PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
“Não desistir de rezar”
Insistir na
oração
A antífona de
entrada da celebração nos aponta um caminho para compreendermos o evangelho
desse domingo: “Clamo a Vós, meu Deus, porque me atendestes... Guardai-me como
a pupila dos olhos; à sombra de vossas asas abrigai-me” (Sl
16,6.8).
O orante clama porque sabe que Deus é o socorro permanente. E diz que a meta da
oração é ser guardado por Deus que é seu abrigo seguro. Dizer, acolher-me sobre as asas de Deus, lembra
a Arca da Aliança que estava sob dois Querubins. Trata-se da presença de Deus.
É ali que a oração nos conduz. A catequese de Jesus sobre a oração vai ao
núcleo de nossas necessidades e de nossa fragilidade. Ao contar a parábola da
viúva indefesa diante de um juiz que não atendia as pessoas, ensina que devemos
rezar sempre e com insistência. A liturgia traz o livro do Êxodo que nos relata
a oração de Moisés pela vitória de Israel sobre os amalecitas. Ele rezou com
insistência, o dia todo. Na parábola estamos diante de um juiz iníquo que, pela
insistência, cede às súplicas da viúva. Não tendo forças para pressioná-lo, tem
a força da insistência. Quanto mais seremos ouvidos por Deus que sempre socorre
seus escolhidos (Lc 18,7). A oração perseverante sempre obtem
o resultado. Lembremos que Deus sabendo o que precisamos, mesmo antes de o pedirmos (Mt
7,7),
saberá quando e como atender-nos. Na verdade, o que vale da oração não é o
resultado do que pedimos, mas entrar em contato permanente com Deus que é mais
que tudo o que possamos pedir. Somos mesquinhos, e queremos resolver só nossos
problemas, quando Deus oferece soluções maiores. Jesus, conhecendo nossa
fragilidade e falta de fé, sabe que não somos insistentes e firmes na fé quando
rezamos.
Rezar com o
corpo
Não saia do corpo para rezar só com
a mente. O corpo faz parte de nossa totalidade. O espiritual e o corporal
caminham juntos. Em sua história a Igreja sofreu influências de mentalidades do
tempo e até as justificou. Houve desprezo do corpo, oprimindo-o para libertar a
alma. Deus não fez nenhuma parte errada em nós. O mal ou o bem provém de nosso
coração como disse Jesus. É uma opção pessoal que produz o mal. Nossas
tendências podem ser educadas. Procurou-se castigar o burrinho que somos. Ele
pode ser selvagem, mas pode ser educado e fica bom. Vemos Moisés rezando com os
braços levantados. Se os abaixava, os judeus começavam a perder a batalha. Por
isso puseram duas pedras sob seus braços para que não abaixassem e os hebreus
vencessem. A insistência da velhinha supôs muitas idas e vindas para conseguir.
Rezamos com a totalidade de nosso corpo. Por isso podemos e devemos tomar
posições que expressem o que rezamos. Estar diante de Deus em silêncio, já é
oração. Rezamos em nossa realidade.
Rezar com a Escritura
Quando refletimos sobre a oração
ficamos sempre em dificuldades e pensamos que não sabemos rezar. Os discípulos
apresentaram esse problema a Jesus: “Mestre, ensina-nos a rezar como João
ensinou a seus discípulos” (Lc 11,1). Naquele
momento Jesus estava orando. E responde: Quando orardes, dizei: “Pai Nosso...”.
Esta é a oração fundamental que tem tudo o que precisamos. A seguir temos os
salmos que perpassam por todas as necessidades humanas. Há tanta gente que conhece
salmos de cor. Uma leitura meditada da Escritura nos coloca em diálogo com Deus
e sustenta nossa vida espiritual. Temos que ver na Palavra de Deus, aquilo que
ocorre conosco. Por isso, pedi e recebereis (Mt 7,7).
Leituras: Êxodo 17,8-13; Salmo
120; 2 Timóteo 3,14-4,2 ; Lucas 18,1-8
1.
Na
parábola Jesus ensina que a oração deve ser insistente e perseverante. Temos o
exemplo de Moisés. Deus nos atenderá, pois sabe o que precisamos e atende.
2.
Rezamos
com nosso corpo que, mesmo frágil, pode ser educado.
3.
Rezamos
com a Escritura como Jesus ensinou. Rezamos com os salmos que tratam de toda
nossa realidade. Rezamos meditando a Palavra.
Correndo das velhas.
Há um mau costume de achar que as pessoas idosas,
que chamamos de “velhas”, são inúteis. Alguns chegam a dizer que na Igreja só
há velhas. Ser velho é um grande privilégio, pois muitos não chegaram a essa
idade. Então há nelas um maior vigor de vida, também de vida espiritual. Muitas
são benzedeiras, isto é, são capazes de orar para o bem dos outros com grandes
resultados. Deus as ouve, pois se conhecem há tempo.
Jesus,
no evangelho desse domingo, ensina seus discípulos a rezaram com insistência.
Se até os maus, como no caso do juiz injusto, cedem diante da insistência e
fazem justiça, “será que Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e
noite gritam por Ele? Será que vai fazer esperar? Eu vos digo que Deus lhes
fará justiça bem depressa” (Lc 18,6-8).
Uma
das noções de oração nos é dada pelo próprio Jesus que insiste que não usemos
um palavreado excessivo (Mt 6,7). Um santo
dos tempos modernos, Charles de Foucauld, diz: “Rezar não é dizer muitas
coisas, mas a mesma coisa muitas vezes”. Rezar não é convencer Deus a respeito
de nossas coisas, mas convencer-nos sobre Deus. Parece que Deus demora a
atender a gente. É que Ele quer ficar conosco mais tempo. Parece que gosta de
nós. Por isso temos o exemplo de Moisés que durante a batalha dos israelitas
ficou o tempo todo de braços abertos em oração para que vencessem. É o que
dizemos: o homem mais alto é aquele que está de joelhos. Quando minha avó Rita
estava já no fim eu lhe mostrei um tercinho de anel e ela me disse: “As rezas
nunca chegam”, quer dizer: nunca são suficientes.
A
oração deve ser baseada na Sagrada Escritura. Paulo diz a Timóteo: “Toda a
Escritura é inspirada e útil para ensinar e para argumentar, para corrigir e
para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
qualificado para toda boa obra” (2Tm 3,16-17).
Aprendamos
com nossas velhinhas a conversar com Deus.
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