Não há no concelho de Vila Nova de Ourém lugar algum com a singularidade do Zambujal. Os que escreveram a história eclesiástica, narrando a vida dos santos, e os que escreveram a história profana, falam deste lugar com menção especial, porque nele nascera a Beata Teresa de Ourém.
Não discordam eles enquanto ao lugar do nascimento e milagres que fizera, mas variam numa ou noutra circunstância. D. Tomaz da Encarnação nos diz, com exceção de todos os demais, que tão distinta e formosa beata viveu em Santarém, sendo depois criada do prior de Ourém; todos porém afirmam que Ourém, próspera e florescente, no reinado de D. Afonso III, mereceu a ventura de possuir em toda a sua vida a beata, e em especial a freguesia de S. João, uma das quatro que havia a esse tempo, empregando-se como criada do prior dela.
As suas devoções e os milagres divulgados, lhe granjearam o nome de santa cuja opinião desfrutou ainda em sua vida, e, desde logo, falecendo em 3 de setembro de 1266, começou o culto com festa que anualmente lhe faziam os seus devotos conservando-se em caixa de prata a cabeça, e no altar a sua imagem que pelo terramoto ficou debaixo das ruínas da sé de Ourém.
A relíquia conservada da santa é de admirável virtude contra as dores de ouvidos. A Beata Teresa se não habitava em Ourém o edifício que ainda serve de cadeia pública, e que tradicionalmente se tem chamado de casa de Santa Teresa, é contudo certo que a essa circunstância anda ligada a história interessante dos desgraçados que nela entraram.
Querem alguns supor que na cadeia se empregaram os materiais da casa da beata, que antes vivera numa humilde habitação, construída dentro do castelo: seja porém o que for, é averiguado que antes que a ciência legisladora formalizasse em lei do país a abolição da pena morte, era constante que o desgraçado arremessado à cadeia de Ourém, por maiores que fossem os malefícios cometidos, nunca sofrera o infamante suplício a que a sentença os condenava! Parece que entre todas as maravilhas da Beata Teresa não é menos recomendável esta, poupando à humanidade mais alguns dos pavorosos espetáculos, convertida a sua casa num asilo da vida.
Muitos escritores portugueses a recordam como uma pessoa penitente que teve o dom dos milagres. No tempo apropriado, como resultado do grande afluxo de fieis que lhe atribuíam um grande culto popular, o bispo aprovou o seu culto definindo-a como beata, decidindo que sua festa devia ser celebrada no aniversário de sua morte, isto é, 3 de setembro.
A Beata é invocada como protetora contra as doenças do ouvido.
Fontes:
In: J. Elyseu, Esboço Histórico do concelho de Vila Nova de Ourém, 1868
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