sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Só a Deus adorarás”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
As tentações do Filho de Deus
            “O Espírito conduziu Jesus ao deserto para ser tentado pelo diabo” (Mt 4,1). O Espírito é o Guia divino de Jesus em sua humanidade. 40 dias Jesus está ali, diante do Pai, meditando sua Palavra. O número 40 é simbólico. É o tempo de Deus para o povo. Jesus sente fome. O tentador sempre busca levar o homem ao inútil de sua vida. Ali está o Filho de Deus ouvindo o tentador que lhe põe em dúvida algo grande: “Se és o Filho de Deus...”. Se... Não o sabia? Aquele homem frágil pode ser Deus? A carne de Jesus encobre a divindade até ao Diabo. É preciso fé para crer. As três tentações são a síntese de todas as tentações que o tentador pode nos infligir. Curiosamente, a tentação de comer a fruta oferecida a Eva, resume tudo: “A mulher viu que seria bom comer da árvore, pois era atraente aos olhos e desejável para se alcançar o conhecimento” (Gn 2,6). João, em sua primeira carta, escreve: “O que há no mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e orgulho das riquezas” (1Jo 2,16). É a sensualidade, a sedução das aparências e o orgulho resultante da posse dos bens terrenos. O povo, no deserto, passa pelas mesmas tentações. A primeira tentação oferece o pão: “Diga que essas pedras se transformem em pães!” Jesus responde: “Não só de Pão vive o homem”. No mundo só se vive para buscar posse dos bens. Mas sem a Palavra o mundo passa fome. A ganância é diabólica. A segunda tentação: “O demônio leva Jesus ao ponto mais alto do templo e diz: ‘lança-te daqui abaixo... pois os anjos te tomarão nas mãos’”. Jesus responde: “Não tentarás o Senhor, teu Deus”. O poder e o milagre fascinam as pessoas que chegam a usar a Palavra para seu fim. O diabo conhece bem a Bíblia. Mas não basta, é preciso não tentar a Deus. A terceira tentação atinge o máximo das ambições: “Tudo isso será teu, se te ajoelhares para me adorar”. A reposta: “Adorarás o Senhor, teu Deus e somente a Ele prestarás culto”! Vemos que hoje se adora tudo. A ganância prazer abafa o caminho para adorar a Deus. O demônio é frágil e medroso. Basta dizer não, como o fez Jesus, que se afasta, até a outra vez.  
O dom superabundante da graça
            O pecado de Adão resume todos os pecados. É a raiz, como lemos nas tentações de Jesus. Mas a graça é o primeiro dom no qual foi criado o homem e para o qual é destinado. Fora feito do barro, recebeu sopro de vida e foi colocado no Jardim (Paraíso) para cultivá-lo. Rebela-se contra seu Criador. O Filho, pela obediência ao Pai, não come o fruto, mas, pregado na cruz, árvore da vida, é o Fruto bendito que se dá a comer para que todos tenham vida e a imortalidade. Paulo faz a comparação entre o primeiro e o segundo Adão, Jesus. Por este, temos a abundância da graça, na situação de justiça-santidade. Assim podemos fazer o retorno ao Paraíso, podendo comer da árvore da vida, pois, em Cristo, o homem obedeceu e foi agraciado com o sopro do Espírito que lhe dá a vida imortal.
O sacramento da Quaresma
            A oração da missa reza no texto em latim: “celebrando o sacramento da Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa”. Não é só um tempo de devoção, orações, mas tem uma força de renovação sacramental que é sustentada pelos sacramentos pascais (Batismo, Penitência e Eucaristia). Para isso temos as leituras, neste ano, sob o prisma batismal, como veremos. Se buscarmos a Palavra, a fraternidade e os Sacramentos, estaremos vencendo as tentações e seremos saciados pela graça abundante da Páscoa de Cristo. 

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