Celebramos, depois de Corpus Christi, a festa do Sagrado Coração. Desde a Idade Média e, com grande desenvolvimento no século XVII e seguintes, afirmou-se muito a devoção ao Sagrado Coração. O culto público ao Sagrado Coração foi consolidado em 1765, por Clemente XIII, ao introduzir sua festa litúrgica, com Missa e ofícios próprios. Esse culto penetrou profundamente a vida da comunidade cristã, a família e as instituições. Lembro-me, quando era menino, ter sido realizada, em minha casa, a entronização do quadro dos Sagrados Corações de Jesus e Maria. Era muito apreciada a novena de comunhões das primeiras sextas-feiras. Grande era o proveito espiritual. A festa difere das outras do tempo litúrgico por centrar-se mais em uma devoção. Pelo desenvolvimento litúrgico, ela recebe uma reformulação, passando da devoção para uma fundamentação mais consistente, centrada no grande amor de Deus pela humanidade em dar seu Filho. Esse amor é expresso na imagem do Coração do amado Filho. Rezamos na Missa: “Alegrando-nos pela solenidade do Coração de vosso Filho, meditemos as maravilhas de seu amor e possamos receber, desta fonte da vida, uma torrente de graças” (Oração). Devemos partir do coração de Jesus, ferido pela lança do soldado. “Elevado na cruz, entregou-se por nós com imenso amor. E, de seu lado aberto pela lança, fez jorrar, com a água e o sangue (Jo 19,34), os sacramentos da Igreja, para que todos, atraídos ao seu Coração possam beber, com perene alegria, na fonte salvadora”(Prefácio). As profecias anunciaram, como o profeta Zacarias escreve: “Naquele dia haverá uma fonte aberta para a casa de Davi, e para os habitantes de Jerusalém, para remover o pecado e a impureza” (Zc 13.1). Não se trata só de purificação, mas de amor. Deus nos olha através do coração de seu Filho: “Considerai, ó Deus, o indizível amor do Coração do vosso amado filho” (Oferendas).
Rios de águas vivas
A Palavra de Deus orienta-nos a buscar, nessa celebração, a fonte de amor que brota do coração do Pai e jorra para nós do coração do Filho e é implantada em nosso coração pelo Espírito: “Deus O Senhor se afeiçoou a vós e vos escolheu ... porque o Senhor vos amou e quis cumprir o juramento feito a vossos pais” (Dt 7,7-8). Deste amor provêm todas as graças: “Possamos receber desta fonte da vida uma torrente de graças” (Oração). Não podemos entender “graças” como dons separados de Cristo. Ele é para nós a Graça. “Porque a Graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11). Viver a Graça é deixar agir o Espírito: “Aquele que crê em mim, de seu seio jorrarão rios de água viva”(Jo 7,38). O amor de Deus em nossos corações é uma fonte de vida.
Bebendo nas fontes do Salvador
Lembramos, nessa celebração, o convite de Jesus para estar com Ele: “Vinde a mim, vós todos que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos pecados, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e meu fardo e leve” (Mt 11,28-30). Bebendo das fontes: “Com alegria buscareis água nas fontes da salvação” (Is 12,3). “Que este sacramento da caridade nos inflame em vosso amor, e sempre voltados para o vosso Filho, aprendamos a reconhecê-lo em cada irmão” (pós-comunhão). O amor de Cristo nos impele a amar os irmãos. Em cada celebração, bebemos dessa fonte para distribuí-la aos irmãos. O Coração Eucarístico de Jesus é fonte de serviço de amor aos irmãos. A devoção ao Sagrado Coração só será verdadeira, se nos levar ao amor.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM MAIO DE 2008
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