PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
O
povo viu uma grande luz
“Quando
o mistério é muito grande a gente não ousa desobedecer!” Escreve Saint-Éxupéry,
no Pequeno Príncipe. Ali, no presépio, está o pequeno príncipe que ousou
obedecer ao Pai e se fez pequenino. Eu me sinto perdido quando tenho que falar
ou escrever sobre o Natal. Parece que não chego a perceber a grandeza do
momento. Quando fui a Belém, na gruta do nascimento, vendo aquela estrela de
ouro no chão e escrito em volta “aqui o
Verbo se fez carne”, fiquei sem palavras. A única coisa que podia fazer era
lembrar de todos que faziam parte de minha vida. Talvez este seja o único modo
de reagir diante do mistério. O que cerca o nascimento de Jesus são os olhares
silenciosos, mas brilhantes: os olhos de Maria, José, dos pastores, dos Magos.
Viram a grande luz! Aquela mesma luz que viram os sofredores na noite da dor na
Galiléia (Is 9,1); Noite dos pastores
brilharam os Anjos cantando (Lc 2,9.13-14).
S. Leão Magno, ao escrever as orações para o Natal fala da luz: “Deus, que
fizestes resplandecer esta noite santa com a claridade da verdadeira luz...”. A
luz traz a alegria, como a dos ceifadores após a colheita (2), dos libertados da guerra da opressão (3). Tudo porque nasceu o Menino; Ele é o
príncipe da paz (5). A luz nos faz buscar
um novo modo de vida porque a graça de Deus se manifestou (Tt 2,11-12). Essa luz invade o mundo, como
rezamos no prefácio: “No mistério da encarnação de vosso Filho, nova luz da
vossa glória brilhou para nós”. Essa luz é o Filho de Deus: “Nele estava a
vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não
conseguiram ofuscá-la” (Jo 1,4-5). A fé é
acolher Jesus. É o que fazemos na noite de Natal, vendo a humanidade, vejamos a
divindade que não vemos (prefácio).
Por
que nascer assim
Por
que nascer assim tão pobre? O presépio é bonito. Tentemos ver o que era a
realidade: Um restinho de gente, deitado num cocho, animais, simplicidade. Para
nós é miséria. Melhor ouro. E que diferença faz para Deus? Deus o fez assim
para que não houvesse nenhum obstáculo ao acolhimento. Nasceu do mundo dos
pobres que eram quase a totalidade. Foi alistado como cidadão do mundo, no
grande império romano, na Judéia. Jesus de Nazaré foi fichado como filho de
José e Maria. ‘Como é o nome de seu filho’? Perguntaram: José respondeu:
“Jesus!” Oculto o Filho de Deus no véu da carne. Jesus está na fila dos
carentes de respeito, de vida, de amor. Ele veio para queimar as botas de
assalto do inimigo do homem e queimar as roupas manchadas de sangue de tantas
feridas (Is 9,4).
Como
são belos os pés que anunciam a paz!
Os
pastores foram acordados pela luz e animados pelos cantos de Glória a Deus nas
alturas e paz na terra aos homens e mulheres por ele amados” (Lc 2,14). O Natal tem o sabor da paz e da
amizade, da alegria, da troca de presente. Foi o que Deus fez conosco: “Acolhei,
ó Deus, a oferenda da festa de hoje, na
qual o céu e a terra trocam os seus dons, e dai-nos participar da divindade
daquele que uniu a vós nossa humanidade” (oração
das oferendas). Estamos em paz com Deus. A liturgia etiópica canta: “O
que vamos oferecer-vos? O céu deu a estrela; os anjos, seu canto; a terra, a
gruta; os pastores, seus dons; os magos seus presentes. E nós: Nos oferecemos
uma Virgem Mãe”. Com Ela entendemos o Natal e anunciamos a paz. Na liturgia de
hoje, façamos parte do Natal com nosso coração.
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