segunda-feira, 6 de novembro de 2023

REFLETINDO A PALAVRA - “A serviço da misericórdia”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Deus misericordioso
 
A partir da entrada do cristianismo no mundo do império franco-germânico com Carlos Magno (que foi sagrado imperador na noite do Natal em Roma no ano 800), a fé começou a receber interpretações a partir da cultura desses povos. Recolheram de sua cultura religiosa, interpretações que não eram a expressão do evangelho. Por exemplo: O medo da condenação, o Deus juiz poderoso, Jesus Cristo Rei que vai julgar o universo, o castigo etc... Vemos, na liturgia adaptada a seu modo de pensar, a necessidade de pedir perdão, a intercessão e o socorro. Tudo resultado do medo da condenação. Se considerarmos o Antigo Testamento, encontramos fundamentos para esse modo de pensar “agressivo” e pensar em um Deus vingativo. Mas, encontramos também o conceito de Deus misericordioso: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem me compadecer”! (Ex 33,19). Moisés, quando o povo pecava, lembrava a Deus sua misericórdia. Assim Deus abrandava o castigo. Moisés, ao abençoar o povo, devia incluir a misericórdia: "O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti” (Nm 6,25); Os salmos interpretam essa consciência da misericórdia e da bondade de Deus: “Não te lembres dos pecados da minha mocidade, nem das minhas transgressões; mas, segundo a tua misericórdia, lembra-te de mim, pela tua bondade, ó Senhor” (Sl 25,7). Mesmo que as desgraças políticas ou climáticas fossem consideradas castigos, a recuperação era considerada misericórdia. Tobias diz que Deus dispersou o povo entre os povos e aí mostrou sua grandeza (Tb 13,2-3). Jesus mostra a face misericordiosa de Deus. Ele não aceitava somente o orgulho, que parece não ter cura. 
Uma Igreja misericordiosa 
A ameaça dos castigos de Deus por um erro, cometido nada mais é que um meio de amedrontar e controlar o povo. “A conversão baseada no medo, tem pouca duraçao’ escreve S. Afonso. Por isso prega o amor misericordioso que é o único capaz de converter o coração. Sabemos quanta gente se afastou da Igreja por ter sido maltratada em uma confissão ou por outros motivos. Há normas! Mas a verdade não tem necessidade de ser mal educada. Espiritualmente a Igreja foi influenciada por uma doutrina chamada jansenista que apelava para a dificuldade da salvação e a quase dificuldade para viver na graça. O que se pede é que a misericórdia de Deus possa penetrar todas as estruturas. Encontramos as dificuldades do povo para realizar seus atos sacramentais e religiosos. As exigências nem sempre correspondem às possibilidades do povo, sobretudo o humilde. Os ricos, sempre acham uma saída, às vezes comprada. Não é esse o caminho de Jesus. 
Misericórdia que salva 
Deus nos salva por sua misericórdia. A misericórdia de Jesus, cheia de bondade é a mesma que tem seu Pai. Ela deve tornar-se um modo de ser Igreja e a maneira de organizar sua vida. Hoje falamos tanto de acolhimento. Só acolhemos se for à base da misericórdia. E, sobretudo, acolher os fracos, os humildes, os sofridos da vida atual pelo mundo. Ver com os olhos de Deus que vê a todos com misericórdia. É um convite também aos que não tem a mesma fé ou que não sejam da mesma Igreja, que se preocupem com a misericórdia. Há muita condenação e ódio, até mesmo usando o nome de Deus. Esse fundamentalismo tem cheiro do mal. Ninguém foi posto por Deus para por o outro no inferno.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM JULHO DE 2011

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