Evangelho segundo São Marcos 8,1-10.
Naqueles dias, juntou-se novamente uma grande multidão e, como não tinham que comer, Jesus chamou os discípulos e disse-lhes:
«Tenho pena desta multidão; há já três dias que estão comigo e não têm que comer.
Se os despedir sem alimento para suas casas, desfalecerão no caminho, porque alguns vieram de longe».
Responderam-Lhe os discípulos: «Como se poderia saciá-los de pão, aqui num deserto?».
Mas Jesus perguntou: «Quantos pães tendes?». Eles responderam: «Temos sete».
Então, Jesus ordenou à multidão que se sentasse no chão. Depois, tomou os sete pães e, dando graças, partiu-os e deu-os aos discípulos, para que os distribuíssem, e eles distribuíram-nos à multidão.
Tinham também alguns pequenos peixes. Jesus pronunciou sobre eles a bênção e disse que os distribuíssem também.
Comeram e ficaram saciados. Dos bocados que sobraram, encheram sete cestos.
Eram cerca de quatro mil pessoas. Então Jesus despediu-os
e, subindo para o barco com os discípulos, dirigiu-se para a região de Dalmanutá.
Tradução litúrgica da Bíblia
Monge beneditino, doutor da Igreja
«Homilias sobre S. Marcos»,
liv. II, cap. 8, cf. PL 92
«Tenho pena desta multidão»
O relato deste milagre permite-nos constatar as diferentes operações da divindade e da humanidade na única e mesma pessoa do nosso Redentor e, consequentemente, rejeitar para bem longe do símbolo dos cristãos e do próprio seio do cristianismo o erro de Eutiques, que ousou afirmar que, em Cristo, havia uma única operação. Percebemos, com efeito, que o sentimento de piedade que Nosso Senhor experimenta por esta multidão é um sentimento de compaixão próprio da natureza humana; e também que saciar a fome a quatro mil homens com sete pães e uns peixes é obra do poder divino.
«Dos bocados que sobraram, encheram sete cestos». A multidão que comeu e se saciou não levou consigo os restos dos pães, antes permitiu que os discípulos os recolhessem em cestos como anteriormente; esta circunstância, explicada no seu sentido literal, ensina-nos a ficarmos satisfeitos com o necessário, não querendo ir mais além. Em seguida, o evangelista dá-nos a conhecer o número dos que foram saciados: «Eram cerca de quatro mil pessoas. Então Jesus despediu-os». Notemos que Nosso Senhor não deseja despedir ninguém em jejum; pelo contrário, quer dar o alimento da sua graça a todos os homens.
No sentido figurado, há uma diferença entre este segundo milagre e a primeira multiplicação dos pães e dos peixes: a primeira representa a letra do Antigo Testamento, que estava como que cheia da graça espiritual do Novo, ao passo que a segunda representa a verdade e a graça do Novo Testamento abundantemente comunicada aos fiéis. A multidão que, segundo o testemunho de São Mateus, espera três dias para que o seus doentes sejam curados (Mt 15) representa os eleitos na fé da Santíssima Trindade que imploram o perdão dos seus pecados com uma oração perseverante, ou aqueles que se convertem ao Senhor pelos seus pensamentos, as suas palavras e os seus atos.
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