quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Progresso espiritual”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA CSsR
846. Crescimento como participação
            A teologia espiritual ensina que o crescimento acontece como um todo nas diversas áreas da pessoa. Ele não pode ser comparado ao progresso quantitativo da sociedade pragmatista. Não se trata de fazer, de ter e de acumular. Mas do profundo ser que se relaciona com o Pai amoroso. Trata-se “da obra da salvação que é dom, purificação redentiva, configuração com Cristo e transformação gloriosa” (F.Ruiz). É o retorno ao Paraíso. Os santos, no correr da História da Salvação, puderam explicar de diversos modos esta realidade: a escada espiritual, as etapas e o dinamismo, a comunhão pessoal, os graus, o castelo interior etc... Todos nós crescemos em Deus. Podemos contemplar como cresceram as figuras do Antigo e Novo Testamento. Temos refletido sobre o crescimento espiritual. Neste ponto, retomo, não se trata de acúmulo de conhecimentos ou de orações, penitências, atos religiosos. Tudo isso é bom e é conseqüência da comunhão que realizamos com Deus. Como ela é divina e não há um modo de se expressar em nossa linguagem humana, os atos de piedade e as ações são um meio pelo qual podemos ter uma vaga idéia do que Deus realiza em nós. Às vezes podem não corresponder e ser só expressão vazia. Por isso vamos procurar compreender essa nossa realidade maior através das categorias de comunhão teologal, coerência moral, solidariedade, equilíbrio psicológico e docilidade de empenho, como nos descrevem os autores da teologia espiritual.
847. Comunhão de fé e coerência
            Na santidade cristã, o mais importante é a qualidade e a autenticidade de união de fé, de amor e de esperança. Como se realiza esta verdade? Procurando ter uma vida como a de Cristo, estando aberto à vontade de Deus, permanecendo unido a ele. É o que todos procuram fazer, mas não sabem explicar com estas palavras. Trata-se de querer ser bom através da oração, caridade, fidelidade e paciência. A fé é a base desta união. Deus se une a nós antes de nós nos unirmos a Ele. Esta vida de fé provoca em nós a coerência moral que nasce de nossa opção por Deus. Conformamos nossa vida ao que acreditamos. Nossas atitudes refletem o que cremos. A moral que vivemos, às vezes com grandes dificuldades, é a expressão da vida de comunhão na fé e no amor com Deus. A fé só é verdadeira quando percebida como uma orientação para o modo de viver. Bendito seja Deus pela beleza de fé de nosso povo e sua fidelidade à Sua Palavra. Viver deste modo é progresso espiritual.
848. Fé em comunhão fraterna
O progresso espiritual está conjugado profundamente com o sentido comunitário. Por que? Somos escolhidos como povo e, viver a fé exige a comunhão com as pessoas. A dimensão fraterna é alimentada pela fé expressa no amor. O povo de Deus buscou uma terra. A terra para o cristão é a comunidade. “Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, eu estou no meio deles” (Mt 18,20). Jesus pede que fiquemos unidos, pois unidos realizaremos o amor (Jo 17,21). O amor fraterno vai às últimas conseqüências como ensina a parábola do bom samaritano (Lc 10,29). A vida de fé no progresso espiritual abre-se à dimensão da docilidade de acolher Jesus, seguí-lo, viver com Ele e como Ele. Abre-se também ao Espírito que impulsiona a levar a graça da salvação a todos. A graça suscita em nós o esforço de viver na liberdade com convicção, criatividade, perseverança e constância, mesmo nas dificuldades. A força é dada a todos. Vencemos a fragilidade com a força da fé.

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