domingo, 25 de dezembro de 2016

Homilia do Natal de N. S. Jesus Cristo (25.12.16)

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
“Vimos Deus” 
Nasceu-nos um menino
            O povo de Israel tinha consciência da impossibilidade de ver Deus (Ex 33,20). Ver Deus significava morrer. Que mais existe no mundo depois que se vê a Deus? É o que celebramos no Natal: Deus se manifestou e nós vimos sua face. Deus se manifestou em seu Filho. A festa do Natal celebra o nascimento do Filho de Deus no mundo, como um de nós, desvestido da glória da divindade. A celebração não é como uma comemoração de um aniversário, mas a presença do Mistério Pascal de Cristo em sua manifestação. Participamos do Mistério e recebemos a graça: “Todos que O receberam aos que creram no seu nomedeu o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1,12). “Pois o Verbo se fez carne e habitou entre nós; e nós vimos sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” ( Jo 1,14). Não basta só parar diante do presépio e contemplar a ternura e beleza, mas ir mais adiante, acolher a manifestação de Deus. O Menino que nasce é a manifestação de Deus para que todos creiam e acolham para que tenham vida e vida em abundância (Jo 10,10). Veio para atrair a todos a seu Amor e sua Vida. Veio gerar comunhão com a Divindade. Devemos ir além da ternura e chegar à graça que é a vida de Deus que nos é comunicada. Não se trata do início de uma nova religião, mas o retorno do homem a sua origem, ao paraíso. É preciso sair dos mitos, dos contos bonitos, e entrar no coração de Deus. Aquele Menino deitado num cocho é o Unigênito Filho do Pai. Por isso os Anjos cantam. É um acontecimento que envolve o Céu e a terra.
Resgatou-nos da maldade
            A liturgia, ao proclamar o texto de Isaias (Is 9,1-6), manifesta a alegria e a compara com coisas tão humanas como a colheita e a vitória. Acabou o sofrimento do povo durante uma guerra. Resgatou o povo do sofrimento, pois “manifestou-se a graça de Deus trazendo a salvação para todos os homens” (Tt 2,11). A encarnação do Filho de Deus não é uma lenda, mas uma realidade libertadora: “Ele se entregou por nós para nos resgatar de toda a maldade e purificar para Si um povo que lhe pertença e que se dedique a praticar o bem” (Tt 2,14). A redenção, que é expressão do amor de Deus, modifica o homem na sua condição de pecador para que pratique o bem e se restaure o universo. O próprio nome Jesus indica que Deus é salvação, “pois ele salvará seu povo dos seus pecados” (Mt 1,21). Pecados não são aquelas coisas que chamamos de moralismo, mas atuará na raiz no mal. A redenção não visa em primeiro lugar o mal, mas, sobretudo a união com a Divindade. Em Cristo a humanidade se uniu à divindade. Essa humanidade é a nossa. Ele a recebeu de Maria, pois o anjo disse a ela: “O Filho que nascer de ti será chamado Filho do Altíssimo”. Jesus tomou a carne de Maria que é de nossa humanidade. Jesus não é só um personagem da história. Ele é a irrupção do Divino no humano. A beleza no Natal não pode afogar Jesus.
A glória do futuro
            A oração da Eucaristia da noite, chamada missa do galo porque começava com o canto do galo à meia noite, nos ilumina: “Ó Deus, que fizestes resplandecer esta noite santa com a claridade da verdadeira luz, concedei que vislumbrando na terra esse mistério, possamos gozar no céu sua plenitude”. A celebração do Natal nos leva a buscar o Céu. Lá é que estão as verdadeiras alegrias. Conhecer e acolher Jesus é entrar em um novo modo de vida. O Natal não é um dia, é uma eternidade. Deus vem a nós e nós vamos a Deus para partilhar da comunhão eterna, já, enquanto peregrinos. Feliz Natal em Jesus.
Leituras: Missa da noite: Is 9,1-6; Sl 95; Tt 2,11-14;Lc , 2,1-14 -jo 1,1-18 –
Missa do Dia: Is 52,7-10;Sl 97; Hb 1,1-6;Jo 1,1-18. 
1.   No Natal celebramos a manifestação de Deus na carne humana. É Homem. 
2.   A encarnação do Filho de Deus não é uma lenda, mas uma realidade libertadora:
     Ele é a irrupção do Divino no humano. 
3.      Conhecer e acolher Jesus é entrar em um novo modo de vida.                               
                        Um dicionário de carne
              No dia de Natal temos três missas diferentes: uma à noite em que celebramos o nascimento de Jesus, outra na manhã lembrando os pastores e outra durante o dia celebrando o Verbo de Deus encarnado. Essa tradição vem dos usos do Papa em Roma que celebrava em três comunidades diferentes.
              Estamos diante do mistério de um Deus que nasce entre os animais, numa gruta, em Belém, cidade originária da família de Davi. Estavam ali para o recenseamento. Ali oficialmente está colocado na lista dos cidadãos do mundo. O imperador quis contar todos os cidadãos da terra.
              No evangelho de S. João esse Menino é o Verbo Eterno de Deus nascido do Pai antes de todos os séculos. Ele é um com o Pai. Com Ele é o Criador. Esse Filho se encarnou e habitou entre nós, não como um passageiro, mas como participantes de nossa vida e nossas atividades.
              “Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens”.  Essa luz que brilhou foi recusada, pois as trevas não conseguiram dominá-la.
              O Natal continua vivo e presente entre nós, sobretudo quando ouvimos a Palavra de Jesus e assumimos sua vida. Nasceu para dar vida. Assim o Natal pode durar o ano todo.
              Vendo a alegria dos pastores podemos ser para os humilhados um momento de alegria que os conduza também a Belém.

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