritos. Também compôs, em colaboração com Eusébio, uma “Apologia de Orígenes” em cinco volumes (Eusébio, mais tarde, adicionou um sexto). Panfílio e outros membros de sua família , homens “no pleno vigor de mente e corpo”, foram sentenciados, sem mais torturas, a serem decapitados em Fevereirro de 309. Enquanto a sentença era dada, um jovem chamado Porfírio- “o escravo de Panfílio”, “o amado discípulo de Panfílio”, que “foi instruído na literatura e na escrita”-, exigiu os corpos dos confessores para enterro. Ele foi cruelmente torturado e morto, e as notícias de seu martírio foram mandadas a Panfílio antes de sua própria execução.
Da “Apologia de Orígenes” somente o primeiro livro resta, e numa versão latina feita por Rufino. Ela começa descrevendo a amargura extravagante do sentimento contra Orígenes. Ele era um homem de profunda humildade, de grande autoridade na Igreja de seu tempo, e honrado com o sacerdócio. Ele era, acima de tudo, ansioso por manter a regra de fé que veio dos Apóstolos. A ortodoxia de sua doutrina concernente à Trindade e à Encarnação é então justificada por excertos de seus escritos. A seguir, nove acusações contra seus ensinamentos são confrontadas com passagens de suas obras. São Jerônimo escreveu em seu “De Viris Illustribus” que havia duas apologias- uma de Panfílio e outra de Eusébio. Ele descobriu seu erro quando a tradição de Rufino apareceu no auge da controvérsia origenista, e chegou à conclusão de que Eusébio era o único autor. Ele acusou Rufino, entre outras coisas, de pôr sob o nome do mártir o que foi na verdade o trabalho do heterodoxo Eusébio, e de suprimir passagens não-ortodoxas. Para a primeira acusação há evidências abundantes de que a “Apologia” foi um trabalho conjunto de Panfílio e Eusébio. Contra a segunda pode ser mencionado o testemunho negativo de Fótio que leu o original; “Fótio que era severo com o excesso diante da mais leve semelhança de Arianismo, na apologia de Orígenes que ele havia lido em Grego” (Ceillier). Os Cânones do alegado Concílio dos Apóstolos em Antioquia foram atribuídos por seu compilador (do fim do quarto século) a Panfílio (Harnack, “Spread of Christianity”, I, 86-101). A atribuição a Panfílio, por Gemádio, do tratado “Contra Mathematicos” foi devida à má interpretação do prefácio de Rufino à Apologia. Um sumário dos Atos dos Apóstolos, entre outros escritos associados a Eutálio, trazem em sua inscrição o nome de Panfílio (P. G.m, LXXXIX, 619 sqq.).
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