Evangelho segundo S. Lucas 10,25-37.
Naquele
tempo, levantou-se um doutor da lei e perguntou a Jesus para O experimentar:
«Mestre, que hei-de fazer para receber como herança a vida eterna?». Jesus
disse-lhe: «Que está escrito na lei? Como lês tu?». Ele respondeu: «Amarás o
Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas
forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo». Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem. Faz isso e viverás». Mas ele,
querendo justificar-se, perguntou a Jesus: «E quem é o meu próximo?». Jesus,
tomando a palavra, disse: «Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas
mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se
embora, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia pelo mesmo caminho
um sacerdote; viu-o e passou adiante. Do mesmo modo, um levita que vinha por
aquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano, que ia de
viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. Aproximou-se,
ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria
montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou
duas moedas, deu-as ao estalajadeiro e disse: ‘Trata bem dele; e o que gastares
a mais eu to pagarei quando voltar’. Qual destes três te parece ter sido o
próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?». O doutor da lei
respondeu: «O que teve compaixão dele». Disse-lhe Jesus: «Então vai e faz o
mesmo».
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos
Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São Gregório de Nissa (c. 335-395), monge, bispo
Homilia 15 sobre o
Cântico dos Cânticos
O bom samaritano
«Este é o meu amado; este é o meu amigo,
mulheres de Jerusalém» (Ct 5,16). A Esposa do Cântico mostra aquele que
procurava, dizendo: «Eis quem eu procuro, Aquele que, para Se tornar nosso
irmão, veio de Judá. Tornou-Se amigo daquele que caiu nas mãos dos salteadores;
curou as suas feridas com azeite, vinho e ligaduras; içou-o para a sua própria
montada; levou-o para uma estalagem; deu duas moedas de prata para que cuidassem
dele; e prometeu pagar, quando regressasse, o que tivessem gastado no
cumprimento das suas ordens». Cada um destes detalhes tem um significado bem
evidente.
O doutor da Lei tentou o Senhor e quis mostrar a sua
superioridade em relação aos outros, dizendo: «E quem é o meu próximo?» O Verbo
expõe-lhe então, sob a forma de uma narrativa, toda a história sagrada da
misericórdia: conta a queda do homem, a emboscada dos salteadores, o roubo da
veste incorruptível, as feridas do pecado, a invasão causada pela morte em
metade da nossa natureza (uma vez que a nossa alma permanece imortal), a
passagem inútil da Lei (uma vez que nem o sacerdote nem o Levita trataram das
feridas daquele que tinha caído nas mãos dos salteadores).
«Era, na
verdade, impossível que o sangue dos toiros e dos carneiros apagasse o pecado»
(Heb 10,4): só o podia fazer Aquele que revestiu toda a natureza humana: a dos
judeus, dos samaritanos, dos gregos, numa palavra, de toda a humanidade. Com o
seu corpo, que é a montada, Ele veio ao encontro da miséria do homem. Curou as
suas feridas, fê-lo repousar na sua própria montada, fez da sua misericórdia uma
estalagem, onde todos os que penam e se vergam sob o seu fardo encontram repouso
(cf Mt 11,28).
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