“O
senhor padre é que sabe!” É uma expressão que ouvia quando trabalhava em Angola.
Certamente foi assim ensinado. Às vezes reclamamos do povo que não assume, mas
foi ensinado assim. Em uma comunidade humilde, o padre tinha que saber de tudo.
Da necessidade passou-se a um poder. Poder não se entrega tão facilmente. Jesus
não tinha sede de poder, pois não só se pôs a serviço, dizendo que estou entre
vós como Aquele que serve (Lc 22,27),
mas não se apegou a ele dentro do grupo apostólico. Foi capaz de colocar
colaboradores junto de Si e convidou outros para a mesma missão, como no caso
dos setenta e dois discípulos. Eles iam à frente para todos os lugares por onde
Ele deveria passar. Ele os instruiu, mas os resultados não foram tão grandes
assim. A compreensão só viria depois, com a vinda do Espírito Santo. Vemos como
Jesus lidera. Seu poder está em acreditar que os seus frágeis discípulos
continuariam Sua missão. Ao subir ao Céu acreditou neles e não se preocupou se
dariam conta ou não. Jesus não tinha a mania de pensar que depois dele tudo
acabaria. A confiança que teve foi uma grande força para os apóstolos que
associaram a si outros que continuassem a missão. A missão dos apóstolos e
daqueles que estavam com eles, continuou a missão de Jesus. Há uma identidade
de missão. A Ascensão de Jesus e o envio do Espírito estão voltados para a
missão. O final do evangelho de Mateus diz: “Ide, portanto, e fazei que todas
as povos se tornem discípulos... ensinando-as a observar tudo quanto vos
ordenai. E eis que Eu estou convosco
todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28,18-20). Não só envia, mas lhes entrega sua missão.
1289.
À maneira dos apóstolos
Como
Jesus confiou aos apóstolos a missão, estes confiaram a mesma missão aos que
creram em Jesus. É difícil desenhar as primeiras comunidades. O que havia para
os primeiros cristãos para viver a fé e estabelecer as comunidades? Não havia
uma estrutura, nem os textos do evangelho como temos. Por serem humanos tinham problemas,
mas Paulo pregava, organizava as comunidades e colocava responsáveis a sua
frente. Dirigia essas comunidades através de cristãos mais preparados e
escrevia cartas, das quais nos chegaram algumas. Lemos pelas cartas de Paulo,
sobretudo aos Romanos 16, como os cristãos assumiam a vida da Igreja.
Imaginemos isso no mundo pagão, sem a tradição judaica. Criaram a Igreja como
nos narram os Atos dos Apóstolos: “Assíduos aos ensinamentos dos apóstolos, à
comunhão fraterna, à fração do Pão e às orações”(At 2,42).
1290.
Nomes escritos no Céu
Os
colaboradores, que chamamos de leigos, tanto homens como mulheres tinham essa
firmeza e grande esperança na Ressurreição de Jesus. Não demorou muito a vir a
perseguição. Louvamos e agradecemos a Deus pela maravilhosa contribuição dos
cristãos leigos na história da Igreja. Em tantos lugares foram eles que
introduziram a fé e mantiveram a vida da comunidade. Somente depois chegaram os
ministros ordenados. O Concílio Vaticano II retomou esta riqueza. Na América
Latina, foi grande o empenho para que os leigos assumissem seu lugar de
evangelizadores e promotores das comunidades. Os documentos de Medellin, Puebla
e Aparecida foram fortes na chamada dos leigos à missão. Infelizmente há um
retorno ao clericalismo personalista no qual o protagonismo dos leigos é
colocado de lado. Devemos continuar a buscar o lugar para todos: homens e
mulheres, jovens e crianças. Todos são chamados a ter seu nome escrito no Céu,
pois o escreveram com as tintas de sua dedicação. Que as esperanças de uma
Igreja sempre nova se realizem.
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