Evangelho segundo São Lucas 18,9-14.
Naquele tempo, Jesus disse a seguinte parábola para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros:
«Dois homens subiram ao Templo para orar; um era fariseu e o outro publicano.
O fariseu, de pé, orava assim: "Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano.
Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de todos os meus rendimentos".
O publicano ficou a distância e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu; mas batia no peito e dizia: "Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador".
Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».
Tradução litúrgica da Bíblia
Abade (1858-1923)
A humildade
«Todo aquele que se exalta será humilhado
e quem se humilha será exaltado»
Vede o fariseu: é um homem convencido da sua importância, cheio e seguro de si mesmo; o «eu» deste homem está presente nas suas palavras e em toda a sua atitude. O fariseu tem o «coração duplo», como diz o salmista (Sl 11,3); o desprezo com que trata o publicano mostra que se julga muito mais perfeito que ele; deste modo, reserva para si próprio a glória que aparentemente dá a Deus. Ele nada pede a Deus, porque considera que não precisa de nada: basta-se a si próprio; o que faz é expor o seu comportamento à aprovação de Deus. No fundo, e na prática, esta personagem está convencida de que todas as suas perfeições têm origem nele. E o que faz o outro ator da cena, o publicano? Mantém-se a distância, não se atrevendo sequer a erguer os olhos, porque se sente miserável. Terá algum título a que possa recorrer diante de Deus? Nenhum. Tem consciência de trazer apenas os seus pecados. Confia apenas na misericórdia divina; nada espera, a não ser dela; toda a sua confiança e toda a sua esperança estão depositadas em Deus. E que reação tem Deus a estes dois homens? Uma reação muito diferente: «Eu vos digo», declara Cristo Jesus, «que este [o publicano] desceu justificado para sua casa e o outro [o fariseu] não». No final da parábola, o próprio Jesus enuncia a lei fundamental que rege a nossa relação com Deus, salientando a lição essencial que temos de aprender: «Todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado». Vede a que ponto o orgulho é inimigo da união da alma com Deus. Sendo Deus a fonte de todas as graças, o orgulho é o mais terrível de todos os perigos para a alma; pelo contrário, não há caminho mais seguro que a humildade para chegar a Deus e alcançar a santidade.
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