A
teologia espiritual ensina que o crescimento acontece como um todo nas diversas
áreas da pessoa. Ele não pode ser comparado ao progresso quantitativo da
sociedade pragmatista. Não se trata de fazer, de ter e de acumular. Mas do
profundo ser que se relaciona com o Pai amoroso. Trata-se “da obra da salvação
que é dom, purificação redentiva, configuração com Cristo e transformação
gloriosa” (F.Ruiz).
É o retorno ao Paraíso. Os santos, no correr da História da Salvação, puderam
explicar de diversos modos esta realidade: a escada espiritual, as etapas e o
dinamismo, a comunhão pessoal, os graus, o castelo interior etc... Todos nós crescemos
em Deus. Podemos contemplar como cresceram as figuras do Antigo e Novo Testamento.
Temos refletido sobre o crescimento espiritual. Neste ponto, retomo, não se
trata de acúmulo de conhecimentos ou de orações, penitências, atos religiosos.
Tudo isso é bom e é conseqüência da comunhão que realizamos com Deus. Como ela
é divina e não há um modo de se expressar em nossa linguagem humana, os atos de
piedade e as ações são um meio pelo qual podemos ter uma vaga idéia do que Deus
realiza em nós. Às vezes podem não corresponder e ser só expressão vazia. Por
isso vamos procurar compreender essa nossa realidade maior através das
categorias de comunhão teologal, coerência moral, solidariedade, equilíbrio
psicológico e docilidade de empenho, como nos descrevem os autores da teologia
espiritual.
847. Comunhão de fé e coerência
Na
santidade cristã, o mais importante é a qualidade e a autenticidade de união de
fé, de amor e de esperança. Como se realiza esta verdade? Procurando ter uma
vida como a de Cristo, estando aberto à vontade de Deus, permanecendo unido a
ele. É o que todos procuram fazer, mas não sabem explicar com estas palavras.
Trata-se de querer ser bom através da oração, caridade, fidelidade e paciência.
A fé é a base desta união. Deus se une a nós antes de nós nos unirmos a Ele.
Esta vida de fé provoca em nós a coerência moral que nasce de nossa opção por
Deus. Conformamos nossa vida ao que acreditamos. Nossas atitudes refletem o que
cremos. A moral que vivemos, às vezes com grandes dificuldades, é a expressão
da vida de comunhão na fé e no amor com Deus. A fé só é verdadeira quando
percebida como uma orientação para o modo de viver. Bendito seja Deus pela
beleza de fé de nosso povo e sua fidelidade à Sua Palavra. Viver deste modo é
progresso espiritual.
848. Fé em comunhão fraterna
O progresso
espiritual está conjugado profundamente com o sentido comunitário. Por que?
Somos escolhidos como povo e, viver a fé exige a comunhão com as pessoas. A
dimensão fraterna é alimentada pela fé expressa no amor. O povo de Deus buscou
uma terra. A terra para o cristão é a comunidade. “Onde dois ou três estão
reunidos em meu nome, eu estou no meio deles” (Mt 18,20). Jesus pede que fiquemos unidos,
pois unidos realizaremos o amor (Jo 17,21). O amor fraterno vai às últimas conseqüências como
ensina a parábola do bom samaritano (Lc 10,29). A vida de fé no progresso espiritual abre-se à
dimensão da docilidade de acolher Jesus, seguí-lo, viver com Ele e como Ele.
Abre-se também ao Espírito que impulsiona a levar a graça da salvação a todos.
A graça suscita em nós o esforço de viver na liberdade com convicção,
criatividade, perseverança e constância, mesmo nas dificuldades. A força é dada
a todos. Vencemos a fragilidade com a força da fé.
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