sexta-feira, 22 de março de 2024

REFLETINDO A PALAVRA - “Viver a verdade da fé”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
O Reino acontece na fragilidade
 
A fé é um precioso dom de Deus pelo qual participamos da vida de Jesus e a manifestamos nas atitudes de relacionamento com Ele e com aos irmãos. Por isso rezamos na oração pós-comunhão: “Fazei que perseverem na sinceridade do vosso amor aqueles que fortalecestes pela infusão do Espírito Santo”. A sinceridade do amor é a capacidade de sair de si para Deus e para os outros. A viúva que deu as últimas moedas como entrega total de si mesma fez muito mais do que aqueles que deram a sobra. Não se dá resto a Deus. Por isso a religião de fachada dá mais importância para roupas, gestos, posições na igreja, títulos que à prática. O evangelista Marcos é muito claro e lembra essas palavras de Jesus que servem de crítica também à comunidade: “Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso eles receberão a pior condenação” (Mc 12,40). A incoerência entre fé e vida provém da falta de entrega total a Deus, como o fez a viúva. É o mesmo que vemos na narrativa do livro dos Reis (17,10-16). A mulher foi capaz de dar ao profeta o quase nada que possuía que significava o fim de vida e recebeu o milagre da multiplicação do alimento por todo o tempo da carestia. A grandeza está em sair de si, mesmo que sejamos pequenos e pobres, para que Deus seja o tudo. É a consciência que nos sugere o salmo 145: “O Senhor é fiel para sempre, faz justiça aos que são oprimidos; dá alimento aos famintos e liberta os cativos”. Jesus ensina aos discípulos que o Reino acontece assim. É por isso que vemos a polêmica de Jesus com os que se apegam aos bens temporais e à própria vida. Ele foi desapegado até da própria vida. Era frágil, mas forte na entrega. As pessoas que conquistaram o mundo foram as que saíram de si como Francisco, Ghandi, Schweitzer, Teresa de Calcutá e outros, mesmo não cristãos. Os grandes dominadores desapareceram e viraram livro de história das opressões e destruições. 
Sacrifício aceito 
A segunda leitura mostra que o Sacrifício de Cristo é uma vez por todas e não se repete. Jesus foi o Sumo Sacerdote porque entrou definitivamente no santuário. A entrega de Jesus foi total (Hb 9, 28). Ele mostrou a fidelidade de Deus que é de sempre e para sempre. A fidelidade de Cristo está em Sua entrega que permanece. Ele sempre vive para o Pai. Seu sacrifício da cruz tem como conteúdo o sacrifício permanente de Sua vontade. Jesus não é contra a prática judaica de oração, nem dos ritos, nem dos sacrifícios do templo. É visceralmente contra a duplicidade de vida. É o divórcio entre fé e vida. Muitos cristãos vivem essa vida. Não é uma boa estrada para o Céu. 
Afastai de nós todo obstáculo 
Ao iniciar a celebração pedimos “Afastai de nós todo obstáculo, para que inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço” (Oração). O obstáculo maior é o apego a nós mesmos e aos bens que possuímos. A liturgia de hoje continua a leitura do evangelho no qual Jesus fala do amor a Deus e ao próximo como um único mandamento. As leituras de hoje exemplificam como amar. Esta é a diferença que faz a doutrina de Jesus. A sociedade sempre privilegiou os ricos e poderosos. Jesus não condena a posse dos bens. Ele mesmo usufruía destes bens indo a suas casas. Ele quer o desapego dos bens e de si. A Eucaristia é compreendida só como espiritual, quando é uma lição de vida para aprender partir e repartir. Sem isso, não fazemos a diferença. Somos uma religião a mais.
Leituras: I Reis 17.10-16; Salmo 145; 
Hebreus 9,24-28; Marcos 12, 38-44. 
1. Pela fé participamos da vida de Deus e de Seu modo de agir. Jesus nos mostrou, no exemplo da viúva pobre que dar-se vale mais que as grandes esmolas. A incoerência entre fé e vida vem da falta de entrega a Deus. Os que foram desapegados permanecem vivos na consciência do povo, como os santos. 
2. O Sacrifício de Jesus é uma vez por todas, porque sua entrega a Deus foi total. Ele vive para sempre. Jesus não condena os ritos, mas a duplicidade de vida. 
3. O apego é o maior obstáculo para amar a Deus e ao próximo. Esta doutrina faz a diferença. A sociedade privilegia os ricos e poderosos. Jesus não condena a riqueza, mas a falta do espírito de desapego. A Eucaristia não pode ser só espiritual, tem que impregnar a vida.
Velhinha danada! 
Hoje as senhorinhas estão com tudo e mostram que são sempre da primeira idade: Jovens e vivas para o Reino de Deus. A fé deixa a alma sempre jovem. Aliás, ela não tem idade. Tem vida. Jesus, querendo ensinar que a fé é uma entrega total de si e não uma aparência, um rito exterior ou uma vaidade, chamou os discípulos e lhe mostrou aquela viúva pobre que ofereceu duas moedinhas. Ela não deu uma oferta, como os ricos, mas deu a si mesma, pois deu o que era para sua subsistência. Deus não quer o que sobra, quer a nós. Acolher o Reino de Deus tem que ser na totalidade. É por isso que Jesus nos deu a redenção através de sua morte: Entregou-se inteiro ao Reino e a Deus. Por isso ressuscitou. 
Homilia do 32º Domingo Comum (11.11.2012)

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