Maria Bertila Boscardin, batizada simplesmente com o nome de Ana, foi beatificada em 1952 por Pio XII e canonizada por João XXIII em 1961.
Ao beatificar Irmã Maria Bertila, em 1952, o papa Pio XII disse: “É uma humilde camponesa”. Sim, uma simples camponesa, que sem êxtases, milagres ou grandes feitos, provou que a santidade é feita de atitudes diárias de união com Nosso Senhor e sua Mãe Santíssima. Vivendo na pureza e na fé profunda, a graça divina se manifestou nela e é um exemplo do que esta graça pode fazer em cada um de nós, se formos fieis a Deus e aos seus Mandamentos.
Era a mais velha de três filhos duma família de pobres lavradores que habitavam em Brendola, na província de Vicenza, na Itália. Nascida em Outubro de 1888, instruída pela mãe, cuja doçura devia compensar a violência do marido, aliás bom homem.
Aninha gostava de rezar muito tempo de joelhos diante dum quadro de Nossa Senhora que se encontrava dependurado na cozinha. Isto desde a idade dos cinco anos.
Ajudava a mãe nos cuidados da casa e o pai nos trabalhos do campo.
Sendo tão piedosa, conseguiu, coisa não fácil nessa altura, fazer a primeira comunhão com a idade de nove anos.
Aos treze, fez voto de castidade. Muito tímida, com inteligência lenta e fraca memória, era chamada na aldeia a ignorante e a pata, mas ela não se ofendia. E estava sempre cheia de boa vontade.
Quando manifestou ao pároco o desejo secreto de entrar na vida religiosa, este respondeu-lhe: “Aninha, tu não serves para nada. Quaisquer religiosas não saberiam que fazer duma aldeã ignorante como tu és”. Ela afastou-se, muito desgostosa. Mas o padre surpreendeu o olhar entristecido da rapariga, arrependeu-se da sua recusa e no dia seguinte, de manhã, chamou-a.
A 8 de Abril de 1905, Aninha saiu da casa paterna para entrar nas religiosas de Santa Doroteia. Tomou entre elas o nome de Maria Bertila.
Sã e robusta, foram-lhe entregues os trabalhos mais custosos, o forno e a lavanderia. Fez o segundo ano de noviciado no hospital de Treviso. A Superiora Geral destinava-a para o cargo de enfermeira. Mas a superiora do hospital, Irmã Margarida, pensou diferentemente: que esperar de bom dessa noviça tímida, com rosto pastoso e inexpressivo? Pô-la na cozinha como ajudante de uma freira idosa e enferma, encarregada de a vigiar e formar.
A 8 de Dezembro de 1907, foi a profissão solene da jovem religiosa, com a presença dos pais na casa-mãe de Vicenza. A Superiora geral decidiu pela segunda vez que ela seria enfermeira e mandou-a de novo para o hospital de Treviso. “Tu de novo aqui! exclamou ao vê-Ia a Irmã Margarida. Preciso de enfermeiras para a cirurgia e para as doenças contagiosas, e mandam-me gente desta!” E a boa religiosa voltou às suas panelas.
No dia seguinte, por falta de pessoal, foi preciso colocá-la na seção de crianças atacadas de difteria. Como por encanto, a sua imperícia desapareceu. Dum momento para o outro, manifestou-se enfermeira inteligente e hábil. Impunha respeito e inspirava confiança. Embora não tivesse em seu favor senão três anos de escola primária, preparou exames que superou com brilho.
A primeira guerra mundial forneceu à Irmã Bertila outras ocasiões para se dedicar como enfermeira aos soldados feridos. Mas foi preciso sair de Treviso, que se encontrava na frente das operações militares. Muito teve de sofrer nessa altura, devido à incompreensão duma nova superiora. Mas aceitou esta prova como as precedentes.
A estas humilhações juntou-se o cansaço dum velar contínuo. A saúde ressentiu-se. Tinha apenas vinte e dois anos de idade quando, além de enfrentar a doença no próximo, teve que enfrentá-la em si mesma: foi operada de um tumor e antes que pudesse recuperar-se totalmente já estava junto de seus doentes. As humilhações pessoais continuavam associadas às dores físicas.
Seu mal se agravou e aos trinta e quatro anos sofreu a segunda cirurgia, mas não resistiu e faleceu no dia 20 de outubro de 1922, no hospital de Treviso, depois de converter, com sua agonia resignada e serena, o médico-chefe do hospital.
E a 11 de Maio de 1961, festa da Ascensão de Nosso Senhor, não chegavam as proporções gigantescas da Basílica de S. Pedro do Vaticano; não chegavam luzes, nem galas, nem cerimônias da liturgia papal, para que João XXIII proclamasse infalivelmente, ao mundo inteiro, a santidade da vida de Sóror Maria Bertila Boscardin, que morreu tão simples como tinha vivido.
Roma falou, a Roma sagrada, e por entre a perturbação que produzem os grandes contrastes, é exaltada uma mulher simplicíssima cuja vida, sem história aparente, decorre numa penumbra humilde. E esta vida sem brilho transforma-se agora numa luz no candelabro, numa tocha que ilumina a verdade de tantas vidas semelhantes à sua.
Ana Boscardin teve a sorte de ter uma mãe extraordinária. Ante a pobreza que sempre rondou o seu lar, ante a ira do marido, ante o mal-estar ambiente, ante as dificuldades de toda a vida, Maria Teresa Benetti cala-se, tem paciência, reza muito, e os filhos vêem tudo isto. Vêem e escutam dos seus lábios palavras sempre suaves, que lhes falam da fé, de Deus, do céu e da paciência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário