sexta-feira, 20 de março de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Contra a corrente”

PADRE LUIZ CARLOS
       DE OLIVEIRA CSsR
A força do ser nós
Há um dom muito grande que nos foi dado na criação: o ser humano é um ser em relações. Foi feito primeiro o nós, depois o eu: “Façamos o homem a nossa imagem e semelhança e o façamos homem e mulher” (Gn 1,27). A palavra homem significa humanidade. Diante da corrente de individualismo que invade a sociedade, a proposta de Jesus não é a destruição da individualidade, mas a promoção do indivíduo em sua capacidade de compor e ser para o outro. O homem e a mulher são partes um do outro. O primeiro capítulo da bíblia diz que Deus fez o homem e os fez macho e fêmea. Adão e Eva aparecem no segundo capítulo que é entendido através do primeiro. O Papa explica que a religiosidade popular inclui a relação pessoal e não foge para o individualismo da “espiritualidade do bem estar”, sem comunidade, pensando só em si, sem compromissos fraternos (EG 90). Comprometer-se com Deus é comprometer-se com os outros. E continua refletindo: “Faz falta ajudar a reconhecer que o único caminho é aprender a encontrar os demais com a atitude adequada que é aceitá-los e valorizá-los como companheiros de estrada, sem resistências interiores”. Está contra a corrente quem busca o outro ou quem se refugia em si mesmo? Essa atitude trata-se de aprender a descobrir Jesus no rosto dos outros... e aprender a sofrer, num abraço com Jesus crucificado, quando sofremos agressões... sem jamais nos cansarmos de optar pela fraternidade (EG 91). Sentimos nestas palavras como que uma autobiografia do Papa. Ele veio da rua para o trono de S. Pedro e por isso desgosta a tantos da Igreja que vivem o egoísmo espiritual, sem a prática de ir às pessoas. Afinal Jesus era aberto aos outros.
Mística da fraternidade
            A cura do coração humano está na capacidade de ser fraterno. Isso não é novidade pois é o amor que estabelece as relações com Deus. Diz João: “Aquele que ama Deus, ame também o seu irmão” (Jo 4,20). É o que vemos em todos os que tiveram uma vida coerente com a fé. Souberam dedicar-se ao próximo com dedicação total. O pouco que se pode fazer, é muito quando reflete esta mística da fraternidade. A força da comunidade cristã não está em ter uma estrutura grande, grande número de pessoas, muita sabedoria, mas quando se dedica ao próximo. Não são as coisas que aparecem que resolvem, mas os pequenos gestos que dão vida. Numa comunidade paroquial, onde trabalhei, a pastoral da saúde tem um serviço simples: na hora do almoço os doentes pobres do hospital que não têm acompanhantes, são servidos por membros do grupo. Tive fome e me destes de comer. Em outra, uma senhora acompanhava doentes que deviam ir para S. Paulo e não tinham acompanhante. O pequenino rebanho tem sua força na fraternidade.
Mundanismo espiritual
            Quem fala de vida espiritual voltada só para si e para seus problemas e suas necessidades usa Deus como seu servo para satisfazer suas necessidades. O triste é ver fé servindo de ideologias voltadas para os bens materiais. O culto a Deus, sem a justiça e o comprometimento, torna-se um espetáculo desnecessário. É preciso ser bem feito, mas é culto a Deus em Cristo. Não exibicionismo. É um museu em movimento. Esse mundanismo leva a buscar o que aparece como política, conquistas sociais, society. Não pode levar à evangelização. “A mundanidade anestesia a alma, nos torna incapazes de ver a realidade de tantos pobres que vivem ao nosso redor”,  disse o Papa no dia no 05.03.15.

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