PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
613. Saber
economizar
Parece
um contra-senso falar de generosidade, como refletimos, e falar de poupança. Sabemos
que a caridade não tem limites. O grande limite do amor é o justo limite que é
saber possuir para amar mais e melhor. O amor nunca é demais. A grande poupança
é virtude quando o fazemos para socorrer as necessidades alheias. O mal do avaro
é a incapacidade de ver o limite dos bens. O limite é a dimensão divina do que
existe. Tudo é para todos, como Deus é para todos. Não existe alguém que tenha
um pedaço de Deus. Nós o temos em totalidade. Partimos
da natureza: Deus criou o mundo, como lemos no primeiro capítulo do Gênesis e
deu ao homem. Assim reza o texto: “Dou-vos toda planta... Serão vosso
alimento”. O mesmo disse dos animais (Gn 1,29-30).
Diz ao homem: “Sede fecundos e multiplicai-os, enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28). A palavra “submeter”, em hebraico,
tem o sentido de pisar com o pé. Não está dizendo que o homem é absoluto dono.
O que se quer proclamar é que ao homem foi dado o cuidado de fazer a terra
crescer. Por outro lado a Escritura diz que estes bens não são “deuses”. Neste
sentido é superior. Ao falar em poupança, buscamos o justo equilíbrio entre o
ser humano e natureza. O homem não pode usar os bens da terra em prejuízo de si
mesmo. Aqui se refere ao aspecto ecológico de preservação. A matéria prima deve
ser protegida para que o mundo não se torne um deserto vazio. Os que virão
depois de nós têm o direito de ter uma terra bela e feliz. A ganância dos
“donos do mundo” é acabar com o que existe em proveito próprio. Em pequena
escala, todos temos responsabilidades. A poupança dos bens da natureza é uma
virtude a ser cultivada. É uma filha do amor e tem que ser vivida em termos de
globalização. Resguardar o mundo do mal da ganância é fazê-lo o paraíso que
Deus confiou ao homem para cultivar, não transformar em “espinhos e capoeira” (Gn 3,18). O pecado está em destruir o que é de
todos. Poupar o que é de todos é virtude que salva o mundo. O problema da
preservação da natureza é também religioso O consumismo é uma cultura de morte.
614. Sabedoria
da poupança
Fazer
economia não é somente uma questão financeira, mas envolve toda a vida da
pessoa, por isso é também espiritual. Trata-se de uma virtude, isto é, energia
de Deus em nós. Ela nos orienta no uso dos bens. Não economizamos porque vamos
precisar amanhã, mas porque outros viverão a partir de nós. É isso que Jesus chama de ser ricos para Deus (Gn 12,28). Uma riqueza acumulada com a exploração
da sede de ter sempre mais, provocada pela mídia é um mal para a humanidade. A
mídia provoca o desejo exacerbado das novidades e comodidades e acumula para
poucos e a população vive em carências inúteis e se endivida, como vemos. Um
dos remédios para o consumismo é ter uso moderado dos bens de consumo em vista
do bem maior que nos trará contentamento: “Não é a abundância dos bens
terrenos, mas a qualidade de seu uso que contribui para nossa felicidade”.
615. Grandeza
do multiplica
“O homem que poupa, que se empenha
com todas as suas energias no bem da comunidade e de todos os que necessitam de
ajuda, participa inteiramente da alegria que procura para os outros. A
experiência de semelhante satisfação comunitária alarga ainda mais a sua
generosidade e leva-o a descobrir, com espanto que pode ainda renunciar a
muitas mais coisas, já que isso se converte em fonte de alegria participada” (Pe. Häring). Se pouparmos para ter, seremos
ricos. Se pouparmos para ser, seremos felizes. Jesus era rico e se fez pobre
par anos enriquecer com sua pobreza (2Cor 8,9).
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