quinta-feira, 9 de junho de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Purificados pela Palavra”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
SACERDOTE REDENTORISTA
NA PAZ DO SENHOR
Vós abandonais o mandamento
 
Jesus, interrogado pelos fariseus a respeito do descaso dos discípulos quanto à tradição, resolve uma questão muito delicada: “O que torna o homem impuro?”. Alguns discípulos comem com mãos impuras. A limpeza das mãos não é uma questão de higiene, mas purificação. A refeição é sagrada como um culto. Por isso é preciso a pureza ritual de acordo com a tradição. Havia outras tantas tradições que não provinham da Palavra, mas das explicações dos entendidos. O que interessava aos fariseus eram as tradições. Jesus leva-os a refletir sobre a Palavra de Deus. Os profetas denunciam que o povo honra Deus com palavras que não correspondem ao coração. Chegam a abandonar o mandamento para dar lugar às tradições (Aqui não se trata da Tradição que desenvolve a fé). Nesse quadro de uma religião exterior e ritualista, Jesus ensina que as más intenções do coração fazem o homem impuro. E enumera: ‘Imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo’ (Mc 7,21-22). Essas mancham o homem. O cuidado em guardar a tradição acaba por deixar de lado o mandamento de Deus, a Palavra dos profetas. A Igreja tem passado por esses males durante sua história. Quantas coisas fazemos e fizemos passam por cima do mandamento central do amor, do respeito às pessoas e ao mundo! Mesmo em ambientes mais seletos, o importante são as tradições criadas e não a Palavra de Deus. É fácil praticar uma devoção, manter uma superstição do que assumir a prática do mandamento da caridade. A pastoral social - a caridade não tem sido uma preocupação para a Igreja no momento atual. 
Palavra que purifica 
A leitura de Deuteronômio 4,1-8, dando resposta ao vazio do legalismo ritualista, lembra que cumprir os preceitos da aliança darão vida e direito à posse da terra. Guardar os mandamentos será a expressão de sua sabedoria e inteligência. Esses mandamentos são suficientes para colocar no interior do homem condições que produzam as boas intenções e boas coisas que não tornam impuro o homem. Por que produzem coisas boas? Porque resumem a vida em relação com Deus e com as pessoas. Vejamos que os pecados que “sujam”, citados por Jesus, fazem parte da segunda tábua da lei (Honrar os pais, não matar, não roubar etc...). Esses pecados sujam o homem porque ferem o outro seu irmão. A sabedoria é cumprir os mandamentos que vão ao interior e não ficam em tradições inúteis que matam inocentes (Mt 12,7). Viver o mandamento é ter Deus próximo, é purificar o coração e produzir boas ações. 
Praticantes da Palavra 
Jesus lembra a profecia que recrimina o culto dos lábios distante do coração. A Palavra de Deus, explica São Tiago, deve ser recebida com humildade, pois é capaz de salvar nossas almas. Para chegarmos a essa purificação, devemos “ser praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-nos a nós mesmos. A religião pura diante de Deus é esta: assistir os órfãos e as viúvas e suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo” (Tg 1,22.27). A crítica dos fariseus aos discípulos de Jesus encontra a resposta clara na Palavra de Deus: a caridade cobre a multidão dos pecados (1Pd 4,8). Ela purifica. É preciso conservar as tradições, mas não acima do mandamento. É preciso observar os ritos, mas não sacrificar as pessoas. A religião está primeiro no coração.
Leituras: Deuteronômio 4,1-2.6-8; Sl 14; 
Tg1,17-18.21-22.27;Mc 7,1-8.14-15;21-23 
1. Interrogado pelos fariseus sobre o descaso que os discípulos dão às tradições (não da Tradição). Ele explica que a impureza vem do coração e não do exterior. Diz que os fariseus guardam as tradições e desprezam o mandamento e a Palavra de Deus. Assim nos estimula a ver na Igreja que há tradições, devoções e costumes que acabam por serem superiores ao mandamento do amor. 
2. O livro do Deuteronômio mostra-nos cumprir os mandamentos da aliança dá sabedoria e direito à terra. Guardar os mandamentos é expressão de sabedoria e inteligência e leva o coração a ter as boas intenções que purificam o homem. Os pecados enumerados por Jesus nascem das más intenções. Cumprir o mandamento do amor é produzir coisas boas e ter Deus próximo para nos ouvir. 
3. A carta de S. Tiago explica que a Palavra deve ser recebida com humildade pois é capaz de salvar, purificar nossas almas. Não basta ouvir. A crítica dos fariseus encontra resposta na Palavra de Deus: a caridade cobre a multidão dos pecados. Purifica! A religião acontece primeiramente no coração. 
Por fora bela viola 
Há um provérbio antigo, mas bem significativo: “por fora bela viola, por dentro, pão bolorento”. Os fariseus criticavam Jesus porque não cumpria as tradições dos antigos. Coisas secundárias de pureza ritual. Jesus foi duro com eles. Jesus explicou que o que torna o homem impuro, não são as coisas exteriores, mas o que sai do coração é que mancham o homem: (más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo). Que ladainha! O livro do Deuteronômio explica que os mandamentos bem vividos são fontes de sabedoria e inteligência. Eles procedem de Deus. Corremos o risco de viver de exterioridades na Igreja. É mau isso. Se não mancha enferruja. 
Homilia do 22º Domingo Comum
EM SETEMBRO DE 2006

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