Retomamos,
em certo sentido, a temática da espiritualidade e o social. Quando tratamos do
tema “espiritualidade e as flores”, refletimos sobre o mundo como lugar e
caminho de espiritualidade. Mas no mundo não há somente flores, há também os
jardineiros. Se Deus colocou o homem e a mulher no Paraíso para o cultivarem,
estava delineando o futuro deste Jardim do Éden como lugar de todos. O mundo
belo é para ser vivido em companhia dos outros. Pelo pecado não perdemos,
contudo, a condição de viver com as pessoas e transformar este mundo em um
Paraíso. Em uma sociedade que se torna cada vez mais individualista, recebemos
a bela mensagem de Jesus: “Não peço que os tire do mundo” (Jo 17,15). É no
mundo das pessoas que nos santificamos e juntamente com as outras pessoas. Como
o homem é um ser social, a espiritualidade é também social. Ninguém vai ao Céu
sozinho. Este mundo é marcado por tantos problemas que aumentam os males aos
sofredores. Se eu não tenho em meus olhos as lágrimas dos sofredores, se não
tenho em mim as batidas doloridas de seu coração, o vazio de seus estômagos, os
anseios de um mundo melhor, jamais vou conseguir a santidade. Nossos olhos
devem ver o mundo com os olhos de Jesus. Essa é a verdadeira contemplação que
conduz à santidade. O que marcou muitas espiritualidades foi justamente essa
dificuldade de reconhecer o outro como dom de Deus no caminho da santificação.
O mandamento de Jesus é justamente o amor ao próximo. “Dou-vos um novo
mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13,34). Uma
frase da espiritualidade de tempos passados dizia: “quanto mais fui para o meio
dos homens, menos homem voltei”. Ao contrário dizer: ‘quanto mais estive no
meio do povo para me santificar e ajudar na sua santificação, mais homem me
tornei’.
(34) Tinham
tudo em comum
Os
santos que impressionaram o mundo foram homens e mulheres dedicados à
comunidade, mesmo quando viviam sozinhos, como é o caso do grande eremita Santo
Antão que se interessava pelos grandes problemas da Igreja. Um dos pontos que
saltam à vista na Igreja primitiva é o aspecto comunitário. “Viviam unidos,
tendo tudo em comum”. A vida era em comum. Por isso chamamos de comunidade.
Mesmo respeitando a individualidade de cada um, tudo é colocado em comum.
Justamente nesta condição é que se desenvolve a individualidade. Se a Trindade
é uma vida participação, também a espiritualidade deve se desenvolver na
comunidade.
(35) Serão uma só carne.
A
comunidade é formada de famílias onde se desenvolvem muitas relações que são os
meios concretos de se edificar a espiritualidade. Encontramos as virtudes
familiares, o mandamento do amor e o respeito mútuo. Quando dizemos que a
família é a base da sociedade, podemos dizer também que é a edificação da
Igreja. São as famílias que, vivendo a vida cristã, constroem o caminho de vida
espiritual da Igreja. A Igreja não viverá sem a família. Assim, a
espiritualidade se desenvolve dentro dos lares. Que adianta fazer um belo
caminho espiritual, quando abandonamos nossa família? Ela pode ser um desafio à
santidade, mas é no desafio que temos as maiores vitórias.
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