A Semana Santa formou-se particularmente na cidade de Jerusalém que, depois do ano 313, com a liberdade dos cristãos. A Cidade Santa é chamada mãe e mestra de liturgia, pois criou muito do que fazemos até hoje. Etéria, uma monja espanhola peregrina, deixou-nos seu diário de viagem no qual conta como eram realizadas as celebrações. A característica de sua liturgia era celebrar nos lugares onde teriam acontecido os fatos. Assim passou-se para o mundo cristão que, com suas contribuições, chegou ao modo que hoje celebramos. A piedade espanhola e portuguesa nos legou as cerimônias devocionais das procissões, das orações e tradições. É bom que se mantenham as tradições, pois falam tão alto ao coração do povo. Mas, digamos: Temos que renascer! Certamente que cada época tem sua contribuição a dar. E nós, como vamos viver esses dias? Podemos nos ligar à palavra de Jesus aos discípulos: “Vós que estivestes comigo em minhas tribulações”. Jesus sentiu o apoio dos discípulos quando sua humanidade foi ferida. S. Agostinho chama esse tempo de “Tríduo Sacro”. É o ponto alto de seu Mistério Pascal, de sua passagem para o Pai. É o único mistério de Cristo vivido em três momentos: a ceia, a morte e a sepultura e a ressurreição. Viver a Semana Santa com Cristo é viver intensamente esses dias, tirando a orientação da Palavra de Deus, da Celebração e da reflexão sobre esse momento. Deste modo nós vamos nos assemelhando a Cristo, realizando em nossa vida o que aconteceu em sua santa Paixão, unidos a Cristo na sua Paixão para ressuscitar com Ele. Como?
Hoje vem o choro, amanhã a alegria
Esta fase está a nos indicar que a vida de cada cristão retoma a vida de Cristo. Deus não quer a dor nem a morte de ninguém. Um dos primeiros elementos que colhemos da vida do Cristo foi sua participação em nossa fragilidade e em nossas dores, desde sua Encarnação. Certamente foi uma vida penetrada de uma serena alegria, mas de muitas tribulações e tentações. Cristo é um livro onde vamos ler nossa vida e entender nossos sofrimentos. É comum e triste ouvir as pessoas dizerem com desprezo: “Por que Deus fez isso comigo? Eu não merecia, fiz tudo certo, rezei tanto!”. Por que não perguntamos: “O que Cristo quer que eu aprenda disso que não foi Ele quem me fez?” O único modo de chegar à alegria permanente é viver em Cristo os sofrimentos, e deixar que Ele carregue a cruz conosco. O Cirineu é Ele. Ele faz o caminho conosco. Cada acontecimento tem sempre um lado positivo que é muito maior. Esse é o crescimento espiritual que mais nos amadurece. Assim poderemos compreender a Ressurreição que passa pela Cruz. Quanto mais unidos ao Filho, mais participamos de sua Paixão. Este é um dom que é dado depois de muito crescimento. Não vemos santos que não tenham passado por tribulações. Não existe o direito de viver sem problemas, por rezar e estar unido a Deus.
Um caminho e uma vida
Sofrer as demoras de Deus! É um dos maiores desafios do crescimento espiritual. São as noites escuras da alma, no dizer de S. João da Cruz. S. Gregório de Nissa afirma: Quanto mais vemos a luz, mas escuro fica. Quanto mais vemos a Deus, mas temos que procurar. A Paixão do Senhor mostra como o Senhor passou aqueles momentos. Mas lhe valeu a Ressurreição. A Paixão e a Ressurreição do Senhor são o nosso caminho. Nós preferimos viver, mas na superficialidade da fé, das devoções, dos milagres do que fazer com Ele o caminho. É belo ver como Ele fazia o caminho do Pai: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo do amor” (Jo 13,1)
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM MARÇO DE 2008
Nenhum comentário:
Postar um comentário