Há coisas na religião
que ficam meio que de escanteio quando se dá o ensinamento. Isso pode prejudicar
nossa fé. É o caso da Ascensão. Não
sabemos explicar e, o que é pior, viver essa realidade fundamental da fé.
Rezamos: “... ressuscitou no terceiro dia e subiu ao Céu; está sentado à
direita do Pai todo poderoso, donde há de vir julgar os vivos e os mortos” (Creio).
Dá-se a impressão que foi e agora é só esperar o fim. Há duas realidades que
podem nos ajudar a tornar esse mistério da glorificação mais compreensível e
mais presente em nossa vida. Vejamos: Jesus assumiu nossa realidade humana,
isto é, a nossa carne, em sua Encarnação. Ao morrer e ressuscitar não perdeu
essa condição humana. Ela foi transformada em como será a nossa condição um
dia. Ao encerrar esse momento da condição humana visível, Ele nos levou consigo
em sua humanidade que é a nossa. Nós já estamos na “glória” com Ele. Não nos
afastou de si. Nossa condição humana e espiritual é de cidadãos dos Céus. Estamos
indo para a posse total. Outro engano é que, como participante de nossa
natureza, participa de nossas vidas em nossa condição mortal. Gera-se um
processo de permanente mudança de nossa vida humana em vida ressuscitada. Não
sabemos explicitar o que seja viver ressuscitado pela fé. A vida é a mesma, mas
as atitudes se modificam para o bem. Mas há tanto mal no mundo, podemos dizer.
Se não houvesse essa transformação, a situação estaria pior. Os progressos do
mundo, em tudo, são feitos pelos homens e mulheres dedicados ao ser humano. São
frutos da inteligência, mas também do amor ao ser humano e à natureza. São
resultados do amor. Se for amor, é divino. Podemos dizer: “não aceito religião”.
“Sou ateu”. O bem não nos rejeita e não depende de nós. O bem é sempre vindo de
Deus. Ele não depende de nossos esquemas.
1724. O Céu está na
terra
Subiu ao Céu, mas não
nos deixou. Levou-nos consigo, mas ficou conosco em seu projeto de amor vivido.
Ele diz: “estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Essa presença é tão segura quanto
nossos fatos reais. Não se trata primeiro de um sacrário onde está o
Santíssimo. É outra dimensão. Não está nos atos religiosos que realizamos. Esses
são necessários para alimentar nossa participação. Tudo é bom, mas não podemos
deixar de lado sua presença que permanece em nós. Podemos dizer: “Não sou bom”!
Mas Jesus é. Quer conosco construir o Céu na terra. A vida celeste se torna espelho
para realizarmos bem a terrestre. Deus disse a Moisés quanto à construção do
santuário: “Faz tudo de acordo com o modelo que viste na montanha” (Ex 25,40).
O problema é que construímos só de acordo com nossos projetos. O evangelho é o
modelo.
1725. Projeto para
construir o Céu
Quando falamos de Céu, temos idéias
que desanimam a caminhada. Não vale a pena. O Céu,nós o construímos dentro de
nós. Com isso temos condições de construir uma nova terra. A Ascensão é o
início das obras depois que Jesus cumpriu tudo o que devia. Nós participamos de
sua obra. O espiritualismo é muito bom, mas não pode ficar nisso. Há de se
colocar as mãos na massa. É um mutirão. Todos, felizes, dando sua colaboração
para o bem. Vence o mal pelo bem (Rm 12,21). A espiritualidade que rege toda nossa
vida não nos tira da realidade, mas nos põe em busca dos pontos mais frágeis de
nosso mundo. Jacó viu uma escada que ia da terra ao céu (Gn 28,12). Se não se
apoiar na terra, não se chega ao céu.
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