Santo Eusébio era filho de pais piedosos e ricos; nasceu na ilha da Sardenha. Instruído nas ciências sacras e profanas em Roma, foi unido ao clero romano, quando São Silvestre governava a Igreja. Mais tarde foi destacado para Vercelli, no Piemonte, para dirigir aquela diocese. Segundo testemunho de Santo Ambrósio, foi o primeiro sacerdote secular do Ocidente que com este estado ligava o de sacerdote regular, e que obrigava o clero da cidade a levar uma vida quase de monges.
Eusébio vivia com o clero em comunidade. Pela oração e penitência, pediam-se as bênçãos de Deus para o trabalho da cura de almas. Além disso, estudavam os santos livros, trabalhavam nas paróquias e ocupavam-se de ofícios manuais. Referindo-se a este estado de vida, Santo Ambrósio disse: "Pode haver coisa mais maravilhosa? Tudo ali é digno de imitação. O rigor do jejum é compensado pela paz da consciência e pelo sossego da alma. O poder do bom exemplo sustenta a todos. O que mais custa à natureza, torna-se fácil pelo costume". Desta santa comunidade saiu uma série de excelentes bispos.
Esta vida em comum preparou Eusébio para as lutas que o esperavam, e deu-lhe força para sair vencedor de todas. Já em 355, apareceu a primeira dificuldade, quando o Imperador Constâncio convocou o Concílio de Milão, ao qual Eusébio se negou a comparecer, prevendo a preponderância que haveria de elementos arianos. Só quando recebeu o convite escrito do imperador, dos bispos arianos e católicos, prontificou-se a ir, mas com a declaração, de que agiria segundo a sua consciência e os ditames da justiça. Esta declaração determinou os membros do Concílio a dar-lhe acesso às sessões, bem como ao Legado do Papa, mas só no décimo dia, quando não havia mais nada a receber de sua presença. Ainda assim exigiram que assinasse uma bula, que continha a excomunhão de Santo Atanásio, a que se opôs enérgica e resolutamente, apelando para a assembléia que devia respeitar as resoluções do Concílio de Nicéia.
As sessões do Concílio foram então transferidas para os salões do palácio imperial, e foi ali que o imperador, com a espada em punho, exigiu peremptoriamente que assinasse aquele documento. Eusébio ainda assim negou a assinatura, o que lhe importou a prisão e o exílio para Scitópolis, na Palestina. Os católicos viram neste gesto do santo o triunfo da fé católica, e deram a Eusébio as provas mais claras e comoventes de solidariedade e dedicação. Em Scitópolis teve de sofrer muitas contrariedades, da parte do bispo ariano daquela cidade. O fanatismo dos arianos chegou a ponto de maltratar fisicamente o santo prelado, e pô-lo em incomunicabilidade com os católicos.
Eusébio passou por um verdadeiro martírio. O Seu consolo era o amor dos católicos, que o cumulavam de atenções, sempre que podiam, e a visita de Santo Epifânio. Os arianos, porém, não o deixavam em paz. Se por algum tempo conseguia livrar-se da prisão, outra mais apertada se lhe abria. Assim aconteceu que, arrebatado dos católicos, ficasse preso, incomunicável, durante seis dias, sem se alimentar. O alimento que os arianos lhe ofereciam, rejeitava-o e aos católicos era impossível chegar onde estava. No sexto dia os católicos apareceram em grande número, e com veementes protestos e grandes ameaças, exigiram a libertação do bispo.
De Scitópolis, Eusébio foi transferido para a Capadócia e de lá para Tebaida, onde permaneceu até a morte do imperador Constâncio, em 361. Sob o governo de Juliano, Apóstata, os bispos católicos exilados tiveram liberdade de voltar para as dioceses. Depois de uma expatriação de seis anos, Eusébio foi a Alexandria, onde Santo Atanásio realizava um Concílio, a que assistiu para depois se dirigir a Antioquia, onde reinavam graves dissensões entre os católicos.
Deixando Antioquia, visitou quase todas as Igrejas do Oriente, confortando os católicos, animando os fracos e chamando os separados ao seio da Igreja. Igual apostolado realizou na Ilíria, onde o arianismo tinha produzido lamentáveis estragos. Por fim, chegou à Itália, onde teve uma recepção brilhante, em que tomaram parte os colegas do episcopado e o povo. Em companhia de Santo Hilário, bispo de Poitiers, começou o apostolado de unificação das Igrejas. Eusébio e Hilário contestaram a legitimidade do bispo ariano Auxênio em Milão; nada, porém, conseguiram, porque Auxêncio soube habilmente enganar o inperador Valentiniano e alguns bispos.
Depois de tantos trabalhos e lutas, Eusébio retirou-se para a sua diocese de Vercelli, onde encontrou tudo em boa ordem, graças ao zelo do clero por ele formado. Não tardou muito que Deus chamasse seu fiel servo ao bem merecido repouso, em 370. Por causa dos grandes sofrimentos que passou Santo Eusébio, em defesa da fé, deu-se-lhe o título de mártir.
Reflexões:
Como é admirável a firmeza de Santo Eusébio nas lutas, nas dificuldades, nas perseguições! Desta firmeza o católico deve procurar ter uma boa parcela. Muitas vezes se vê o contrário. Se advém uma contrariedade, é fácil ouvirem-se palavras de desânimo, de queixas contra Deus e até ameaças de abandonar a religião. Quando vai tudo bem, não é preciso muita virtude, por achar fácil a conformidade com a vontade de Deus.
Sofrer pelo amor de Deus é uma honra, uma segurança. Muitos pensam contrariamente, julgando ser uma graça especial de Deus quando não se sofre nada. O pecador, que assim raciocina, engana-se. São Bernardo escreve: "Quem pecou, não experimentando o castigo de Deus, pode estar certo que é objeto da ira de Deus. Deus condena no outro mundo a quem nesta vida não conseguiu corrigir pela adversidade". De Santo Agostinho são as seguintes palavras: "Se vives em pecado e Deus não te castiga, mal sinal é". A isenção de sofrimento, portanto, longe de ser sinal da amizade de Deus, deve causar sérias apreensões ao pecador. Aos amigos, Jesus Cristo oferece o cálice da dor. Disso tens a prova nos Apóstolos, mártires e confessores. Queres fazer exceção desta honrosa regra?
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