sexta-feira, 9 de junho de 2023

REFLETINDO A PALAVRA - “Enviou-me a anunciar”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Aquele dia em Nazaré
 
As grandes assembléias foram os momentos importantes do povo de Deus. Nelas tomaram-se decisões e assumiu-se a aliança. Na celebração de hoje ouvimos a narração da assembléia solene no tempo de Neemias. É uma cena forte que nos ensina. O Livro Santo é trazido, aberto diante de todos, lido, explicado e ouvido com respeito (Ne 8,2-10). Jesus também inicia seu ministério em uma pequena assembléia na sinagoga de Nazaré. Era um bom leitor de sua comunidade. Ele abre o Livro com solenidade e proclama a Palavra de Deus para sua vida. Por isso diz: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4,21). Na vida de Jesus a atitude fundamental era deixar-se conduzir pelo Espírito: “Jesus voltou para a Galiléia, com a força do Espírito ... e ensinava em suas sinagogas”. Lucas conhece o início desta caminhada a partir das testemunhas oculares e ministros da Palavra (Lc 1,2), Jesus assume sua missão sob ação do Espírito. Esta missão foi descrita por Isaias: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres. Enviou-me para proclamar a libertação dos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar o ano da graça do Senhor” (Is 61,1-2;Lc 4,18-19). Estas palavras resumem a missão que lhe foi conferida pelo Pai no Espírito. O texto de Isaias anuncia que a missão do futuro Messias será a libertação total. Com o Messias teremos os bens espirituais e temporais. Jesus acentua que esta boa-nova começa com ele. Naquele dia realiza-se a profecia. Nele! Quando o Espírito de Deus vem sobre nós, dá-nos a mesma missão de Jesus, pois somos parte de seu Corpo. Também vivemos sob o Espírito que nos forma em um único corpo e unido à missão do Jesus, pois bebemos com Ele do mesmo Espírito. A missão da Igreja é a mesma de Jesus até à cruz. É mais fácil nos preocuparmos com panos e ritos do que com a missão de Jesus. 
No hoje de nossa vida 
A liturgia de hoje não contempla só a beleza da cena de Jesus em Nazaré, mas também a beleza da comunidade reunida em nossa igreja. Ela é também ungida pelo Espírito. Ela é o HOJE de Deus e tem a mesma missão de Jesus. Esta comunidade está unida a Cristo, pois é seu corpo. Somos membros Dele e membros uns dos outros. Os membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo. Cada um individualmente é membro deste corpo. A assembléia, Corpo de Cristo, ungida pelo Espírito, se une a sua missão libertadora. A celebração da comunidade é uma assembléia. Diz a carta aos Hebreus: “Não abandoneis a nossas assembléias, como alguns costumam fazer” (Hb10,24). Não se trata de uma devoção ou obrigação, mas do Hoje de Deus. 
Ano da Graça do Senhor
Há um convite na celebração de hoje: Viver sob a unção que recebemos do Espírito Santo, abrir o Livro Santo para refazer em nós a missão que Jesus assume para si: “Anunciar a boa nova aos pobres, realizar todo o tipo de libertação e anunciar o tempo da graça” (Lc 4,18-19). Em cada liturgia temos a abertura do livro para proclamar os desígnios de Deus que são sempre os mesmos de Jesus, mas sempre novos. Se a comunidade não assume a atitude libertadora de Jesus, os necessitados não conhecerão o tempo da graça, isto é, a libertação dos males e a vida abundante trazida por Jesus. 
Leituras: Neemias 8,2-4ª.5-6.8-10; Salmo 18b;
1Coríntios 12.12-14.27;Lucas 1,1-4;4,14-21 
1. O povo de Deus celebrou grandes assembléias para renovar a aliança. Jesus, em Nazaré, numa pequena assembléia, inaugura seu ministério. Abre o Livro Santo, lê o profeta Isaías e assume a si a profecia como síntese de sua missão: Ungido pelo Espírito anuncia a boa-nova da libertação. Nós também recebemos a mesma para realizar a mesma missão, pois somos corpo de Cristo. 
2. Jesus declara que a profecia se realizava naquele Hoje. A Igreja é o Hoje de Deus. Ela, ungida pelo Espírito, tem a mesma missão libertadora de Cristo. Somos muitos membros e formados um só corpo que se reúne em assembléia, comunidade. 
3. Somos convidados, nesta celebração, a viver sob a unção que recebemos do Espírito Santo e abrir o Livro Santo para refazer em nós a missão que Jesus assumiu para si: anunciar a boa nova e realizar todo o tipo de libertação. Na liturgia repetimos o mesmo gesto para a mesma missão. Cada celebração é o Hoje de Deus. 
Até que enfim! 
Tantos séculos de espera e eis que chega o dia desejado: “Hoje se cumpriu para vós a Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 4,21). O que se esperava? Um Messias. Ali estava Ele. Ele não combinava com os projetos dos chefes que queriam um político, mas era a resposta às esperanças do Universo. Jesus abre o livro, na assembléia dos filhos de Deus, como Neemias fez muitos anos antes. Abrir o livro significa que vou ouvir o que Deus vai falar. Ele fala através de Jesus que tem sobre si o Espírito do Senhor. Este que fala em nome próprio, pois vem de Deus. O que anuncia: seu projeto de vida que foi proclamado por Isaias: Veio mostrar a misericórdia e a atenção de Deus para com os necessitados. Veio anunciar a libertação dos pobres, dar vista aos cegos, libertar os oprimidos e abrir todas as comportas da graça de Deus. Era o que faltava. Para dizer que crê em Jesus, tem que assumir esse seu projeto. Para isso vai trabalhar toda a vida e por isso vai ser recusado e morto. Mas os pobres serão libertados. 
Homilia do 3º Domingo Comum (24.01.2010)

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