Evangelho segundo São Marcos 8,14-21.
Naquele tempo, os discípulos esqueceram-se de arranjar comida e só tinham consigo um pão no barco.
Então Jesus recomendou-lhes: «Tende cuidado com o fermento dos fariseus e o fermento de Herodes».
Eles discutiam entre si, dizendo: «Fala assim porque não temos pão».
Mas Jesus ouviu-os e disse-lhes: «Porque estais a discutir que não tendes pão? Ainda não entendeis nem compreendeis? Tendes o coração endurecido?
Tendes olhos e não vedes, ouvidos e não ouvis?
Não vos lembrais quantos cestos de bocados recolhestes, quando Eu parti os cinco pães para as cinco mil pessoas?». Eles responderam: «Doze».
«E quantos cestos de bocados recolhestes, quando reparti sete pães para as quatro mil pessoas?». Eles responderam: «Sete».
Disse-lhes então Jesus: «Não entendeis ainda?».
Tradução litúrgica da Bíblia
Commonitorium, 23
«Ainda não entendeis nem compreendeis?»
Na Igreja de Cristo, poderá haver progresso na doutrina? Com certeza que tem de haver, e progresso considerável! Quem seria tão ciumento dos homens e inimigo de Deus que tentasse opor-se a ele? Mas com a condição de se tratar de verdadeiro progresso, e não de uma alteração da fé. É necessário que a inteligência, a ciência e a sabedoria cresçam e progridam fortemente em cada um e em todos, em cada homem e na Igreja inteira, ao longo dos anos e dos séculos; mas é preciso que progridam segundo a sua própria natureza, quer dizer, na mesma doutrina, no mesmo sentido, na mesma afirmação.
Que a religião das almas imite o desenvolvimento dos corpos: apesar de evoluírem e crescerem ao longo dos anos, permanecem o que eram. Há uma grande diferença entre o desabrochar da infância e os frutos da velhice, mas é a mesma pessoa que passa da infância à idade maior. É um só e mesmo o homem cuja estatura e maneiras se modificam, enquanto ele conserva a mesma natureza, enquanto ele permanece uma só e a mesma pessoa. Os membros dos bebés são pequenos, os dos jovens são grandes; são, contudo, os mesmos, que existiam já em potência no embrião. Do mesmo modo, a fé cristã deve seguir estas leis do progresso para se fortificar com os anos, para que o tempo a desenvolva e a idade a enobreça. Os nossos pais semearam o trigo da fé para a colheita da Igreja. Seria injusto e chocante que nós, os seus descendentes, em vez do trigo da verdade autêntica, recolhêssemos o erro fraudulento do joio (cf Mt 13, 24ss.). Pelo contrário, é justo e lógico que não haja desacordo entre os primórdios e o fim, e que recolhamos este trigo que se desenvolveu depois de ser semeado. Assim, para que uma parte das primeiras sementes evolua com o tempo, será conveniente fertilizá-las e aperfeiçoar o seu cultivo.
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