domingo, 10 de março de 2024

JOÃO OGILVIE Presbítero, Mártir, Santo 1579-1615

Sacerdote jesuíta inglês martirizado 
quando das perseguições organizadas 
por Isabel I da Ignlaterra.
João Ogilvie nasceu na Escócia, em 1579, duma nobre família que aderiu à separação da Igreja da Inglaterra com a de Roma. Educado numa rígida doutrina calvinista, João, com treze anos, foi enviado para a França e Alemanha por causa dos estudos. Ao deparar-se com o testemunho de vida dos católicos, iniciou uma crise espiritual, que se findou na sua conversão ao catolicismo, o que implicava, na época, a ruptura com a família e a perda de seu sustento. Mesmo com a certeza de ser perseguido em sua pátria, João abraçou a Igreja Católica, pois, de grande honestidade intelectual, decidiu-se radicalmente por reconhecer que caminhava para a verdade, vontade e convite de Deus. Mais tarde, entrou na Companhia de Jesus, onde chamava a atenção pela sua serenidade e alegria de viver. Chegou ao Sacerdócio, o qual pôde também exercer na Escócia, de modo clandestino devido à perseguição, mas de forma corajosa e santa, até ser preso por professar sua fé ao Cristo, a verdade e amor ao Papa; por isso foi humilhado, condenado e martirizado em 1615. O se próprio testemunho, enviado desde a prisão a um dos seus amigos, pouco antes da sua morte, demonstra a sua força de carácter e a sua coragem, mais ainda mais particularmente a sua grande fé em Jesus Cristo. Como S. Paulo, São João Ogilvie também pode dizer: “Se Deus é por nós, quem poderá ser contra nós ?”
Outono de 1613. O capitão Watson volta a lançar suas âncoras no cais de Leith, às portas de Edimburgo, após 22 anos de ausência. Até então, havia viajado por toda a Europa: França, Bélgica, Alemanha, Áustria, Boêmia e Morávia. O capitão era um homem culto, porque conseguiu estudar em todas as cidades por onde passava. Porém, decidiu voltar para casa e continuar seu trabalho, que não pôde fazer à luz do sol. 
Clandestino do Evangelho 
Na verdade, o "Capitão Watson" era João Ogilvie, um missionário jesuíta desconhecido, que havia desembarcado em uma terra que lhe é mãe e inimiga. Vinte anos antes do seu nascimento, em 1579, a Escócia se tornara protestante e, para os católicos, a vida tornou-se muito perigosa. Celebrar ou participar de uma Missa podia custar a perda dos bens e o exílio e, os recidivos, pagavam com a vida. João sabia muito bem disso e, apesar de os seus superiores o terem transferido para Rouen, na França, por dois anos ele insistiu, em suas cartas ao Superior geral, Padre Cláudio Acquaviva, pedindo-lhe para voltar a viver com seus compatriotas. De fato, com a sua tenacidade, conseguiu regressar ao seu país. Em 11 de novembro de 1613, aquele clandestino do Evangelho começou sua nova missão. 
Amor e traição
A vida de cada dia do Padre João era um contínuo desafio ao sistema. Celebrava Missa, antes do amanhecer, com alguns fiéis de confiança; depois, visitava os enfermos, os encarcerados; encontrava novos convertidos, mas até "hereges", aqueles protestantes que queriam voltar ao catolicismo. Algumas vezes, dormia na casa de alguns deles e costumava recitar o breviário no quarto onde se hospedava. "Alguém que me espiava, me ouviu sussurrar, em voz baixa, à luz de vela, dizia que eu era um mago", recorda Ogilvie em suas memórias. No entanto foi traído precisamente por um "herege", Adam Boyd, um cavalheiro de Glasgow, cidade onde o Jesuíta foi morar em outubro de 1614. Boyd fingiu querer reconciliar-se com a Igreja, ao invés, entregou o Padre João ao arcebispo anticatólico da cidade, que o mandou prender. 
Fé férrea 
O que se segue, recorda a noite que Jesus passou entre Quinta e Sexta-feira Santas. Uma noite que, para o Padre João, durou quatro meses: processos intercalados com torturas, constantemente acorrentado com perneiras de ferro, que o dilaceravam. Insultado e esbofeteado até pelo arcebispo, Padre João não cedeu um milímetro, pelo contrário respondia a todas as acusações. Ele foi insultado até por algumas famílias católicas, aprisionados por causa de uma lista de nomes encontrados entre os papéis do Jesuíta. No entanto, ele não traía ninguém. Aliás, às vezes, era irônico e pungente com aqueles que o queriam dissuadir. E, quando a sua ameaça da morte se concretizou, disse: "Se eu pudesse, salvaria a minha vida, mas sem jamais perder a Deus; não podendo conciliar as duas coisas, sacrificaria o bem menor para ganhar o bem maior". Até o fim Uma vez que a violência não o fazia ceder, tentaram seduzi-lo, oferecendo-lhe ricas rendas e até a mão da própria filha do arcebispo. Mas, nada o convencia o Jesuíta; ele rejeitava a apostasia, sem rejeitar a supremacia espiritual do Papa sobre aquela do rei, a quem ele acreditava governar a Igreja por direito divino. Nestas alturas, Jaime I Stuart interveio na disputa, mandando enforcar Ogilvie, se ele continuasse a relutar em suas posições. A sentença foi formalizada na manhã de 10 de março de 1615 e executada à tarde. Mesmo já estando no patíbulo, - narra a crônica oficial do julgamento, - o Padre João empreende combate contra aqueles que o difamavam, acusando-o por crime de lesa-majestade. "Quanto ao rei - exclamava - eu daria, com prazer, a vida por ele! Saibam também que eu e outro meu amigo escocês agimos em benefício do rei no exterior; fizemos coisas tão importantes por ele que vocês, com todos os seus ministros, nunca conseguiriam fazer. Portanto, morro sim, mas somente pela minha fé”. Os restos mortais de São João Ogilvie foram enterrados junto com os dos outros condenados e se perderam para sempre. Em 1976, o Papa Paulo VI o proclamou Santo.

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