O Evangelho de Jesus leva sempre à dimensão de futuro. Não se trata de fugir da realidade em uma posição espiritualista sem ter os pés no chão. O próprio Jesus, no julgamento final vai perguntar não pelo espiritualismo de nossas orações distantes das pessoas, mas por nossa espiritualidade que se concretiza na atenção que tivemos para com o próximo: “Tive fome, sede, estava doente e prisioneiro... o que fizestes ao menor dos irmãos foi a mim que o fizestes” (Mt 25). A relação espiritual passa pelo próximo de carne osso. A caridade - o amor em ação – e a exigência. Mas não se exclui a dimensão de futuro. Essa dimensão dá o sentido a tudo o que fizermos. Tudo toma sentido no porquê fazemos: porque o fazemos em nome de Jesus. É Ele quem o realiza em nós. Lançamos a âncora no futuro. Nada para aqui, mas nos leva à realização completa que se dará no futuro; começa-se aqui a “criar um novo céu e uma nova terra” (Ap 21,1). A oração, como respiração da alma, nos faz transpor os umbrais do tempo e entrar no eterno. Ela é relação com a Trindade que, presente em nós, nos endereça para o tempo definitivo. Tendo celebrado a festa da Ascensão, aprendemos que já estamos na glória com Ele. Ao rezarmos, já entoamos o canto que se canta nas moradas eternas. Jesus ao vir ao mundo no-lo deu. Tendo voltado ao Pai, deixou-nos essa oração para que realizássemos aqui, o que acontece na eternidade. A oração, qualquer que seja, tem a força que conduz ao fim. Jesus deixou em seus discípulos a expectativa de sua segunda vinda. Quando? Não é problema. Pode ser a qualquer momento. A oração é atitude vigilante de estar em acolhimento do Senhor que virá. Esperar vigilante na oração é ter as realidades futuras como um dom presente.
Começando sempre
“Quem crê em mim tem a vida eterna” (Jo 6,47). Jesus elimina a separação do mundo futuro e coloca em nós a dimensão de eternidade. Cada dia é um dia de começar a viver a vida eterna. “A vida eterna é que conheçam a Ti, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, Aquele que Tu enviaste” (Jo 17,3). A oração como resultado do conhecimento e fé em Jesus estabelece sempre a certeza da presença da vida eterna em nós e nos dá a capacidade de estar professando sempre ‘eu creio e, porque creio, amo e, porque amo, creio com maior entrega’. O fato de estar em oração é estar reiniciando sempre a novidade da vida em Deus. Sempre estamos começando algo completamente novo, pois o Deus que cremos é sempre uma eterna surpresa. Pelo fato de a oração nos ligar ao futuro, dá-nos a possibilidade de densificar sempre mais o presente. Não se trata de um bem saber, mas de um bem querer que nos introduz na sabedoria. A oração tem a finalidade de fazer-nos vivos diante de Deus. Cada dia é um renascer, cada prece é um reviver.
Não percamos a meta.
A oração, âncora lançada no futuro, é a bússola que não nos deixa perder a meta. Sabemos por ela de onde viemos e para onde vamos. É o fiel da balança a nos dar o equilíbrio entre o presente, que não nos aliena, e o futuro que não nos deixa afogar no cotidiano assoberbado. O homem que reza é uma pessoa livre e está acima da realidade. Aceita-a como fundamento, mas leva a realidade à plenificação. A oração conduz à eternidade na qual já participa.
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