sexta-feira, 6 de outubro de 2017

MAS ELE NUNCA FALOU NADA

PADRE CLÓVIS DE JESUS
BOVO, REDENTORISTA
VICE-POSTULADOR DA CAUSA
VENERÁVEL PADRE PELÁGIO
REDENTORISTA
Martinho era um homem reservado. Chegava quieto para o escritório da firma, tomava um cafezinho e se fechava na sala. Durante a pausa, outro cafezinho, e voltava silencioso para o trabalho. A sala ficava no fundo do corredor, o que acentuava ainda mais o isolamento.Trabalhava sozinho, assentado horas e horas diante da máquina de escrever. Durante o dia não se tinha notícia dele. Às 5 da tarde deixava silenciosamente a firma.Não se sabia muita coisa do seu Martinho. Apenas que fugira da Polônia durante a guerra. Certa manhã ele não apareceu no serviço. Ninguém soube o motivo. Nem mesmo seus colegas de trabalho, pois quase não se conversavam. Os familiares contaram que abandonou a firma porque não suportava mais o frio na sua sala de trabalho.
-Como assim? perguntavam-se os funcionários da firma. 
A sala dele era tão quente. O sol batia direto. Nunca lhe faltou o agasalho.
-Penso que ele quis dizer outra coisa. Faltou calor humano. Faltou diálogo. 
-Mas ele nunca se queixou de nada.
-Aí está a questão: Faltou abrir o diálogo. A falha foi nossa. 
Para refletir — Quanta gente curte silenciosamente uma dor, um desgosto. Não temos sensibilidade para perceber ou adivinhar. Quando se descobre, já é tarde.
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