É fácil ver Jesus glorificado, belo, distribuidor das
graças e Senhor do Universo. Mas contemplá-lo sendo vítima de uma grave
tentação, complica um pouco. Esse, contudo, é o caminho real daquele que veio
para salvar, “pois Ele mesmo, tendo sofrido pela tentação, é capaz de socorrer
os que são tentados” (Hb 2,18). O primeiro homem, tentado, trouxe a morte para
o mundo. O novo Adão, Jesus, vencendo a tentação trouxe a vida, como S. Paulo
nos explica na carta aos Romanos. Essas tentações não são “um faz de conta”.
Essa foi realidade constante da vida de Jesus e resumem todas as tentações
possíveis a uma pessoa. Todo homem vive na busca do pão, símbolo dos bens
materiais; do poder, no qual sempre quer ser o dono de tudo; do prazer do qual
quer tirar todas as satisfações. Todo o bem que possuímos, tem como fonte o Pão
da Palavra que é alimento e na Eucaristia se faz sustento. “Não só de pão vive
o homem, mas de toda Palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4). Todo poder e
força sós são verdadeiros na obediência: “Não tentarás o Senhor teu Deus” (Mt
4,7). O grande milagre de Jesus é sua fidelidade ao Pai. Jesus continua
vencendo o demônio que lhe oferece todos os reinos da terra, “se prostrado me
adorares”. A adoração é o reconhecimento de Deus como Senhor de todas as
coisas. No mundo atual muitos se sentem donos de tudo e decidem tudo sem o
reconhecimento de Deus. Vemos aí a tentação do paraíso terrestre: “Vós sereis
como deuses, conhecendo o bem e mal” como a dizer: vós é que decidireis o que é
bem e o que é mal. O caminho da vida é adorar a Deus e servi-lo. Reconhecê-lo
como a fonte da vida e de tudo que nos cerca.
Beco sem saída?
Ninguém é tentado acima das próprias forças. O
pecado não é uma situação sem saída, um beco traiçoeiro. A tendência ao mal
está presente no coração humano. Por outro lado, o bem é sempre uma força
maior. As tentações que Jesus passa dão-lhe a oportunidade de mostrar sua
fidelidade a Deus. Em sua morte Ele sofre a tentação de abandonar. Reforça sua
fidelidade apostando na prática da vontade de Deus. Seja feita a vossa vontade,
“não como quero, mas como tu queres”. Por isso temos confiança nEle. “Pela
obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça” (1
Cor 5,19). Podemos, dentro das mais diversas tentações, fortificar-nos e
vencê-la. O exemplo dos santos é justamente este: dominar a tentação. Jesus
põe-se ao lado dos tentados, para que sejam vencedores. O pecado é um mal, mas
a graça é maior e mais proveitosa.
Solidários no
bem.
Adão é tentado no Jardim do
Paraíso. Jesus é tentado no deserto e ali vence. Parece que a solidão é um
risco. Fala-se de deserto, como lugar da tentação, porque era considerado como
lugar do demônio.. Vai ao território inimigo e domina-o. Para nós, é importante
a consciência de que a tentação não escolhe nem lugar nem hora. Mas pega-nos
sempre pelo pé. Ai de quem está sozinho. A comunidade é o grande jardim, ou se
quisermos, um deserto, onde estamos juntos, uns ajudando os outros a vencer o
mal. Ela é a graça habitual da vitória. Um irmão fortalece o outro. Quanto mais
vida de comunidade tivermos, mais solidários formos, mais poderemos vencer
todas estas tentações.
http://padreluizcarlos.wordpress.com/
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