quarta-feira, 8 de março de 2017

Beata Maria Antônia de S. José, Virgem - 7 de março



      Em 1760, em Santiago del Estero, Maria Antônia de Paz y Figueroa reuniu um grupo de jovens que viviam em comum, rezavam, exerciam a caridade e colaboravam com os padres jesuítas. Elas eram então chamadas de “beatas”, atualmente se diz leigas consagradas. Durante 20 anos Maria Antônia esteve a serviço dos padres jesuítas, assistindo-os especialmente nas tarefas auxiliares dos exercícios espirituais.
     Por ocasião da expulsão dos jesuítas em 1767, Maria Antônia pediu ao frei mercedário Diego Toro que assumisse as tarefas próprias da pregação e da confissão, enquanto ela se ocuparia com suas companheiras do alojamento e as provisões para continuar com os exercícios espirituais. A amizade com os jesuítas ela manteve via epistolar.
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Viajava caminhando descalça
     Tempos depois abandonou Santiago del Estero para organizar exercícios espirituais em Jujuy, Salta, Tucumán, Catamarca e La Rioja.
     “Mama Antula”, como a chamavam, era uma mulher com um estilo muito peculiar. Fazia as viagens caminhando descalça e pedindo esmolas. Não se tem testemunhos de quantas vezes preparou exercícios em algumas cidades, porém só em Tucumán foram feitos sessenta. Apesar de viajar por montanhas, desertos e lugares que desconhecia, jamais sofreu percalço algum. Em Catamarca sofreu uma doença e foi desenganada pelo médico. “Me recomendei ao Sagrado Coração e logo me senti curada, sem nenhum remédio”, assegurou. Uma vez quebrou uma costela, em outra ocasião deslocou um pé, “mas fui curada uma e outra vez por mão invisível”, repetia.
     Em menos de um ano organizou em Córdoba oito eventos de 200 e 300 pessoas. Sempre conseguia as esmolas suficientes para manter toda essa gente, inclusive em certas ocasiões havia um excedente que seria para ajudar os pobres e os presos.
     Em Buenos Aires, entretanto, ela não foi bem recebida. Trataram-na como louca, bêbada, fanática e até de bruxa. As crianças das periferias da cidade ao vê-la chegar com um aspecto desagradável devido à longa viagem, começaram a apedrejá-la e a apupá-la. O bispo mostrou desconfiança e postergou uma resposta por nove meses, enquanto solicitava informação sobre Maria Antônia. Em breve não apenas deu autorização, como também se tornou um grande admirador seu e lhe deixou um apreciável legado.
     Um ferrenho opositor seu foi o vice-rei Vértiz, devido sua antipatia visceral a tudo que fosse jesuítico. Nessa atitude permaneceu por dois anos e, como tinha poderes no terreno religioso, negou autorização a Maria Antônia para organizar os exercícios espirituais. Na época deu-se um grande reboliço e só se falava dela, que realizava os exercícios de forma clandestina em casas alugadas pelo bispo. As pessoas da nobreza começaram a concorrer a eles às escondidas e quando se soube disto Maria Antônia não pode esconder o fato. Ela tinha conseguido uns terrenos nas cercanias de Buenos Aires por meio de doações. As promessas de um trabalho melhor no centro de Buenos Aires, junto com a fé que depositavam em Cristo graças à pregação de Maria Antônia, haviam sido o motor para a grande viagem que realizaram a pé. Ao ser descoberta oficialmente, ela se viu obrigada a ter uma reunião com o vice-rei. Chegaram a um acordo em que ela aceitou ceder seus escravos ao vice-rei e a pô-los a seu serviço em sua propriedade pessoal se este aceitasse as práticas e lhe facilitasse a mão-de-obra para a construção de sua sede religiosa.
     Uma vez que este acordo se tornou oficial, as pessoas da nobreza e as pessoas de alto poder econômico e social que não tiveram que ocultar-se para frequentar os exercícios fizeram grandes doações a Mama Antula para que ela pudesse construir a atual casa de exercícios espirituais.
     Duas amigas suas haviam empreendido a organização dos exercícios em Salta e Tucumán. Isto deu a ela alento para dar forma a seu pequeno grupo de beatas, iniciando um postulantado, vestição de hábito e a formulação de votos privados.
     Tempos depois ela foi convidada pela Região Oriental (hoje Uruguai) para propagar ali os exercícios espirituais.
     Em 1788, Ambrósio Funes escreveu uma carta contando que em oito anos umas setenta mil pessoas haviam feito os exercícios espirituais, por isso projetava uma casa dedicada especialmente a estas práticas. Como resposta obteve a doação de três parcelas de terreno contiguas, a primeira delas doada em 27 de novembro de 1788 por Antonio Alberti e Joana Agostinha Marin, pais do sacerdote Manuel Alberti, integrante da Primeira Junta; poucos dias depois, um segundo lote foi doado por Pedro Pavón e Benedita Ortega; e em 10 de dezembro, Alfonso Rodriguez e Francisca Jirado doam a terceira parcela. Porém, faltava tudo, de maneira que ela começou a pedir ajuda e teve como auxiliar a Cornélio Saavedra.
     A prática dos exercícios espirituais passou a ser uma das atividades religiosas mais prestigiosas da vida portenha, e tanto os setores mais privilegiados como os de condição humilde encontraram em Mama Antula a pessoa a quem encomendar suas orações.
     Em 1784 o bispo de Buenos Aires, Sebastião Malvar y Pinto, enviou carta ao Papa informando que durante os quatro anos em que se realizaram os exercícios espirituais nessa cidade, cerca de 15 mil pessoas passaram por eles sem que se lhes tivesse pedido “dinheiro pelos dez dias de sua estadia e abundante manutenção”.
     Em Roma, as cartas de Maria Antônia a seus amigos jesuítas, depois de traduzidas para o latim, francês, inglês e alemão, eram enviadas à diferentes nações, em particular para a Rússia, único país que não havia acatado o desterro dos jesuítas. Certos conventos franceses se reformaram após lerem suas cartas. A importância dada pelo bispo de Buenos Aires aos exercícios o levou a dispor que “nenhum seminarista se ordenasse sem que primeiro a beata certificasse a conduta com que se haviam portado nesses exercícios”. Isto demonstra o papel significativo de Maria Antônia na Igreja portenha daquela época.
O retiro final
     Maria Antônia sentia que as forças fraquejavam. Estava com sessenta e nove anos e não pode concluir sua obra: faleceu no dia 7 de março de 1799. Entretanto, o grupo de mulheres que a acompanhavam se tornou uma pujante congregação religiosa em 1878, que hoje desempenha suas tarefas apostólicas em várias províncias. O coração de Madre Antula continua palpitando na Santa Casa de Exercícios que se conserva em Buenos Aires como um dos edifícios mais antigos da cidade e entesoura velhas recordações em forma de imagens, muros, portas e pátios, que constituem um patrimônio vivo da história argentina.
Beatificação
     Ela foi proclamada Beata em Santiago del Estero pelo Cardeal Ângelo Amato, enviado especial do Papa Francisco, em 27 de agosto de 2016. Um cartaz com o seu lema "Chegar até onde Deus não seja conhecido para fazer com que o seja" foi colocado no altar em meio a aplausos de umas 50 mil pessoas reunidas na praça Gerardo Sueldo, do parque Aguirre, na capital provincial. Cantavam “Que Cristo viva!”, enquanto as imagens de Nosso Senhor dos Milagres de Mailin, das virgens de Loreto, da Consolação de Sumampa, de Huachana e a do Padre Brochero (que foi canonizado em 16 de outubro de 2016) chegavam ao cenário colocado na praça.
     O Cardeal Amato indicou que a festa litúrgica em honra a esta leiga consagrada é o dia 7 de março, data de sua morte.
     Mama Antula se tornou a nona pessoa de nacionalidade argentina a ser beatificada.


