A
comunidade primitiva estava na expectativa da volta de Cristo para breve. Por
isso a insistência sobre a vigilância. No domingo passado aprendemos como
colocar nosso tesouro no Céu. Em nossa linguagem, podemos dizer, investir
nossos bens em Deus. Nele não existe inflação nem roubo. O evangelho usa uma
linguagem simbólica para expressar esta verdade que é a opção em vista de um
bem maior. Jesus se dirige ao pequeno grupo dos discípulos. Lucas tem
comunidades que sofriam por serem pequenas e pobres. O importante é o tesouro
que deve ser comprado à custa da venda de tudo (Lc 18,22), como escreve Mateus: Tesouro
escondido no campo, pelo qual vale investir tudo para ter o campo e pegar o
tesouro (Mt 13,44).
A vida do cristão deve se voltar para onde está seu tesouro. “Onde estiver
vosso tesouro, aí estará vosso coração” (Lc 12,34). O texto continua e apresenta três
parábolas: o senhor que volta da festa, o ladrão que chega de repente e o
senhor que foi a um país distante. Há um acento sobre a noite. Falar em noite
lembra a tradição das 4 noites da história: noite da criação, noite de Abraão,
noite de Páscoa e noite da chegada do final do mundo. Ele vem como o ladrão, de
repente. Vencemos a insegurança da escuridão pela vigilância. A chegada
inesperada exige uma vida condizente com Aquele que vem. Como no Egito, a
unidade dos que tem fé, nos mesmos bens e nos mesmos perigos (Sb 18,6-9) é a
garantia de segurança da comunidade. É preciso unidade na expectativa. Unidade
torna presença d’Aquele que se espera. Felizes os que forem encontrados vigilantes.
Participarão da comunhão do Senhor. A caridade é a maior vigilância, como o texto
proclama: “Vendei vossos bens e dai esmola” (Lc 12,33).
Espiritualidade
da administração
Pedro
pergunta a Jesus se a parábola era para eles também. Jesus dá o sentido da
administração de uma comunidade: Manter a comunidade reunida e unida na mesma certeza
e, mesmo sendo pequeno rebanho, permanecer firme. Vivemos numa sociedade na qual
a administração é um problema tanto para a Igreja como para a sociedade. Sentimos
que administradores da Igreja não admitem erros nos outros, mas não são
sensíveis aos possíveis erros que cometem. Precisam de conversão. A
administração exige grande testemunho de vigilância: “A quem muito foi confiado
mais será exigido”(Lc
12,48). A má administração dos bens de Deus acarreta males à comunidade.
Por isso é preciso conversão.
Não
tenhais medo, pequeno rebanho.
Ao
referirmos ao “pequeno rebanho”, lembramos os pais na fé que foram um pequeno
grupo. Sua fé os sustentou. A Carta aos Hebreus coloca a fé como fundamento:
“Ela é um modo de possuir o que se espera e a convicção sobre realidades que
não se vêem” (Hb 11,1).
Foi nela que se firmaram os patriarcas para viverem a longa espera da vinda do
Prometido. Eles foram vigilantes no bem supremo que era Deus e na fidelidade à
promessa. O pequeno rebanho é o tesouro de Deus.: “O Senhor pousa o olhar sobre
os que o temem e confiam esperando em
seu amor”... “No Senhor nós esperamos confiantes”. A vigilância da comunidade
se dá na unidade e na fé que a sustenta. Este será sempre o testemunho que
passaremos aos que confiam no Senhor e são confiados a nossa administração. O
Senhor não veio ainda, mas a vigilância permanece um imperativo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário