PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Acolher
é evangelizar
O
evangelho de Marcos para o 6º Domingo Comum narra a cura de um leproso. Além de
mostrar uma cura, é uma evangelização importante: o acolhimento do pecador. É
significativo para a comunidade que passa a ver o pecador com a mesma
misericórdia que Jesus teve para com o leproso. Os leprosos, depois de identificada
a lepra pelo sacerdote, eram excluídos da comunidade. Deviam andar com a barba
coberta, cabeça descoberta, roupas rasgadas. Era um sinal de luto. Devia
gritar: impuro! Quem o tocasse também ficava impuro. O livro do Levítico nos
capítulos 13 e 14, traz uma legislação exigente sobre a lepra (Na verdade era uma
medida de profilaxia que se tornou uma lei de exclusão identificando-a com o
mal). O sacerdote no templo era o responsável para identificar quem era leproso
excluindo-o da comunidade com conseqüências sociais, religiosas e pessoais.
Compete a ele também comprovar a cura. O
leproso curado deveria celebrar a purificação com um ato religioso de
sacrifício. A cura era uma verdadeira ressurreição. Marcos relata a cena: O leproso se aproxima de
Jesus, o que era proibido; não se chama de impuro, imundo, mas pede a cura com
simplicidade de quem acolhe uma bondade. Jesus toca-o! Tocar no leproso era
proibido. Era fazer-se leproso e entrar na marginalidade. Faz um gesto de
acolhimento totalmente “pecaminoso” na linguagem da religião judaica do
momento. Jesus rompe a barreira da exclusão e o restitui à comunidade,
inclusive ao culto. Aceita o aspecto social de apresentar-se ao sacerdote para
a volta à vida normal, mas não aceita a severidade da lei que pune um doente.
Jesus, longe de ter medo, está cheio de compaixão (Mc
1,41). Esse milagre ensina os cristãos a não excluírem as pessoas seja por
motivo de doença seja por pecado. Isso eram ranços da religião judaica.
A
exclusão é pecado
Jesus
toca o leproso. É o gesto divino de inclinar-se sobre o sofrimento humano. “Deus
é aquele que com a mão alivia a dor, segundo uma inscrição grega” (Ravasi). A
lepra é um símbolo do pecado para o antigo tempo. Causa medo. Lembro-me, quando
pequeno, ver os “doentes do sangue”
passar pela fazenda a cavalo pedindo esmola. Tínhamos muito medo. Não se tocava
o que eles tocavam. A comunidade repete esse tratamento com respeito aos
pecadores, aqueles que dizemos que não prestam ou não são como nós somos. A
comunidade tem que se colocar contra o que pensa o mundo, para poder
compreender o mal da exclusão. É um pecado hediondo excluir a pessoa pela raça,
cor, mentalidade, partido, formação, religião e mesmo por ter uma vida errada.
Jesus tocou o leproso que era um símbolo da exclusão. A misericórdia inclui a
pessoa e as cura.
Comunidade
lugar do perdão
A
cura do leproso é símbolo da libertação da lepra do pecado que exclui. A
comunidade tem medo de se sujar com o pecado dos outros. Mas ela deve ter, como
Jesus, sentimentos maternos de misericórdia pelo filho excluído. É o lugar do
perdão e da cura. O excluído pelo pecado deve abrir o coração e pedir socorro pois
é o melhor remédio para a cura. Devemos tomar cuidado para que os “santos” da
comunidade não sejam os que excluem. Marcos também coloca a questão do silêncio
sobre o ocorrido. Jesus não quer que se confunda sua missão só como cura, mas
evangelização. Se buscarmos a glória de Deus, podemos, como Paulo, ser modelos
para a comunidade. Cada celebração é lugar do perdão e da inclusão sempre maior
de seus membros. É nela o lugar de proclamar Jesus.
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