Beata Maria Antônia e a devoção à São Caetano
(Extraído do livro: “Vida breve de María Antonia y la devoción a San Cayetano”)
     Não foram os imigrantes italianos que trouxeram a devoção à São Caetano, mas a muito argentina Maria Antônia de São José.
     Desde que partiu de Santiago del Estero o colocou como patrono de sua obra evangelizadora, pois ele é o “Santo da Providência” e a ele se recomendou em todas as suas tarefas. E São Caetano atendeu. Nunca faltou o sustento material na casa fundada pela Beata e a primeira imagem do santo se venera na Santa Casa de Exercícios quase desde sua fundação em 1795.
     Depois de sua morte a devoção à São Caetano cresceria desde a capela da Santa Casa de Buenos Aires, se transladaria para Liniers, onde as Irmãs Filhas do Divino Salvador levantam um colégio e uma capela.
     As Irmãs fomentaram a devoção ao Santo da Providência e em várias ocasiões de grandes secas os chacareiros do lugar recorriam a São Caetano para que os socorresse e este ouvia suas preces; então começou-se a invocá-lo como o “patrono do pão e do trabalho”.
     Assim nasceu e cresceu a devoção ao tão popular São Caetano. A cada dia 7 do mês, e em todos os dias 7 de agosto, milhares de peregrinos recorrem ao Santo agradecidos e pedindo saúde e trabalho. Na parede lateral do Santuário se encontra a imagem da Beata Maria Antônia.

A primeira figura da idade moderna
       Em 1547 o vice-rei de Nápoles, D. Pedro de Toledo, decidiu estabelecer ali o Tribunal da Inquisição nos moldes do espanhol. A nobreza e o povo se amotinaram e a sedição foi afogada em sangue. Isso resultou numa verdadeira guerra civil. As súplicas e mediações de São Caetano foram em vão. Como registra a bula de sua canonização, “aquebrantado pela dor ao ver Deus ofendido pelos tumultos populares, e mais ainda pela suspensão do Concílio de Trento, no qual havia posto tantas esperanças, caiu enfermo de morte”11 e faleceu no dia 7 de agosto de 1547. A bula diz ainda que, no mesmo dia de seu falecimento, cessaram todas as revoltas populares, segundo se crê por sua intercessão.
     Seu ofício litúrgico afirma que São Caetano, por seu infatigável zelo, mereceu ser chamado Caçador das almas. O povo cristão o invoca com o título de Pai de Providência, porque sua intercessão é muito eficaz para se obter para as famílias e indivíduos os dons da Providência Divina. Um escritor, referindo-se ao santo, afirmou que, “como homem e como sacerdote, é a primeira figura da idade moderna”.

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