Quase uns 90 anos depois de S. Martinho de Dume falecer, é S. Frutuoso que vem presidir na Sé de Braga, depois de, também como ele, ter estacionado na de Dume. E, como aquele, também Frutuoso procede de além-fronteiras, este último da diocese de Astorga. Tomou posse de Braga em 656.
A vida monástica gozava então de honra e estima, como o refúgio ou terra privilegiada da virtude e cultivo da ciência, primariamente da ciência e cultura sagradas. Por isso, S. Frutuoso surge como o assíduo e incansável cultor do monaquismo e fundador de uns dez mosteiros. Primeiro, vários na Hispânia que cedo se tornaram célebres, em várias e distantes províncias, percorridas nesta audaciosa propaganda de fundações monásticas.
Tentou também uma viagem ao Oriente, que não conseguiu realizar, porque o rei visigodo Recesvinto, sabedor das suas fundações na Galiza, o designou para bispo de Dume, para poder assegurar assim, para esta província, os múltiplos bens do seu apostolado. Fundar mosteiros tinha sido, pois, quase todo o seu apostolado, e isto mesmo se lhe pedia para Braga, como o melhor elemento, o mais eficaz promotor duma cristã e autêntica civilização.
Provam-no a natureza e finalidades da sua regra, que começou por ser, mais própria ou primariamente, dos Monges, sua formação espiritual e disciplina religiosa: oração e contemplação, com o trabalho manual e agrícola. Esta segunda feição acentua-se mais na Regra Comum que entrou na organização das últimas fundações, em região de abundantes pastagens e vantajosa criação de gados.
No mesmo mosteiro, imensa colmeia humana, o trabalho doscampos e oficinas supria às necessidades gerais; mas cada qual devia industriar-se e servir-se, para dar aos outros o mínimo de trabalho possível. Para isso, competia ao abade fornecer a todos sovelas, agulhas e linhas de diferentes castas, para coser, consertar e remendar os vestidos. Foi o Santo o fundador, entre nós, dos mosteiros-refúgios.
Ao lado de tantos bens, ainda que temporais, continuou altamente frutífera a constante actuação pastoral e apostólica de S. Frutuoso, até à sua morte — no mosteiro, por ele fundado furtivamente, de S. Salvador de Montélios — a 16 de Abril de 665. Levadas as suas relíquias para Compostela em 1102, num gesto ambicioso de coisas sagradas, foram restituídas novamente a Braga, por ocasião das celebrações centenárias de S. Frutuoso, em 1965-66.
José Leite, sj
Santos de cada dia, vol. III. Editorial A. O. Braga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário