Muito pouco se sabe sobre a vida de Santo Hospício, personalidade que tem ainda muitos devotos na região onde viveu. O pouco que se sabe sobre ele foi contado por São Gregório de Tours, em sua obra “História dos Francos”
Segundo Gregório, Hospício vivia recolhido numa velha torre, próxima de Villefranche, nos arredores da cidade de Nice, numa pequena península. Nesse local, ele se entregava aos exercícios da mais rigorosa penitência.
Os registros da “História dos Francos” contam que ele mantinha o corpo preso por grilhões de ferro, usando um tecido de cilício sobre eles, comendo apenas pão seco e algumas tâmaras e bebendo água.
Em dias feriais da Quaresma, Santo Hospício se alimentava com as mesmas ervas utilizadas pelos eremitas do Egipto, dizendo que Deus lhe recompensava o zelo com o dom dos milagres e o espírito da profecia.
Entre suas profecias, está a invasão dos lombardos. Santo Hospício dizia que os lombardos iriam invadir as Gálias, devastando sete províncias para castigar a malícia do povo, que estava aumentando.
O santo afirmava que ninguém estava entendendo as mensagens de Deus e que ninguém mais o procurava, que as pessoas não praticavam o bem e que nada faziam para que Deus se apaziguasse.
Santo Hospício lembrava a todos que as pessoas estavam entregues à vida mundana, mais acostumados a roubar e prontos para matar, sem pagar os dízimos, sem dar de comer aos pobres e que, por isso, seriam castigadas por Deus.
Ele preveniu da mesma maneira os monges, para que se pusessem em local seguro, com tudo o que pudessem levar consigo para evitar os bárbaros.
Existe, no entanto, uma outra tradição que informa que Santo Hospício era um abade de um pequeno mosteiro estabelecido na mesma península, onde governava de seu lugar no alto de uma torre, onde proclamava o perigo da invasão dos bárbaros.
Diz essa tradição que ele sabia que seria morto pelos bárbaros. Quando ocorreu a invasão e os monges se retiraram, Santo Hospício permaneceu na torre onde se mantinha enclausurado.
Chegando à torre, os bárbaros subiram ao tecto, tiraram as telhas e dele se aproximaram. No entanto, ao ver que estava preso em grilhões de ferro e isolado, julgaram se tratar de um criminoso, perguntando qual teria sido seu crime.
Santo Hospício se declarou homicida e disse ter caído nas piores culpas. A tradição conta que um dos bárbaros tentou feri-lo, mas teve o braço paralisado. Diante dos pedidos dos outros, fez o sinal da cruz sobre o braço enrijecido, devolvendo ao bárbaro a mobilidade.
O homem se converteu imediatamente e, mais tarde, tornou-se monge, dando um exemplo de grande fervor e, segundo Gregório de Tours, ainda vivia quando a “História dos Francos” foi escrita.
Outros bárbaros seguiram os exemplos do convertido, regressando sãos e salvos ao seu país, mas os que não se converteram começaram a ter morte misteriosa na região.
Muitos milagres foram atribuídos a Santo Hospício, contando-se entre eles a cura de um cego de nascença e a libertação de muitos possessos. Ao chegar perto da morte, mandou avisar ao bispo de Nice que estava próximo seu retorno aos céus.
Santo Hospício faleceu em 14 de Setembro de 1510, depois de tirar as próprias cadeias e entregar-se a uma longa oração. Sentou-se num banco, levantou as mãos e morreu. Seu túmulo logo se tornou local de peregrinação e muitos outros milagres foram atribuídos a ele depois de sua morte.
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