Gordiano, senador romano e pai do Santo Papa Gregório, tinha três irmãs, que se dedicaram ao serviço de Deus e lhe votaram a sua virgindade.
Eram Tarsila, Gordiana e Emiliana. Quase ao mesmo tempo estas três donzelas tinham tomado tão santas resoluções e viviam na casa paterna como em um convento, animando-se mutuamente, pela palavra e pelo exemplo, a prosseguir na senda da perfeição. O progresso que faziam na prática das virtudes, parecia em todas as três igual.
Depois de alguns anos, porém, podia se notar uma mudança no estado das coisas. Tarsila e Emiliana de tal maneira, se desapegaram das coisas do mundo, a tal grau chegaram na união com Deus, que pareciam ter-se esquecido do corpo, vivendo unicamente em espírito. Tal não se dava com Gordiana. Esta perdeu o primitivo zelo, arrefeceu no amor de Deus, que antes a incendiara. Tornou-se tíbia e abriu o coração ao amor do mundo. Esta mudança muito entristeceu as duas irmãs, que tudo fizeram para que Gordiana se lembrasse dos seus deveres e voltasse às práticas da religião.
Realmente, conseguiram que ela recomeçasse a vida fervorosa, como antes a levava. Mas passageira foi a mudança; Gordiana recaiu e, mais ainda do que a primeira vez, se deixou levar pela simpatia do mundo e seus prazeres. O silêncio, o recolhimento, a companhia das irmãs e, de outras pessoas devotas, tornaram-se-lhe insuportáveis e, em lugar destas, começou a procurar a companhia e amizade de pessoas da sociedade.
Emiliana e as irmãs ajudaram a cunhada Sílvia no nascimento do pequeno Gregório, que sempre teve saúde frágil. Depois, enquanto viveram, o acompanharam nos estudos e nos trabalhos. Gregório, ainda jovem, se tornou chefe da administração civil de Roma. Mais tarde, se tornou embaixador do papa Pelágio II e ao mesmo tempo monge, guia de uma pequena comunidade religiosa, recolhida em sua residência na cidade de Célio. De lá Gregório saiu para ser papa.
A única fonte genuína sobre suas vidas foi os relatos do seu sobrinho, o papa Gregório Magno.
Tarsila e Emiliana continuaram na vida santa de antes, lamentando profundamente o desvario da irmã. Tarsila, mais ainda que Emiliana, se aperfeiçoava na vida interior e mais cedo que esta, parece ter alcançado o fim desejado. São Gregório, seu sobrinho, fala de uma visão que a santa teve nos últimos dias de vida. Ela viu o Papa Félix (de que era parenta), que lhe mostrava uma morada belíssima, rodeada de luz, que devia ocupar. No dia que se seguiu esta visão, Tarsila foi acometida de uma febre alta e adoeceu gravemente.
Agonizante já, parecia acordar de um profundo sono e exclamava em alta voz: "Dai lugar! Jesus está chegando, querendo visitar-me!" Ditas estas palavras, morreu placidamente, e o quarto em que estava, encheu-se de delicioso perfume. Esta morte ocorreu nas vésperas do Nascimento de Nosso Senhor.
Depois dos dias da Festa do Natal, apareceu a Emiliana "Passei e disse-lhe o Natal sem você, mas quero que venha festejar comigo a Epifania". Emiliana recebeu com agrado esta nova, mas manifestou apreensões relativamente a Gordiana. Tarsila respondeu-lhe com profunda tristeza: "Não te incomodes mais por causa de Gordiana. No coração dela não temos mais lugar; está resolvida a voltar ao mundo".
Emiliana adoeceu e faleceu na vigília da festa da Epifania. Gordiana afastou-se cada vez mais do espírito religioso que até então reinava na casa do pai. Fez uso da liberdade, desfez-se do véu e casou-se com um morador da casa.
São Gregório acrescenta: "Eis três pessoas que, animadas do mesmo zelo, se consagraram a Deus mas não perseveraram todas no mesmo espírito: Pois é como disse Nosso Senhor: 'Muitos são os chamados, poucos os eleitos'."
Nenhum comentário:
Postar um comentário