sexta-feira, 6 de outubro de 2017

REFLETINDO A PALAVRA - “A pureza que salva”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
Puro e impuro
               Retomamos o Evangelho de Marcos após a leitura do capítulo VI de João sobre o Pão da Vida. Iniciando o mês da Bíblia temos uma orientação da Palavra de Deus que pode nos libertar daquilo que não é evangélico. Jesus já combateu com firmeza as distorções que se fizeram da Lei de Deus. Entramos na questão do puro e do impuro. Aconteceu que os fariseus criticavam os discípulos por comerem o pão com mãos impuras, isto é, sem as terem lavado. Não se tratava de higiene, mas de uma exigência ritual. Como a refeição era como algo sagrado, as mãos e os pratos deveriam receber um rito de purificação para não prejudicar o culto. Quem não fazia o rito de lavar, estava impuro. Essa era a tradição. Eles perguntaram a Jesus por que os discípulos não seguiam as tradições dos antigos. Davam às tradições e à Palavra de Deus o mesmo valor. Isso não é uma coisa distante. Temos muitas tradições e ensinamentos que tem mais valor que o Evangelho. Por exemplo: promessas absurdas que não levam a nada na fé têm mais valor. Essas tradições são criações humanas. Por isso Jesus não deixa passar e ensina que, muitas vezes, as tradições tem mais valor que a santidade do amor a Deus e ao próximo. O que torna a pessoa impura não vem das coisas materiais, por exemplo, um objeto ou um rito, mas do coração. E Jesus afirma com força que é daí “que procedem as más intenções, imoralidades, roubos, assassinatos, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas estas coisas más saem de dentro e são elas que tornam impuro o homem” (Mc 7,21-23). Jesus insiste também em outros lugares, sobre a facilidade de deixar a Palavra de Deus para conservar o que não compromete a vida no serviço dos irmãos. O que é impuro é o que vai contra Deus e contra o próximo. A lei de Deus é elogiada como grande sabedoria, como lemos em Deuteronômio.  Não se deve acrescentar nem tirar (Dt 4,2).
Pureza do coração
               A liturgia deste domingo não para no problema, mas adianta a solução e delineia o que é coração puro. O salmo 14 nos mostra que a pureza vem da prática do respeito ao próximo. Isso faz digna a pessoa de “morar na casa do Senhor”, isto é prestar culto. O culto sem o amor ao próximo é insuficiente. São Tiago ensina que a “religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo” (Tg 1,27). É por isso que se prefere uma religião ritualista, sem referência à vida e ao mundo com seus problemas. Não compromete. Pensamos: Participei da missa e comunguei; Estou pronto e satisfeito. Não é isso que a Palavra de Deus nos ensina. A Eucaristia não é um momento, mas uma fonte de vida.
Praticantes da Palavra
               Retomamos S. Tiago que é muito prático. Percebe-se que era bem ligado à vida concreta do povo. Ele vai direto ao assunto: “Recebei com humildade a Palavra que em vós foi implantada... Todavia, sede praticantes da Palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1,21b-22). Praticar a Palavra é viver, como rezamos: “O alimento da caridade fortifique os nossos corações e nos leve a Vos servir em nossos irmãos e irmãs” (Pós-comunhão). Tudo o que fazemos na vida espiritual deve passar no crivo da Palavra. Deste modo não fazemos da fé uma ideologia, ou pior, vivemos uma ideologia como se fosse fé.

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