Na
leitura do texto de Samuel temos uma orientação para a celebração de hoje: ver
como Deus vê. Deus disse a Samuel: “Não olhes para sua aparência nem para sua
grande estatura. Não julgo segundo os critérios do homem: O homem vê as aparências,
mas o Senhor olha o coração” (1Sm 16,7). Jesus, ao abrir os olhos ao cego de nascença, sem
que ele o pedisse, indica que, ver com os olhos de Deus é dom da fé. Passamos a
ter os critérios de Deus para ver, não somente para enxergar. Ver no sentido de
contemplar Deus e a salvação de Jesus. Jesus abre os olhos a um cego. Era a
festa dos Tabernáculos na qual se celebrava a entrega da Lei de Deus a Moisés.
Jesus é a nova lei. Ele envia o cego a lavar-se na piscina de Siloé que significa
enviado. Pelo batismo o catecúmeno
lava-se em Cristo, o Enviado de Deus. Na dinâmica litúrgica do ano A,
continuamos a temática batismal. Nesse domingo os catecúmenos são chamados de “iluminados”.
Participam da Luz de Cristo. Por isso lemos o evangelho da cura do cego de
nascença. Nunca viu a luz. O milagre quer mostrar a passagem das trevas
completas para a luz completa. “Éreis trevas e agora sois luz no Senhor” (Ef 5,8). Paulo diz
que a luz se manifesta através de obras da Luz. A quem é batizado, é dito:
“Desperta tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo
resplandecerá” (14).
O barro feito com saliva que Jesus passa nos olhos do cego, simboliza dar vida.
Na criação do homem Deus dá vida soprando sobre barro. O homem vive de Deus que
lhe dá a vida. Jesus manda o cego lavar-se. O batismo lava. O batizado vive em
Deus que é Luz; Jesus diz: “Eu sou a luz do mundo”. Toda cegueira clama por
luz. A cegueira do mal e do pecado clama por luz que liberte. Jesus é a luz que
se oferece. Depois do ato de fé, o cristão vive na Luz. Este milagre, mais que
cura, é um sinal da Glória Divina.
O Senhor é meu Pastor
Jesus
é a luz do mundo que, “pelo mistério da Encarnação, conduziu à luz da fé a
humanidade que caminhava nas trevas” (prefácio). O sentido do salmo 21, usando a imagem do pastor, se
realiza em Jesus que conduzirá às águas do Batismo. Neste rito são lavados os
olhos para ver como Deus vê. O ato de fé abre os olhos. O Batismo nos introduz
neste “campo” do bom Pastor, isto é, a Vida Eterna. O fundamental do texto é
mostrar que Jesus é o Filho de Deus. A resposta de quem tem o novo olhar é
dizer: “Eu creio, Senhor” (Jo
9,38). A escolha de quem é chamado à fé é feita por Deus. Não temos
mérito, como Davi. Davi é ungido com o óleo. A unção do cego é com a saliva,
mais preciosa que o óleo, significa que é doado o que há de melhor na pessoa. É
a nova criação, lembrando o gesto de Deus que sopra sobre o homem feito do
barro para que tenha vida (Gn
2,7). Jesus põe saliva sobre os olhos do cego para que, sendo lavado,
receba a visão plena com o ato de fé. O barro simboliza a fragilidade que é
transformada que é elevada à participação da Luz que é Jesus.
A festa que se aproxima
Na perspectiva da festa da Páscoa
temos a temática da alegria da salvação que se aproxima: “Iluminai nossos
corações com o esplendor de vossa graça” (Pós-Comunhão). Ser iluminado é a condição do
cristão. Renovar-se é aplicar nos olhos da fé a Água Viva do Batismo, como
fazemos na renovação das promessas. Celebrando a Ressurreição do Senhor,
preparados pela Quaresma, podemos renovar nossa fé na Páscoa e dizer: “Eu
creio, Senhor!” Neste domingo, chamado da alegria da Páscoa que se aproxima, podemos
abrir nossos olhos e ver as maravilhas que Deus fez por nós em Jesus enviado
por Ele.
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