Evangelho segundo S. Mateus 13,18-23.
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Escutai o que significa a parábola do
semeador: Quando um homem ouve a palavra do reino e não a compreende, vem o
Maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a
semente ao longo do caminho. Aquele que recebeu a semente em sítios
pedregosos é o que ouve a palavra e a acolhe de momento com alegria, mas não
tem raiz em si mesmo, porque é inconstante, e, ao chegar a tribulação ou a
perseguição por causa da palavra, sucumbe logo. Aquele que recebeu a semente
entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução
da riqueza sufocam a palavra, que assim não dá fruto. E aquele que recebeu a
palavra em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende. Esse dá fruto e
produz ora cem, ora sessenta, ora trinta por um».
Da Bíblia
Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
Santo Agostinho (354-430), bispo de
Hipona (norte de África), doutor da Igreja
Sermão 101
«Cem, sessenta e trinta por um»
A sementeira foi feita pelos apóstolos e
pelos profetas, mas é o próprio Senhor que semeia. É o próprio Senhor que está
presente neles, pois foi o próprio Senhor que fez a colheita. Porque, sem Ele,
eles não são nada, enquanto que Ele, sem eles, permanece na sua perfeição. Com
efeito, Ele disse-lhes: «Sem Mim nada podeis fazer» (Jo 15, 5). Semeando
portanto entre as nações, que disse Cristo? «Um semeador saiu para semear» (Mt
13, 3). Noutro texto, os semeadores foram enviados para colher; agora, o
semeador sai para semear, e não se queixa do trabalho. Com efeito, que importa
que o grão de trigo caia à beira do caminho, sobre as pedras ou entre os
espinhos? Se ele se deixasse desencorajar por estes lugares ingratos, não
avançaria até à boa terra! [...]
É de nós que Ele está a falar:
seremos esse caminho, essas pedras, esses espinhos? Queremos ser a boa terra?
Dispomos o nosso coração a produzir trinta vezes mais, sessenta vezes mais, cem
vezes, mil vezes mais? Trinta vezes, mil vezes, sempre trigo e apenas trigo. Não
sejamos mais esse caminho onde a semente é pisada por quem passa e onde o nosso
inimigo a agarra como os pássaros. Nem essas pedras onde uma terra pouco
profunda faz germinar rapidamente um grão que não consegue resistir ao calor do
sol. Nunca mais esses espinhos, as ambições deste mundo, este hábito de fazer o
mal. Com efeito, que coisa pior pode haver do que aplicar todos os esforços a
uma vida que impede de chegar à vida? Que coisa mais infeliz que escolher a vida
para perder a vida? Que coisa mais triste que temer a morte para sucumbir ao
poder da morte? Arranquemos os espinhos, preparemos o terreno, recebamos a
semente, aguentemos até à colheita, aspiremos a ser arrecadados nos celeiros.
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