segunda-feira, 6 de março de 2023

Santo Olegário

Bispo de Barcelona, Arcebispo de Tarragona
 e glória da Espanha medieval, foi continuador 
do movimento de reforma da Igreja
iniciado por São Gregório VII. 
Afirma o hagiógrafo Pe. Pedro de Ribadeneyra: “Um dos brasões de que Barcelona mais se orgulha, e com que muito se enobrece, é o de ser a pátria de Santo Olegário, seu digníssimo prelado, cuja prodigiosa vida é transcrita de papéis autênticos que se conservam nos arquivos reais de Barcelona, bem como de outras histórias antigas e verdadeiras da Catalunha”.1 Segundo a Arquidiocese de Madri, Santo Olegário “foi quem, com os grandes papas e reformadores como Gregório VII e Calixto II, e os abades de Cluny, impulsionou uma reforma na Igreja, começando por suas dioceses de Barcelona e Tarragona”,2 o que foi primordial para que a Idade Média chegasse ao seu auge nos séculos seguintes.
Pais ilustres pela nobreza e piedade 
Olegário nasceu no ano 1060. Seu pai era secretário do Conde de Barcelona, Ramón (ou Raimundo) Berenguer I, e sua mãe descendia da nobreza goda. O conde Ramón teve várias vitórias sobre os mouros, estendendo muito seus domínios e impondo pesados tributos às cidades mouriscas. “Os historiadores afirmam que esses tributos ajudaram a criar a primeira onda de prosperidade da história da Catalunha. Durante seu governo, o poder marítimo catalão começou a ser sentido no Mediterrâneo ocidental. Outra grande realização sua foi iniciar a codificação da lei catalã nos usatges, escritos de Barcelona que se tornariam a primeira compilação completa da lei feudal na Europa Ocidental”.3 Ramón de Berenguer tinha três filhos, e desejou que eles fossem criados e educados na companhia do pequeno Olegário. Encantado com suas qualidades e disposições, seus pais o mandaram aos dez anos continuar seus estudos com os cônegos da catedral barcelonesa. Sete anos depois, foi admitido como um deles, e em seguida nomeado deão ou mestre do cabido daquela Sé. Por humildade, relutou muito em receber a ordenação sacerdotal, o que se deu somente quando atingiu os 35 anos de idade. Por essa época, o bispo de Barcelona fundou o convento de Santo Adriano, destinado aos cônegos regulares de Santo Agostinho. Desejando uma vida mais retirada e mais perfeita, Olegário nele ingressou. Em 1096 foi eleito prior da comunidade, cargo que exerceria durante 12 anos. O Papa então o enviou como visitador e reformador ao convento de São Rufo, na Provença, do qual se tornou abade no ano 1100. Nos anos de 1114-1115, um novo Conde de Barcelona, Ramón Berenguer III, comandando uma tropa de catalães e pisanos, tomou a cidade de Mallorca, que estava em poder dos mouros. Para alegria de Santo Olegário, o conde libertou então “uma inumerável multidão de cativos cristãos, que lá padeciam grandíssimos trabalhos e perigos”, resultando enorme alegria para toda a Catalunha.4 Entretanto, Berenguer teve de se retirar depois da vitória, por problemas em suas próprias terras. A reconquista definitiva dar-se-ia bem mais tarde. 
Bispo da Santa Igreja em Barcelona 
Em 1116 ocorreu o falecimento do então Bispo de Barcelona, D. Raimundo, que exercera o cargo de legado apostólico do Papa Pascoal II na expedição da Cruzada contra os mouros, empreendida pelo Conde Berenguer nas ilhas de Mallorca, Minorca e Ibiza. Por unanimidade, Olegário foi escolhido como seu sucessor. Ocorreu então uma cena comum na Idade Média: o indicado, julgando-se indigno do cargo, fugiu durante a noite em direção à sua abadia de São Rufo, na França. Ao se darem conta do sucedido, o clero e o povo foram ao seu encalço. Encontrando-o perto de Perpignan, obrigaram-no a voltar a Barcelona e aceitar o cargo. No ano seguinte, o Conde de Barcelona conquistou aos árabes a cidade portuária de Tarragona, próxima da capital. O Papa, de comum acordo com o conde, confiou a Santo Olegário a missão de repovoar e restaurar essa metrópole, unindo-a provisoriamente ao bispado barcelonês. “A Igreja de Tarragona é indubitavelmente uma das mais antigas da Espanha, sendo tradição que São Tiago e São Paulo lá estiveram. A visita do Apóstolo dos Gentios a Tarragona de nenhum modo está longe das possibilidades, supondo-se que ele tenha vindo de Roma à Espanha, como havia prometido na Epístola aos Romanos, e como São Jerônimo afirma que fez”. 5 Santo Olegário foi depois a Roma a fim de obter do Papa Gelásio II a confirmação de sua posse naquela diocese. O Pontífice o recebeu com demonstrações do maior apreço e deu-lhe o pálio, insígnia dos metropolitas. Em Tarragona, o Santo restabeleceu a destruída igreja, dotou-a de um cabido e dispôs o necessário para a defesa dos cidadãos contra novos ataques dos muçulmanos. Depois, em 1119, participou dos concílios de Toulouse e de Reims como bispo da Santa Igreja. 
