segunda-feira, 18 de abril de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Espiritualidade da Ressurreição”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
1717. Acolhendo um vivo
            Os discípulos, no domingo da ressurreição de Jesus ficaram desesperados porque o corpo desaparecera do túmulo. Madalena clamava ao suposto jardineiro: “Se foste tu que O levaste, dize-me onde O puseste e eu irei buscar” (Jo 20,14-15). Esta mulher simboliza todos os que fazem de Jesus um célebre defunto ao qual se elevam monumentos, narra-se sua história, criam-se ritos e culto. Dizemos que foi o fundador de uma religião e temos até relíquias preciosas de sua passagem pela terra. Jesus está ali junto dela, vivo, e não foi percebido. É Ele mesmo que está ali e continua seu diálogo, agora numa dimensão de ressuscitado, sem deixar de ser o mesmo. É o Vivente. O primeiro momento da vivência da fé em Jesus Salvador é tê-Lo como vivo. Ele mesmo diz no Apocalipse: “Eu sou o Vivente” (Ap 1,18). Aqui se estabelece um modo diferente de relacionamento. Dos mortos temos a lembrança e a saudade. Quanto a Cristo, temos uma presença diferente. “Se morremos com Ele, com Ele viveremos” (2Tm 2,11). Os discípulos tiveram a consciência dessa presença a ponto de dizer: “Nós que comemos e bebemos com Ele depois da Ressurreição” (At 10,41). Essa frase quer dizer que viveram com Ele normalmente. Lemos também em João, na cena da pesca milagrosa: “Nenhum discípulo precisava perguntar: ‘Quem és Tu?’ porque sabia que era o Senhor” (Jo 21,12). A vivência da Ressurreição é ter um relacionamento com um Vivo que se manifesta de modo diferente, mas é Ele. Ele está sempre presente. “Felizes os que não viram e creram” (Jo,20,29). É bom ter como garantido que a visão da fé é mais segura que a aparição que pode ser uma questão humana.
1718. Gestos que revelam.
            Para podermos compreender a condição de Jesus depois da Ressurreição, temos que nos lembrar da Encarnação: Jesus era totalmente homem, sem transparecer nada de sua divindade, pois “não considerou o ser igual a Deus como algo a se apegar ciosamente” (Fl 2,6). Não fazia de conta que era homem. As pessoas foram reconhecendo sua divindade a partir das obras que realizava em favor dos necessitados: “Se não faço as obras de meu Pai, não credes em mim. Mas se as faço, mesmo que não acrediteis em mim, crede nas obras, a fim de conhecerdes e conhecerdes sempre mais que o Pai está em mim e eu no Pai” (Jo 10,37-38). Crer na Ressurreição é fazer as obras de Jesus. Não basta a fé, mas são necessárias as obras da caridade. Trata-se da fé agindo na caridade” (Gl 5,6). Igualmente os sacramentos são anunciadores do Ressuscitado e sua presença entre nós. Os antigos escritores ensinavam que o que estava visível em Cristo quando vivia entre nós, agora é visível nos sacramentos. Por eles entramos em contato com o Cristo em sua ação redentora.
1719. Direcionamento da vida
            O que fazemos tem uma direção: nossa condição de ressuscitados com Cristo.  Por isso lemos as palavras de Paulo na missa da Páscoa: “Se, pois, ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas do alto, e não nas da terra” (Cl 3,1-2). Houve uma ressurreição no sacramento do Batismo. O novo modo de vida tem uma dimensão que atinge a gloriosa presença de Cristo junto ao Pai. É lá nossa habitação natural, pois estamos unidos a Ele. Paulo escreve: “Minha vida presente na carne eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2,20). O que realizamos tem como conteúdo a vida nova que nos foi dada. Ela é o modelo e o estímulo de tudo o que fizermos. Assim pensamos a espiritualidade da Ressurreição.

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