Vamos
refletir sobre a virtude da gratidão. A gratidão é uma virtude necessária para
a sobrevivência humana. Sem ela somos pobres e cortamos as fontes da riqueza e
da vida. É o amor que acolhe e nos enriquece. A consciência do dom recebido
abre-nos à riqueza maior que é Deus e à riqueza que são as pessoas. Por isso
dizemos: ‘Quem agradece, pede’. Pedir não significa esmolar, mas entrar em
diálogo. A gratidão nos faz ricos, pois nos abre aos dons. O avaro e o ingrato
têm riquezas, mas vivem em seu isolamento. É curioso que alguns podem dizer: ‘Por
que vou ajudar os outros? Tudo o que tenho foi conquistado a custa de muito
suor’. Seria verdade se nós tivéssemos feito o ar, o sol, a terra, todas as
belezas do mundo, as outras pessoas etc... Vivemos num mar de dons que nos
enriquecem a cada instante. Cada respiração é um ato de agradecimento a quem
nos deu o ar e a capacidade de respirar. Agradecer não é só uma questão de
educação. Vi povos que são agradecidos pela própria cultura. Outros são
insensíveis. O que gera esta atitude é a capacidade de amar ou o egoísmo de
pensar só em si. Na realidade, o que falta é a fé na bondade de Deus e em sua
benevolência para com todos. Deus sempre nos supera em generosidade. Agradecer
é reconhecer esta bondade divina que se manifesta no mundo criado e nas pessoas
que nos servem. Quando se diz que o homem e a mulher são os reis da criação,
não podemos entender somente que estão acima dos animais, mas que são objeto de
contínuo benefício e estão a serviço das outras pessoas. Todos se servem
mutuamente.
Tudo
é dom
A
gratidão abre-nos, na inteligência espiritual, à dimensão maior da vida e à
percepção que tudo é dom. Jesus coloca sua própria vida como serviço à
humanidade: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, e
para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc
10,45). E disse na Última Ceia: “Se compreenderdes isto e o praticardes,
felizes sereis” (Jo 13,17). A própria
Vida, Morte e Ressurreição de Jesus, seu Mistério Pascal, são um serviço à
humanidade, serviço no qual Ele próprio é o Dom. Deus é o dom fundamental que
penetra todos os dons que somos e fazemos aos outros. Esse dom é graça, é fonte
de energia e nos remete à fonte do Amor. A Deus podemos somente agradecer,
jamais pagar. Ao outros, podemos “pagar”, mas, jamais pagamos o dom. Por isso
agradecemos. Tudo o que nos fazem, mesmo bem pago, jamais paga a vida com que
foi feito e o amor que está no dom. Quando trabalhei na Angola, admirava-me ao
ver que as pessoas recebiam o que lhes dávamos, fosse um garfo ou outro objeto,
com as mãos em concha, como se fosse um presente. Tudo que fazemos é em
primeiro lugar um dom.
Agradecer
com o altar
Jesus, ao instituir o Sacramento da Eucaristia, na Ceia, quis que fosse um momento de
nos reunirmos para agradecer a Deus pelos dons da Redenção. A Missa é uma
oferta de agradecimento. Rezamos: “E nós vos agradecemos porque nos tornastes
dignos de estar aqui, na vossa presença e vos servir” (Prece Eucarística). A
vida se torna Eucarística, não tanto porque estamos unidos à Eucaristia e
rezamos diante do Ssmo. Sacramento, mas porque continuamos o agradecimento a
Deus e às pessoas no correr do dia. A gratidão torna-se um método de vida:
agradecemos os dons da vida e os acumulamos na memória agradecida. É preciso
contemplar o passado e agradecer. O agradecimento se torna uma cura das chagas
do passado, pois recolhemos o que foi bom e lançamos os males no mar do amor de
Deus que nos cura.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/
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