sábado, 17 de dezembro de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Noite escura do coração”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
834. Experiência da escuridão espiritual
            Desde 03.08.04 estamos refletindo semanalmente uma temática espiritual que segue um esquema de um curso de espiritualidade. É um conta gota de espiritualidade. Hoje entramos em um dos temas mais elevados da espiritualidade: A noite da alma. Este tema exige experiência e conhecimento. Na vida humana há momentos difíceis que chamamos até de depressivos. Os sofrimentos que provêm de nossa fragilidade ou são ocasionados por circunstâncias ou são uma constante na vida. Não é uma depressão de fundo doentio. A escuridão da alma, ou noite do espírito, é um estado espiritual no qual perdemos o sentido das coisas religiosas: Parece que não temos mais fé; Não sentimos prazer na oração; É uma aridez total. Tem-se a impressão que perdemos o sentido das coisas. O que fizemos perde todo seu valor. Tem-se a sensação de estar condenado, de ser abandonado por Deus. As tentações aumentam. A força de vencer diminui. Que falta para ficar pior? Não saber o que está acontecendo. O próprio Jesus passou por isso: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?”(Mt 27,48); Os santos passaram por isso. S. Afonso chorava; S. Paulo da Cruz viveu 40 anos neste estado; S. Teresinha, dizem, não sentia prazer na oração; É fato que todos passam, mais ou menos, por esta situação. Infelizmente tantos não sabem o que está acontecendo e,  pior, quando o assistente espiritual não entende nem tem doutrina suficiente para orientar. Aí piora tudo. Alguns caem. São João da Cruz, que fez a experiência, explica com profundidade. Podemos dizer que é a noite do amor total, quando, por sermos tão amados, nos perdemos em Deus. Analise sua vida e verá. Encontramos esta realidade em muitos textos da Escritura. Não nos damos conta à primeira vista.
835. Força de vencer
            Há um só remédio que dá forças para sustentar essa batalha que parece perdida: Deus amor que, mesmo parecendo distante, é a presença constante. Trata-se de continuar crendo, amando e esperando. Se tudo acaba, Deus não acaba. S. Teresa diz: “Só Deus basta”. Amar a Deus não por nós, mas por Ele. Nos salmos encontramos esta situação e a resposta é sempre a mesma: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e verei a face de Deus?” (Sl 42,2). Quanto mais nos convencermos que Deus é o tudo, mais nos despojaremos das coisas que são secundárias. Deus é a fonte da energia que nos fortalece nesta noite do espírito. É o que podemos contemplar em Jesus na total escuridão da morte: “Não deixarás a minha alma no abismo, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção” (At 2,27). É importante neste momento o apoio de quem conheça este momento de um coração que ama Deus. É fundamental não deixar de fazer o que sempre fez na Igreja, na fé, nos sacramentos, na oração. Não tenho prazer nem gosto. Tenho fé pura. E basta.
836. Frutos da noite
            Passamos a conhecer que a cruz de Jesus faz parte de nossa vida e é nossa salvação. Somos purificados de tantos males que nos retardam no caminho de Deus. Mesmo coisas boas espirituais, mas que são para nós e não para Deus, são reformuladas. É a hora do desapego. Tornamo-nos prontos para outras batalhas. O maior ganho é sentir Deus como Alguém, o Outro que me ama. Este despojamento nos coloca em condições de ir ao encontro dos outros. “Quem conheceu o Amado, tudo faz para que seja conhecido e amado”. Após a noite da dor, chega a noite do encontro com o Amor que nos ama. 

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