PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
1717. Acolhendo
um vivo
Os discípulos,
no domingo da ressurreição de Jesus ficaram desesperados porque o corpo
desaparecera do túmulo. Madalena clamava ao suposto jardineiro: “Se foste tu que
O levaste, dize-me onde O puseste e eu irei buscar” (Jo
20,14-15).
Esta mulher simboliza todos os que fazem de Jesus um célebre defunto ao qual se
elevam monumentos, narra-se sua história, criam-se ritos e culto. Dizemos que foi
o fundador de uma religião e temos até relíquias preciosas de sua passagem pela
terra. Jesus está ali junto dela, vivo, e não foi percebido. É Ele mesmo que
está ali e continua seu diálogo, agora numa dimensão de ressuscitado, sem
deixar de ser o mesmo. É o Vivente. O primeiro momento da vivência da fé em
Jesus Salvador é tê-Lo como vivo. Ele mesmo diz no Apocalipse: “Eu sou o
Vivente” (Ap 1,18). Aqui se estabelece um modo
diferente de relacionamento. Dos mortos temos a lembrança e a saudade. Quanto a
Cristo, temos uma presença diferente. “Se morremos com Ele, com Ele viveremos” (2Tm
2,11).
Os discípulos tiveram a consciência dessa presença a ponto de dizer: “Nós que
comemos e bebemos com Ele depois da Ressurreição” (At
10,41).
Essa frase quer dizer que viveram com Ele normalmente. Lemos também em João, na
cena da pesca milagrosa: “Nenhum discípulo precisava perguntar: ‘Quem és Tu?’
porque sabia que era o Senhor” (Jo 21,12). A vivência da
Ressurreição é ter um relacionamento com um Vivo que se manifesta de modo
diferente, mas é Ele. Ele está sempre presente. “Felizes os que não viram e
creram” (Jo,20,29). É bom ter como garantido que a
visão da fé é mais segura que a aparição que pode ser uma questão humana.
1718. Gestos que
revelam.
Para podermos
compreender a condição de Jesus depois da Ressurreição, temos que nos lembrar
da Encarnação: Jesus era totalmente homem, sem transparecer nada de sua
divindade, pois “não considerou o ser igual a Deus como algo a se apegar
ciosamente” (Fl 2,6). Não fazia de conta que era
homem. As pessoas foram reconhecendo sua divindade a partir das obras que
realizava em favor dos necessitados: “Se não faço as obras de meu Pai, não credes
em mim. Mas se as faço, mesmo que não acrediteis em mim, crede nas obras, a fim
de conhecerdes e conhecerdes sempre mais que o Pai está em mim e eu no Pai” (Jo
10,37-38).
Crer na Ressurreição é fazer as obras de Jesus. Não basta a fé, mas são
necessárias as obras da caridade. Trata-se da fé agindo na caridade” (Gl
5,6).
Igualmente os sacramentos são anunciadores do Ressuscitado e sua presença entre
nós. Os antigos escritores ensinavam que o que estava visível em Cristo quando
vivia entre nós, agora é visível nos sacramentos. Por eles entramos em contato
com o Cristo em sua ação redentora.
1719. Direcionamento
da vida
O que fazemos tem uma
direção: nossa condição de ressuscitados com Cristo. Por isso lemos as palavras de Paulo na missa
da Páscoa: “Se, pois, ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto,
onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas do alto, e não
nas da terra” (Cl
3,1-2). Houve uma ressurreição no sacramento do
Batismo. O novo modo de vida tem uma dimensão que atinge a gloriosa presença de
Cristo junto ao Pai. É lá nossa habitação natural, pois estamos unidos a Ele.
Paulo escreve: “Minha vida presente na carne eu a vivo pela fé no Filho de Deus,
que me amou e se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2,20). O
que realizamos tem como conteúdo a vida nova que nos foi dada. Ela é o modelo e
o estímulo de tudo o que fizermos. Assim pensamos a espiritualidade da
Ressurreição.
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