domingo, 11 de setembro de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Ensina-nos a rezar”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
SACERDOTE REDENTORISTA
NA PAZ DO SENHOR
Um Pai que é nosso
 
Domingo passado vimos o testemunho de Maria, irmã de Lázaro, que fica aos pés do Senhor ouvindo a Palavra. Agora Ele dá uma catequese sobre a oração. Essa parte do testemunho pessoal: “Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: ‘Senhor, ensina-nos a orar como João ensinou a seus discípulos’” (Lc 11,1). É claro que catequese se dá primeiro pelo testemunho. O Pai Nosso de Lucas é mais sintético do que aquele ensinado por Mateus. Lucas não diz Pai Nosso, mas somente Pai. Está bem dentro da tradição de Jesus, como também nos ensina Paulo, mestre de Lucas. Usa o termo hebraico Abbâ’, insinuando a ternura com que as crianças chamam seu pai – paizinho. Era como Jesus se referia ao Pai. Entramos em Seu coração para a oração. Não se fica num frio apelativo de Pai Nosso, formal, uma oração a ser recitada, mas coração a coração. Ao dizermos santificado, no sentimento de adoração ao Pai, reconhecemos e anunciamos o quanto Ele é bom e grande em amor. Querer que o Nome, isto é, Deus, seja santificado é dizer que seja conhecido e amado. É um sentimento missionário: assumimos ser como o Pai, ser luz para o mundo (Mt 5,14-15). Invocar que venha o Reino significa querer que o Cristo venha com seu Espírito para o meio de nós. Ao pedir o pão, pedimos o pão de cada dia para o corpo, o pão da Palavra e o pão do Sacramento. Ao implorar o perdão dos pecados, imploramos a ação reconciliadora operada pelo Espírito. É uma remissão que atinge a nós no perdão das ofensas, para a recuperação pessoal. Pedimos para sermos livres da tentação. Nela estamos unidos a Jesus pois em sua tentação somos tentados e Nele somos vencedores. A oração de Jesus orienta-nos em nosso processo espiritual e de renovação do mundo. 
Não muito, mas muitas vezes 
A catequese sobre a oração continua com a explicação da oração incessante. O Pai atende ao pedido de quem o pede com fé, isto é, com confiança. Dará tudo e mais do que precisamos, pois dá o Espírito, dom infinito, com o qual nos dá todas as coisas. A oração insistente é sinal de nossa união com o Espírito que ora em nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8,26). Jesus conta a parábola do amigo inoportuno que ganha o que precisa não pela amizade, mas pela insistência. Deus sempre ouve a oração, de quem quer que seja, como seja, mas desde que seja insistente. A insistência denota a segurança da fé. O Pai do Céu é melhor do que nós quando ouve nossas súplicas. A oração insistente tem uma prova no Antigo Testamento, quando Abraão intercede pelas cidades de Gomorra e Sodoma. Em sua oração insistente tem o modelo do mercado oriental ao pechinchar o preço. Deus aparece com a figura de um comerciante. Rezar não é dizer muitas coisas a Deus, mas dizer muitas vezes a mesma coisa. É insistir, contato com Deus. 
Respiração da vida 
Paulo afirma que o batismo sepultou-nos com Cristo. Fomos com Ele sepultados e com Ele ressuscitados. Essa participação significa para nós vida em Cristo. A situação do cristão não é de busca, mas de aceitar o que se é. Jesus nos trouxe para a vida e a todos nós perdoou os pecados (Cl 2,13). Basta viver essa vida. Lavou nossos pecados com seu sangue e cancelou o contrato que nos condenaria (14). A oração do cristão tem como ponto de partida sua união a Cristo em sua morte e ressurreição. Não podemos deixar de lado o diálogo com o Pai que Jesus abriu para nós pelo caminho da oração. 
Leituras: Gênesis 18,20-32; Salmo 137; 
Colossenses 2,12-14; Lucas 11,1-13 
 1. No domingo passado ouvimos a narrativa da visita de Jesus às irmãs de Lázaro. Maria contemplava Jesus ouvindo suas palavras. Após esse texto temos a Sua catequese sobre a oração. Parte de seu próprio testemunho. Encontraram Jesus orando e pediram que os ensinasse a rezar. Jesus parte do ponto central: Dialogar com o Abbâ’, Paizinho. A seguir dá pistas por onde passar em nossa oração: Santificado seja o Nome, venha o Reino, dá-nos o pão, perdoa nossos pecados e não nos deixes cair na tentação. A oração passa por diversas etapas e orienta-nos.
2. Depois de dizer o que devemos rezar, diz que a oração deve ser incessante, com fé, isto é, com confiança. Deus vai ouvir sempre. O Antigo Testamento oferece o exemplo da prece negociada com Deus por Abraão. Faz parte da oração, insistir. Não dizer muitas coisas, mas muitas vezes as mesmas coisas. 
3. Seguindo o texto de Paulo compreendemos que o Batismo nos deu a vida pela morte e ressurreição de Jesus. Trouxe a vida e cancelou nossa condenação. A oração tem como ponto de partida sua união com Cristo que nos abre o caminho da oração. Ela se transforma em um diálogo com o Pai. 
Ele não nega fogo 
Jesus não era só bom de prosa, mas tinha um jeitão de mostrar como se fazem as coisas que dão gosto. Vejam só: “Jesus estava rezando sozinho num certo lugar”. Era tão bonito aquilo, que eles disseram: “Mestre ensina-nos a rezar!” Jesus, então, mostra-lhes o que se reza e como se reza. O Pai nosso não é uma oração, é o conteúdo de nossa oração. É a receita. A gente não come a receita, faz o bolo. A receita diz que a gente deve conversar com o Paizinho (Abbâ’, em hebraico), dispor-se a aceitar o Deus de nossa vida. Pedimos para viver no Reino e nos dispomos a fazer sua vontade. Rezamos pedindo o pão, prometemos o perdão, e pedimos que sejamos fortes na tentação e livres do mal. Fácil. Como rezar? Insistir e encher a paciência de Deus que é eterna. Não é preciso dizer muitas coisas a Deus, mas muitas vezes as mesmas coisas. Ele não nega fogo, pois é bem melhor do que nós. Não dá pedra a quem pede pão. 
Homilia do 17º Domingo Comum
EM JULHO DE 2007

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