Há um dom muito grande que nos foi dado na criação: o ser humano é um
ser em relações. Foi feito primeiro o nós, depois o eu: “Façamos o homem a
nossa imagem e semelhança e o façamos homem e mulher” (Gn 1,27). A palavra homem significa
humanidade. Diante da corrente de individualismo que invade a sociedade, a
proposta de Jesus não é a destruição da individualidade, mas a promoção do
indivíduo em sua capacidade de compor e ser para o outro. O homem e a mulher
são partes um do outro. O primeiro capítulo da bíblia diz que Deus fez o homem
e os fez macho e fêmea. Adão e Eva aparecem no segundo capítulo que é entendido
através do primeiro. O Papa explica que a religiosidade popular inclui a
relação pessoal e não foge para o individualismo da “espiritualidade do bem
estar”, sem comunidade, pensando só em si, sem compromissos fraternos (EG 90).
Comprometer-se com Deus é comprometer-se com os outros. E continua refletindo:
“Faz falta ajudar a reconhecer que o único caminho é aprender a encontrar os
demais com a atitude adequada que é aceitá-los e valorizá-los como companheiros
de estrada, sem resistências interiores”. Está contra a corrente quem busca o
outro ou quem se refugia em si mesmo? Essa atitude trata-se de aprender a
descobrir Jesus no rosto dos outros... e aprender a sofrer, num abraço com
Jesus crucificado, quando sofremos agressões... sem jamais nos cansarmos de
optar pela fraternidade (EG
91). Sentimos nestas palavras como que uma autobiografia do Papa. Ele
veio da rua para o trono de S. Pedro e por isso desgosta a tantos da Igreja que
vivem o egoísmo espiritual, sem a prática de ir às pessoas. Afinal Jesus era
aberto aos outros.
Mística
da fraternidade
A
cura do coração humano está na capacidade de ser fraterno. Isso não é novidade pois
é o amor que estabelece as relações com Deus. Diz João: “Aquele que ama Deus,
ame também o seu irmão” (Jo
4,20). É o que vemos em todos os que tiveram uma vida coerente com a fé.
Souberam dedicar-se ao próximo com dedicação total. O pouco que se pode fazer,
é muito quando reflete esta mística da fraternidade. A força da comunidade
cristã não está em ter uma estrutura grande, grande número de pessoas, muita
sabedoria, mas quando se dedica ao próximo. Não são as coisas que aparecem que
resolvem, mas os pequenos gestos que dão vida. Numa comunidade paroquial, onde
trabalhei, a pastoral da saúde tem um serviço simples: na hora do almoço os
doentes pobres do hospital que não têm acompanhantes, são servidos por membros
do grupo. Tive fome e me destes de comer. Em outra, uma senhora acompanhava
doentes que deviam ir para S. Paulo e não tinham acompanhante. O pequenino
rebanho tem sua força na fraternidade.
Mundanismo
espiritual
Quem fala de vida
espiritual voltada só para si e para seus problemas e suas necessidades usa
Deus como seu servo para satisfazer suas necessidades. O triste é ver fé
servindo de ideologias voltadas para os bens materiais. O culto a Deus, sem a
justiça e o comprometimento, torna-se um espetáculo desnecessário. É preciso ser
bem feito, mas é culto a Deus em Cristo. Não exibicionismo. É um museu em
movimento. Esse mundanismo leva a buscar o que aparece como política,
conquistas sociais, society. Não pode levar à evangelização. “A mundanidade
anestesia a alma, nos torna incapazes de ver a realidade de tantos pobres que
vivem ao nosso redor”, disse o Papa no
dia no 05.03.15.
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