quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

REFLETINDO A PALAVRA - “O amor tem cara e endereço”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
52 ANOS CONSAGRADO
45 ANOS SACERDOTE
O evangelista Mateus
, como que concluindo o discurso sobre o Reino, leva-nos a uma síntese de tudo o que significa viver a vida cristã. É a verdade mãe de todas as outras: o amor. Os judeus, no clima de polêmica com Jesus, levam-no ao centro da religião: qual é o maior mandamento? Qual é o ponto de partida da vida do homem em relação a Deus? A resposta é imediata: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas dependem destes dois mandamentos” (Mt 22,34-40). 
Jesus coloca em igualdade o amor a Deus e o amor ao próximo. O modo de amar a Deus é o modo de amar ao próximo. Há dois amores que na realidade são um só. Quem ama a Deus ama também o próximo. O mandamento do amor incide na pessoa toda ela. O amor a Deus envolve tudo. “Amarás com todo coração, alma e entendimento” Amar com todo afeto, com toda dimensão espiritual e com toda a sua inteligência. Amamos com tudo o que somos e temos. É amor total. Não reste em nós nada que não seja amor a Deus. Esta é proposta de Deus: ‘Eu te amo totalmente para ser amado totalmente por ti’. Este amor não é aéreo, de palavras, mas envolve o total da vida. Como podemos saber que amamos como Deus quer? Quando somos conscientes de amar os outros como Deus ama. 
Viver este amor de Deus é construir seu Reino e a libertação total de todas as misérias, como diz a primeira leitura do livro do Êxodo. Este texto fala de nossa relação com o necessitado, o pobre, o estrangeiro e sofredores. Deus tem predileção por eles. Deus quer não só ajuda, mas carinho com os necessitados. Assim Deus ama. Deus ama com ternura, como faz um pai, uma mãe com seu filhinho: preocupa-se se está bem coberto durante a noite. “Se tomares como penhor o manto de teu próximo, deverás devolvê-lo antes do pôr-do-sol. Pois é a única veste que tem para o seu corpo e a coberta que tem para dormir” (Ex 22,25). Deus não quer que ele passe frio. Por isso mesmo se chama: “Deus de ternura e bondade” (Ex 34.6). 
Aquilo que chamamos justiça social, nasce do amor terno e cheio de bondade de Deus. O humilhado e o sofredor clamam a Deus que os ouve. “Minha cólera se inflamará e vos matarei à espada”. Quem sabe as desgraças do mundo presente existam porque nós não amamos os necessitados com a ternura de Deus!? Criou-se uma mentalidade espiritual desligada da realidade. Jesus define a união dos dois amores. Por isso digo que o amor tem cara e endereço. Não é aéreo. É concreto, tem diante de si as faces sofridas e carentes de nosso carinho. Eles moram em nossas cidades, sofrem no corpo e no coração. Não se dispense a oração, a vida espiritual interior. Mas ela vai ter a divina consistência, no momento em que tiver a humana consciência de que o amor é o fundamento de tudo. 
(Leituras: Êxodo, 22,20-26;
1 Tessalonicenses1,5-10;Mateus 22,34-40)
Homilia do 30º Domingo do Tempo Comum
EM OUTUBRO DE 2002

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