Evangelho segundo S. Mateus 8,28-34.
Naquele
tempo, quando Jesus chegou à região dos gadarenos, na outra margem do lago,
vieram ao seu encontro dois possessos, que habitavam nos sepulcros. Eram tão
ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho. Vendo-o, disseram em
alta voz: «Que tens a ver connosco, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos
antes do tempo?» Ora, andava a pouca distância dali, a pastar, uma grande
vara de porcos. E os demónios pediram-lhe: «Se nos expulsas, manda-nos para
a vara de porcos.» Disse lhes Jesus: «Ide!» Então, eles, saindo, entraram
nos porcos, que se despenharam por um precipício, no mar, e morreram nas águas. Os guardas fugiram e, indo à cidade, contaram tudo o que se tinha passado
com os possessos. Toda a cidade saiu ao encontro de Jesus e, vendo-o,
rogaram-lhe que se retirasse daquela região.
Comentário do dia:
Concílio Vaticano II
Constituição
sobre a Igreja no mundo contemporâneo «Gaudium et spes», § 13
A liberdade humana: «rogaram-Lhe que Se retirasse daquela
região».
Estabelecido por Deus num estado de
santidade, o homem, seduzido pelo maligno, logo no começo da sua história abusou
da própria liberdade, levantando-se contra Deus e desejando alcançar o seu fim
fora dele. Tendo conhecido a Deus, não Lhe prestou a glória a Ele devida, mas o
seu coração insensato obscureceu-se e ele serviu a criatura, preferindo-a ao
Criador (Rom 1,21ss). E isto que a revelação divina nos dá a conhecer concorda
com os dados da experiência. Quando o homem olha para dentro do próprio coração,
descobre-se também inclinado para o mal, e imerso em muitos males, que não podem
provir do seu Criador, que é bom. Muitas vezes, recusando reconhecer Deus como
seu princípio, perturbou também a devida orientação para o fim último, e
simultaneamente toda a sua ordenação, quer para si mesmo, quer para os demais
homens e para toda a criação.
O homem encontra-se, pois, dividido em si
mesmo. E assim, toda a vida humana, quer singular quer colectiva, se apresenta
como uma luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas. Mais: o
homem descobre-se incapaz de repelir por si mesmo as arremetidas do inimigo,
sentindo-se como que preso com cadeias. Mas o Senhor em pessoa veio libertar e
fortalecer o homem, renovando-o interiormente e lançando fora o príncipe deste
mundo (cf Jo 12,31), que o mantinha na servidão do pecado. Porque o pecado
diminui o homem, impedindo-o de atingir a sua plena realização.
A
sublime vocação, bem como a profunda miséria que os homens em si mesmos
experimentam, encontram a sua explicação última à luz desta revelação.
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