Legado papal na cruzada da Espanha 
Em 1122, o Papa Calixto II convocou o primeiro Concílio de Latrão, imediatamente após a Concordata de Worms, que pusera fim à Querela das Investiduras. Nele tratou-se da reconquista dos Lugares Santos, e dele participou Santo Olegário. Por seu intermédio, o Conde de Barcelona ponderou ao Papa que a cruzada na Espanha contra os mouros era tão importante quanto a que se fazia na Terra Santa, porque também ali padeciam os cristãos. O Pontífice concordou com o conde, e também designou Santo Olegário como seu legado para toda a península, devendo favorecer especialmente as expedições contra Tortosa, Lérida e muitas outras terras ainda ocupadas pelos mouros. Ele acompanhou o conde na campanha, que terminou com a imposição de um tributo às duas primeiras cidades.
Em defesa do Papa verdadeiro 
No início do ano de 1130, com a morte do Papa Honório II, irrompeu um cisma na Igreja com dois papas: o verdadeiro, Inocêncio II, e o antipapa Anacleto II. Inocêncio foi então à França, via Pisa e Gênova, assegurando no caminho apoio à sua causa. Obteve o apoio de Luís VI e de quase todos os bispos franceses, e em novembro desse ano foi a Clermont, sendo recebido por fiéis e bispos entre os quais estava Santo Olegário. Juntamente com São Bernardo de Claraval e São Norberto, foi ele um dos baluartes na defesa de Inocêncio II, mas o cisma só terminaria em 1138, pela intervenção direta de São Bernardo. Como árbitro inconteste da Espanha, Santo Olegário foi em seguida a Saragoça promover a paz entre D. Alonso, Rei de Castela, e D. Ramiro, Rei de Aragão. Em 1131, Ramón Berenguer III o nomeou seu primeiro testamentário, cargo no qual ele o assistiu na última agonia nesse mesmo ano. Fez também uma viagem a Jerusalém, e na volta estabeleceu a Ordem dos Templários na Espanha. 
Conhece o dia de sua morte 
“Deus lhe fez a mercê de revelar-lhe o dia em que haveria de morrer, como ele mesmo tinha suplicado, a fim de se dispor melhor para aquele dia tão desejado dos santos. Com efeito, no sínodo que celebrou no mês de novembro, disse que aquele seria o último a que assistiria. E nos três dias seguintes pregou de modo muito particular aos eclesiásticos presentes, com grande ternura de coração, palavras muito amorosas e derramamento de lágrimas. Transpassava o coração dos ouvintes, os quais também derramavam lágrimas, não cessando o santo de exortá-los a exercer com amor seu ofício pastoral para com as almas que lhes tinham sido encomendadas”. 6 Antes do término do sínodo, já avançado em anos, Santo Olegário foi acometido pela enfermidade que o levaria à morte. “Como o santo havia ordenado, em todas as igrejas de Barcelona se faziam orações por ele. Olegário pedia a Deus, pela intercessão de Maria Santíssima e dos santos (cuja ladainha trazia na memória), que lhe ajudassem na hora da morte, e que o Senhor usasse de misericórdia para com ele, fazendo-o partícipe de sua santa glória. Recebeu os Sacramentos com exemplar devoção, e com as mãos juntas diante de um crucifixo, orava e falava com Deus, com a Virgem e com os santos, ora em voz alta, ora em voz baixa, ora só consigo mesmo, e meditava com devoção os passos da Paixão do Senhor, sobre a qual lhe falavam. Depois de haver dito em voz alta In manus tuas, Domine, commendo spiritum meum, fechou os olhos e entregou sua alma ao Criador”, no dia 6 de março de 1136, aos 76 anos de idade. Seu corpo permaneceu incorrupto durante mais de seis séculos. Conclui a mesma crônica: “Todos choravam sua morte e sua ausência, muito particularmente o Conde Dom Ramón Berenguer IV. Mas se consolavam com a confiança de que, quem tanto os amara em vida, amá-los-ia e protegeria ainda mais do Céu. Não houve pessoa em Barcelona que não chegasse a beijar-lhe as mãos e os pés, honrando-o como santo. Enterraram-no com muita pompa e solenidade no claustro da Catedral, com a assistência do conde, de todo o clero e do povo. Ajoelhando-se junto a seu sepulcro, cada qual pedia a Deus o que mais desejava, através de sua intercessão”.7 Acrescenta Ribadeneyra: “Muitos mortos foram ressuscitados, infindas pessoas recobraram a saúde, deu vista aos cegos, livrou de naufrágios, e Deus fez por sua intercessão soberanas maravilhas em seus devotos. Foi canonizado no uso antigo da Igreja, que era a veneração dos fiéis com a permissão dos sumos pontífices”.8 Essa canonização foi confirmada pelo Papa Inocêncio XI em 1675.9 
Plinio Maria Solimeo 
Notas: 
1. Pedro de Ribadeneyra, Flos Sanctorum, in La Leyenda de Oro, L. González y Compañia Editores, Barcelona, 1896, tomo I, p. 518. 
8. Ribadeneira, op. cit. p. 522. 
9. Outras obras consultadas: Pe. José Leite, S.J., Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1993, tomo I.; https://es.wikipedia.org/wiki/Olegario

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