PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
As
tentações do Filho de Deus
“O
Espírito conduziu Jesus ao deserto para ser tentado pelo diabo” (Mt 4,1). O
Espírito é o Guia divino de Jesus em sua humanidade. 40 dias Jesus está ali,
diante do Pai, meditando sua Palavra. O número 40 é simbólico. É o tempo de
Deus para o povo. Jesus sente fome. O tentador sempre busca levar o homem ao
inútil de sua vida. Ali está o Filho de Deus ouvindo o tentador que lhe põe em
dúvida algo grande: “Se és o Filho de Deus...”. Se... Não o sabia? Aquele homem
frágil pode ser Deus? A carne de Jesus encobre a divindade até ao Diabo. É
preciso fé para crer. As três tentações são a síntese de todas as tentações que
o tentador pode nos infligir. Curiosamente, a tentação de comer a fruta
oferecida a Eva, resume tudo: “A mulher viu que seria bom comer da árvore, pois
era atraente aos olhos e desejável para se alcançar o conhecimento” (Gn 2,6).
João, em sua primeira carta, escreve: “O que há no mundo é concupiscência da
carne, concupiscência dos olhos e orgulho das riquezas” (1Jo 2,16). É a
sensualidade, a sedução das aparências e o orgulho resultante da posse dos bens
terrenos. O povo, no deserto, passa pelas mesmas tentações. A primeira tentação
oferece o pão: “Diga que essas pedras se transformem em pães!” Jesus responde:
“Não só de Pão vive o homem”. No mundo só se vive para buscar posse dos bens. Mas
sem a Palavra o mundo passa fome. A ganância é diabólica. A segunda tentação: “O
demônio leva Jesus ao ponto mais alto do templo e diz: ‘lança-te daqui
abaixo... pois os anjos te tomarão nas mãos’”. Jesus responde: “Não tentarás o
Senhor, teu Deus”. O poder e o milagre fascinam as pessoas que chegam a usar a
Palavra para seu fim. O diabo conhece bem a Bíblia. Mas não basta, é preciso
não tentar a Deus. A terceira tentação atinge o máximo das ambições: “Tudo isso
será teu, se te ajoelhares para me adorar”. A reposta: “Adorarás o Senhor, teu
Deus e somente a Ele prestarás culto”! Vemos que hoje se adora tudo. A ganância
prazer abafa o caminho para adorar a Deus. O demônio é frágil e medroso. Basta
dizer não, como o fez Jesus, que se afasta, até a outra vez.
O dom superabundante da graça
O pecado de Adão resume todos os pecados.
É a raiz, como lemos nas tentações de Jesus. Mas a graça é o primeiro dom no
qual foi criado o homem e para o qual é destinado. Fora feito do barro, recebeu
sopro de vida e foi colocado no Jardim (Paraíso) para cultivá-lo. Rebela-se
contra seu Criador. O Filho, pela obediência ao Pai, não come o fruto, mas,
pregado na cruz, árvore da vida, é o Fruto bendito que se dá a comer para que
todos tenham vida e a imortalidade. Paulo faz a comparação entre o primeiro e o
segundo Adão, Jesus. Por este, temos a abundância da graça, na situação de
justiça-santidade. Assim podemos fazer o retorno ao Paraíso, podendo comer da
árvore da vida, pois, em Cristo, o homem obedeceu e foi agraciado com o sopro
do Espírito que lhe dá a vida imortal.
O
sacramento da Quaresma
A oração da missa reza no texto em
latim: “celebrando o sacramento da Quaresma, possamos progredir no conhecimento
de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa”. Não é só um
tempo de devoção, orações, mas tem uma força de renovação sacramental que é
sustentada pelos sacramentos pascais (Batismo, Penitência e Eucaristia). Para
isso temos as leituras, neste ano, sob o prisma batismal, como veremos. Se
buscarmos a Palavra, a fraternidade e os Sacramentos, estaremos vencendo as
tentações e seremos saciados pela graça abundante da Páscoa de Cristo.
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