São Fulgêncio viveu na África do Norte certamente em 460, época de crise social e perseguição religiosa. A florescente sociedade romana da África do Norte se desmoronava sob os golpes dos vândalos e em sua ruína arrastava consigo a Igreja. A Fulgêncio coube fazer frente a tanta ruína. Sem alcançar a magnitude dos grandes padres do século IV, esteve, contudo, à altura das circunstâncias e, com a santidade de sua vida e a luz de sua doutrina, se tornou referência para os bispos, monges e leigos. “Foi o maior dos teólogos e o bispo mais santo de seu tempo”
Fábio Cláudio Gordiano Fulgêncio nasceu numa rica família cristã em Thelepte, na actual Tunísia (Norte da África), no ano 462. Seu pai era um senador romano e a mãe era de uma família local influente.
Fulgêncio teve uma formação intelectual excelente. De carácter firme, espírito de liderança e habilidade para os negócios, na juventude se destacou na administração dos bens da família, o que o levou a ocupar altos postos no sector público.
Muito culto e educado, Fulgêncio interessava-se tanto pela religião quanto pelas artes e literatura. Frequentava um mosteiro vizinho onde orava com os monges e vasculhava sua biblioteca.
Os biógrafos afirmam que após ler os comentários de Santo Agostinho sobre o Salmo 36, decidiu-se pela vida de austeridade e de solidão.
A África Romana (Norte da África) do seu tempo era o reino dos Vassalos, o que vale dizer que os arianos dominavam e os católicos eram súbditos.
O arianismo é a doutrina de Ario, famoso herege de Alexandria (280-336). Ele pregava que Cristo era uma criatura de natureza intermediária entre a divindade e a humanidade.
A convivência era difícil. O rei Trasamundo havia recomeçado as perseguições aos cristãos.
Fulgêncio tentou ir para o Egipto ao encontro dos monges do deserto, mas o navio que o transportava teve de ancorar em Siracusa, onde as notícias dos conflitos da igreja egípcia o fizeram desistir.
Em 500 foi a vez de Roma decepcioná-lo. Na época era governada por Teodorico e os cristãos também estavam submissos. Ele então voltou para a África.
Foi na sua pátria que Fulgêncio se ordenou sacerdote. Em 510, o rei que desejava a extinção total da Igreja proibiu que houvesse sucessores para os bispos, mas os cristãos os elegiam em segredo e um deles foi Fulgêncio, designado para a diocese de Ruspe, na actual Tunísia.
O rei soube do acontecido e mandou exilar todos os sessenta na ilha italiana da Sardenha, que pertencia aos seus domínios. Pelo menos lá os cristãos viviam em paz.
No mosteiro do exílio, Fulgêncio se tornou professor dos bispos, padres, monges, e conselheiro e pacificador entre a população. Tornou-se, dentro da sua humildade, um líder, uma figura que nem mesmo o rei podia ignorar.
De fato, o rei mandou que ele fosse para a capital, onde o deixou livre para o ministério sacerdotal e pedindo que o ajudasse no esclarecimento das questões de fé. Ou seja, o rei respeitava muito Fulgêncio.
Tanto que o mandou de volta para a Sardenha, só que desta vez para acalmar os súbditos arianos radicais.
Durante os anos que ali permaneceu ele escreveu muito. Além de tratados religiosos, manteve uma vasta correspondência com seus discípulos e superiores, bem como com as maiores autoridades da Igreja de então.
Só quando o rei morreu, Fulgêncio pôde retornar para sua pátria e sua sede episcopal em Ruspe. Foi recebido em triunfo, reorganizou a diocese e estabeleceu a ordem e a disciplina. E então durante nove anos, Fulgêncio dirigiu a sua pequena Diocese de Ruspe no estilo bem monástico. Junto à Catedral fizera novo mosteiro, no qual ele mesmo vivia pobremente, dedicando grande parte do seu tempo à oração em comum e à composição de obras doutrinais e pastorais.
O Santo devolvia aos pobres todo o dinheiro que entrava. Pregava muito bem, fazendo até bispos chorarem.
Morreu no início de Janeiro de 533 (provavelmente no dia 1), aos sessenta e oito anos, pregando a caridade como "o caminho que conduz ao céu".
Fulgêncio cultivou intensamente a doutrina agostiniana, como se deduz de suas obras. Sua vida monástica ajusta-se, em linhas gerais, à mentalidade e ao estilo de vida de Santo Agostinho.
Ele foi chamado, com razão, "Agostinho Abreviado". Amou profundamente a vida de comunidade e a comunhão de vida.
Não conseguira viver senão rodeado de monges. Por isso fundou vários mosteiros, tanto em sua pátria como no exílio. A Ordem celebra seu culto pelo menos desde 1581.
O Concílio Vaticano II, no decreto sobre a actividade missionária da Igreja, faz menção ao pensamento de São Fulgêncio expresso em uma carta ao rei Trasamundo.
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