O Reino de Deus é um mistério sobre o qual não temos controle. Deus age como quer, onde quer, e nos surpreende com sua generosidade. É um Reino em contínua expansão. Quem pensa que só nosso modo de ser tenha as riquezas de Deus, não pensa como Jesus. O discípulo João diz a Jesus que havia gente fazendo milagres em seu nome e não estava com o “grupo” dos discípulos (Mc 9,38-40). Jesus diz que fazer o bem é estar com Ele. O mesmo fato acontece com Moisés, como lemos em Números (11,25-29). Jesus reconhece e diz: “Tenho ainda outras ovelhas que não são desse aprisco; devo conduzi-las também, e elas ouvirão a minha voz; e haverá um rebanho e um pastor” (Jo 10,16). A missão da Igreja é anunciar e reconhecer onde Deus atua de modo misterioso. É missionária não só quando leva a mensagem, mas quando identifica a ação de Deus naqueles que são considerados de fora. O Reino é maior que a Igreja. Deus distribui suas riquezas a todas as pessoas e a todas as criaturas. Assim rezamos no salmo: “Ó Senhor, quão numerosas são as vossas obras! Todas elas as fizestes com sabedoria; a terra está cheia das vossas riquezas” (104,24). Ser discípulo é, antes de tudo, ter uma atitude e não um título. Deus dá suas riquezas, seus dons, seus carinhos para todos. Esta atitude é reconhecer onde Deus age, aceitar e promover esses dons. Por isso um copo d’água dado ao discípulo, seja por quem for, não fica sem recompensa. É reconhecido como feito pela graça de Deus e a Ele feito. Não temos direito de escandalizar ninguém. Escandalizar significa colocar obstáculo à ação de Deus. Paulo insiste em que não extingamos o Espírito Santo (1Ts 5,19), mas vejamos Deus distribuindo seus dons. O Espírito se manifesta sobre toda a carne a seu modo (Jl 2,28), pois sopra onde quer. Não sabemos de onde vem nem para aonde vai (Jo 3,8).
Uma riqueza pobre
Se Deus é tão rico e generoso, podemos entender a braveza de Tiago contra os ricos. Não porque tenham dinheiro, mas porque não sabem multiplicar sua riqueza com a generosidade. Jesus não condena quem é rico, quem tem muitos bens. Vemos no evangelho que ia a suas casas e não tinha atitudes agressivas contra eles, mas orientadoras. Chama o jovem rico a ser perfeito, quer dizer ficar além da riqueza, e buscar uma riqueza maior. Maria também diz que “despediu os ricos de mãos vazias” (Lc 1,53). Maria apresenta o vazio de quem não é rico para Deus. Na parábola sobre aquele que ajuntou muitos bens e achou que tinha tudo, mas morreu de repente, Jesus comenta: “Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus” (Lc 12,21). Ser rico para Deus é ser generoso como Deus. Essa riqueza santifica e multiplica. Ser rico é ser generoso, justo, correto e não se enriquecer às custas dos outros. Nosso mundo vai mal também por causa disso.
Não ter medo de assumir
Para não escandalizar é preciso arriscar e assumir atitudes mais coerentes para consigo mesmo. Jesus, dizendo que devemos cortar o que nos leva a pecar, está dizendo que se deve tomar cuidado. Cortar os membros que atrapalham, significa evitar o mal. Deste modo, evitando o que nos leva a prejudicar, estamos respeitando os dons de Deus presentes em nós e no mundo. O pecado não está em ter falhas, mas optar por uma atitude que não é generosa e destrói a riqueza que Deus deu a nós e aos outros. Ser rico para Deus é também livrar-nos dos males que podemos encontrar em nós.
Leituras: Números11,25-29;Salmo 18;
Tiago 5,1-6; Marcos 9 48-43.45.47-48.
1. João avisa Jesus que havia gente fazendo milagres em seu nome e não estava no grupo dos discípulos. O mesmo acontece a Josué com Moisés. Jesus e Moisés dizem que é possível fazer isso, pois quem o faz em nome dEle, está com Ele. Deus distribui suas riquezas a quem quer. O Reino é maior do que a Igreja. Nossa missão será sempre de anunciar e reconhecer onde Deus age. O Espírito sopra onde quer. Deus é rico e generoso.
2. Tiago em sua carta recrimina os ricos, não por serem ricos, mas por não serem generosos. A riqueza não é para ser guardada, mas multiplicada pela generosidade. A riqueza que santifica é ser rico para Deus.
3. Jesus manda não escandalizar os pequeninos, isto é, não colocar obstáculos à generosidade de Deus e levar-nos a nós mesmos a usar nossos dons e colocá-los a serviço. Se algo me atrapalha, devo cortar, isto é, mudar. O que é feito ao pequenino, mesmo não sendo discípulo, terá sua recompensa.
Picadinho de santo
Para ficar santo tem que arrebentar com tudo? – Não! Só o que atrapalha. Jesus, dizendo que devemos cortar o que nos leva a pecar, está dizendo que se deve tomar cuidado. Cortar os membros que atrapalham, significa evitar o mal. Vai sobrar pouco. Se não cortar, tudo vira churrasquinho do capeta. Então é melhor ser picadinho de santo.
Por outro lado, qualquer coisa boa que fazemos, não deixa de ter sua recompensa. Até um copo d’água dado por amor. A recompensa está onde se faz o bem sem olhar a quem.
Homilia do 26º Domingo Comum
EM OUTUBRO DE 2006
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